VINTE E UM

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  - Tome, segure firme nisso! - Clarence me estendeu uma adaga.

Evitando tremer, segurei o objeto pontiagudo. O cabo era pequeno, dourado e com uma pedra azul cravejada no centro. A lâmina prata cintilava até a ponta obviamente afiada para matar. Só de olhar desconfiava que poderia cortar um osso com aquilo.

- Está com medo? - perguntou, com um sorriso.

- Medo, não. Nervosa, sim.

- Coisa de principiante. Fica mais fácil com o tempo.

É, eu imaginava. Percorremos o caminho até a cidade andando. Como eu sempre tinha visto, as pessoas circulavam aos montes e alegremente. Clare parou algumas vezes para perguntar se haviam visto pessoas estranhas por ali e seguíamos de acordo com as indicações delas. Não chegamos perto da floresta, mas nos afastamos bastante do centro até chegarmos em uma pequena casa de madeira cercada por uma cerca branca e envolta por grama e plantações.

- Uma fazenda - constatei, admirada.

- Ótimo lugar para pessoas que não querem ser vistas. - Clare completou.

E tinha razão, o local era bem isolado. A chance de serem achados seria remota. Mas infelizmente para os forasteiros, não foi difícil para nós. Pulamos o cercado e Clare sacou sua adaga, uma em cada mão. Apertei a minha com força, sabendo que não podia deixar cair.

- Vou entrar e ver se tem alguém, você me espera aqui - ela explicou em voz baixa. Seu cabelo preso feito o meu e a roupa quase idêntica. Observei Clare ir em passos decididos até a casa, sem medo de que a vissem, sem medo de nada.

A perdi de vista quando adentrou pela porta de madeira branca. Olhei ao redor, me certificando de que estava segura, o campo era grande, grande demais para que eu pudesse ter certeza de que estava sozinha. Um tempo em silêncio me deixou preocupada, Clare não retornava e também não tinha nenhum sinal de luta. A casa não poderia ser tão grande para levar tanto tempo para revistar. Engoli a aflição que me percorria e caminhei decidida até ela. Eu tinha uma adaga, era só usar. Empurrei a porta devagar e avaliei o lugar, a sala escura e vazia me deu calafrios. Respirei fundo, para tomar coragem e entrar mais, quando um corpo voou pelo local até bater na parede e quebrar um espelho com um som terrível. Um homem. Seu rosto estava completamente ensanguentado e não fez questão de se levantar do chão. Olhei para a direção que ele tinha vindo e Clarence desfilava até nós, sangue nos punhos e nenhum fio de cabelo fora do lugar.

- Disse para me esperar lá fora!

- Fiquei preocupada.

- Amarre os outros dois no quarto, eu cuido do resto. - mandou, me jogando duas cordas.

- Resto?

A porta dos fundos foi posta à baixo quando o som deixou minha boca, três homens entraram, homens gigantes e um deles tinha uma espada. Clarence os encarou mortalmente e não pestanejou para correr até o homem armado e o atacar. Ela conseguiu desviar de seus golpes com a lâmina e observei, quase vomitando, ela se enfiar entre seus braços, girar, levantar os braços dela e os abaixar, com as lâminas de suas adagas cortando seus pulsos em um golpe certeiro. O homem soltou a espada e gritou, se ajoelhando enquanto segurava os pulsos. Clare, por sua vez, se virou para o próximo com um sorriso de satisfação no rosto.

Enquanto o segundo homem a enfrentou, o terceiro se virou para mim. Tracei minhas opções, as diversas formas de sair correndo.

- Acabe com eles - recitei baixo o que Raence tinha dito para mim. Ele acreditava em mim, então eu tinha que acreditar.

Direcionei meu pior olhar para o homem que vinha até mim e apertei a adaga em minha mão. O tempo pareceu correr devagar, quando ele já estava perto senti a onda de adrenalina, senti o fogo e o calor transbordarem dentro de mim, causando uma avalanche em todo o meu corpo, um pico de energia que me deu confiança para enfrentá-lo. Me senti queimar, podia ouvir meu coração batendo implorando por aquilo, pela luta. Lancei meu punho para frente e para o lado, atingindo sua bochecha esquerda e me tirando do transe. Tudo passou a correr rápido novamente, talvez mais que o normal. De alguma forma, consegui antecipar o soco que ele iria armar e segurei seu punho, projetando o máximo de calor possível, me forçando a acender de tal forma que me fez arder. Me senti fervente e o homem berrou, puxando sua mão para longe do meu toque. Minha pele chegava a quase doer tão forte era a chama que me corrompia. Ainda assim, ele não parecia desistir. Agarrou algo em sua frente; um vaso de flores e jogou-o contra mim. Atingiu-me em cheio na cabeça, me deixando desorientada.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora