EPÍLOGO

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CALION

- Eu prometo! - declarei, forçando minhas cordas vocais.

O metal pesou em minha cabeça, apertei as mãos em punho atrás das costas. Apenas com os olhos, acompanhei a espécie de cajado encostar em meu ombro, depois no outro e, então, o cerimonialista o estendeu para mim.

Envolvi os dedos no ouro frio, a pedra negra cintilando em sua ponta arredondada.

- Hoje Winslov saúda seu novo rei - o velho corcunda berrou, virando para a assembléia a nossa frente. - Vida longa ao Rei Calion de Winslov!

Assisti, com o rosto duro cada um naquela sala berrar a mesma frase. Cada um ali seria responsabilidade minha, além deles, os que estavam fora. Cada formação rochosa de Winslov seria responsabilidade minha. Cada ser, cada atitude. Tudo dependeria de mim.

As pessoas se levantaram, me deram as costas para sair do salão e foi nessa hora que mirei a minha mão em torno do ouro maciço, limpo, brilhante, puro. As mãos do meu pai não foram dignas. Ninguém merecia um rei covarde que se escondeu nas montanhas para assistir a maior batalha que travamos em anos enquanto seus soldados morriam nela. Não, ele não era digno daquele cajado, daquela coroa ou daquele reino.

Mas eu também não era. Minha mão parecia limpa, mas não estava. Ainda podia vê-la banhada de sangue.

Eu também não era digno, mas era a única opção.

Em um piscar de olhos, por causa da covardia do meu pai, tudo aquilo pesou sobre os meus ombros. Toda a liberdade foi tirada mim.

Quando quase todos já estavam fora, deixei o cajado em cima do altar, me desfazendo da túnica preta e toda a pompa que a coroação exigia. Fitei a pintura de meu pai na parede, sabendo a primeira ordem que daria como rei: queimar aquilo.

Atrás da grande porta, um baile ostensivo me esperava, a música retumbando por todos os corredores. As pessoas já dançavam, comiam e bebiam em comemoração e aproveitei a distração de todos para me esgueirar pelas beiradas do salão, sendo parado por um ou por outro, para chegar até os túneis do calabouço.

- Achei que essa festa era para você, majestade!

A voz odiosa de Raence me fez parar. Maldito detalhista. Me virei em sua direção, adiando minha descida por pouco tempo.

O rei de Sindra me encarava com um sorriso preguiçoso no rosto.

- É, imagino que seja mesmo. Pode aproveitá-la por mim.

- Sabe que é indelicado sair quando você é o homenageado.

- Está falando como ela.

Um riso baixo se fez audível atrás do corpo largo dele e uma mão pequena e brilhosa se apoiou em seu braço. Rose se colocou ao lado de Raence, passando seu braço pelo dele, vestindo seus costumeiros vestidos dourados.

Exibida.

- Fico feliz que ainda lembre de mim, Calion.

Levei as duas mãos às costas, apertadas em punhos, me abaixando minimamente para uma saudação, que ela retribuiu.

- Se souber a fórmula para esquecer, por favor me conte.

Ela sorriu.

- Será o primeiro a saber.

- O que vai fazer? - Raence finalmente perguntou.

Olhei para a multidão, meus órgãos se revirando só de pensar em estar ali.

- Fazer algo útil, já que agora, provavelmente, não vou conseguir procurar o maldito irmão de Jaxin pessoalmente.

- Acredita que ele existe, então?!

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora