TRINTA E UM

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  - Estamos há um bom tempo pesquisando mais sobre o território deles - Clare explicou, abrindo os mapas de Valicent e Miriath na grande mesa à nossa frente. - Conhecer nossos inimigos é crucial.

- Pretendem atacar? - perguntei.

- Não agora, mas quem sabe se um dia iremos precisar.

Assenti e me inclinei para conseguir ter uma visão mais ampla. A cada dia eu achava ainda mais absurdo eu não ter nenhuma noção do que era o reino onde eu cresci. Havia uma praia em Valicent. Uma praia. E eu sequer fazia ideia.

- Sabe - comecei -, eu realmente espero que muitas pessoas não saiam machucadas. Seria um pesadelo ser a causa de um massacre.

- Ninguém gostaria disso. Nem mesmo seu pai.

Suspirei, apoiando as mãos na madeira da mesa e deixando a cabeça tombar. Só estávamos nós duas ali, eu não precisava manter a postura.

- É horrível dizer, mas temo que contanto que não sejam os soldados dele e o povo dele, ele não se importe com quem morre e quem vive. E ainda assim, tendo em vista o descaso com a minha gente, talvez ele sequer ligue para a quantidade de súditos que não vão conseguir passar por uma guerra.

- Conseguiu mesmo viver mais de vinte anos sem reparar no quanto ele era ruim?

Seus quadris apoiaram na quina da mesa quando ela cruzou os braços para me encarar.

- Por incrível que pareça, sim, nunca percebi nada. Achava que ele queria me proteger ao não me deixar sair. E quando Jaxin forçou suas investidas e meu pai agiu como se não fosse nada, percebi que ele nunca quis me proteger de nada. Eu sempre fui apenas uma carta em sua manga, para ele usar no melhor momento.

- Jaxin se forçou contra você?

- Mas não chegou longe - expliquei. - Consegui escapar.

Sua mão, fechada em punho, esmurrou a mesa, como se pudesse imaginar o próprio príncipe ali.

- Principezinho maldito! - praguejou. - Não sei como estou surpresa, ninguém em Miriath presta. Todos lá só querem saber de devassidão, bebidas e fortunas. Aquilo é um antro, dê glória aos deuses por não ter se casado com ele, sequer imagina o que eles fazem com as mulheres lá!

- Pelo seu tom posso ver que é algo impensável.

- Espero que nunca tenha que ver com seus próprios olhos.

Duas batidas na porta da biblioteca nos levou de volta à realidade. A maçaneta girou e após empurrá-la, Mazen colocou metade do seu corpo para dentro.

- Temos notícias de Calion - avisou. - Raence está nos esperando na sala de reuniões para ler a carta.

Olhei para Clare, um pouco afoita, animada com a ideia de descobrir mais sobre aquele assunto. Pigarreei tentando conter a animosidade e acenei para o general.

- Então vamos, o que estamos esperando?

Sem perder mais tempo, seguimos os três até onde Raence estava à nossa espera.

- É uma surpresa que ele tenha mandado avisarem primeiro a mim e não a você - ele disse a mim. - Sabe, depois do que eu vi aquele dia, achei que vocês...

- Ele sabe que você é mais rápido para passar informações, Mazen - provoquei.

- Ah, disso não restam dúvidas! - Clare se juntou a mim.

Mazen ergueu as sobrancelhas para nós duas.

- Iriam chorar se não fosse eu para contar as coisas. São duas ingratas!

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora