Pedi a Nya que avisasse que eu estava indisposta e fiquei o dia inteiro dentro do quarto. Peguei alguns livros da biblioteca e consegui ler dois deles. História sobre o meu reino. Eu já havia lido, sim, mas não havia mal nenhum em ler de novo. Quando terminei, senti que faltava alguma coisa. Como se eu não tivesse encontrado o que queria. Percebi, então, que estava procurando uma falha, algo de ruim que não existia. Odiei Raence por aquilo.
Nya já havia me ajudado a me preparar para dormir, só que eu estava sem sono. Pelo contrário, estava elétrica, quase angustiada. A noite caira, a lua brilhava em direção a janela do meu quarto quando decidi que não conseguiria dormir.
Levantei devagar e abri a porta com cuidado para não ranger. Todos já estavam recolhidos em seus quartos. Segui até a escada de minha torre, descalça e vestida com uma camisola de cetim. Subi nas pontas dos dedos e acendi apenas um lampião para afastar o breu, o apoiei em cima do piano e me sentei.
Corri os dedos pelas teclas, com várias melodias passando pela cabeça, mas não queria tocar nada daquilo. Nada da melodia monótona e angustiante do meu reino. Fechei os olhos e guiei a música pela forma como o meu coração estava batendo, pela forma que os tremores leves percorriam o meu corpo.
- Tenho certeza que essa música não é daqui. - A voz atrás de mim me assustou. Raence.
Me virei rapidamente, o tampo quase caindo sobre minhas mãos. O rei riu minimamente. Estava escorado no batente da porta, vestido informalmente como sempre e os cabelos escuros desajeitados. De repente, percebi o quanto aquilo era inapropriado. Era noite e estávamos sozinhos, com roupas de dormir em uma torre isolada.
- O que está fazendo aqui? - perguntei.
- Segui seu cheiro.
Mais uma vez ele zombava de mim. Queria realmente saber como ele havia descoberto minha saída, mas ele não iria me contar.
- Por favor, vá embora!
Um sorriso maldoso ocupou seu rosto e ele se aproximou, apoiando o quadril no piano a minha frente.
- Toque para mim.
Pelo olhar que me lançava e pelo tom odioso de sua voz, percebi que ele malditamente não falava do piano, por mais que desse a entender que sim. Minha respiração pesou e projetei o queixo quando me levantei, tentando parecer maior diante dele. Ultrajada; era como me sentia. Seus olhos desceram pelo meu vestido, brilhando e focando em pontos específicos descaradamente.
- Você é um porco! Bárbaro!
- Do que está falando, Rose? - sorriu como um menino de dez anos. - Apenas pedi que tocasse.
- Não ouse dirigir a palavra a mim nunca mais! Não chegue perto de mim! Volte para o seu maldito reino e trate dessa forma os idiotas que te veneram!
Seus olhos ficaram ainda mais negros. O rosto pouco iluminado pela chama do lampião pareceu ficar menos ainda quando deu alguns passos em minha direção. Não recuei, era uma princesa, não deixaria que ele pensasse ter algum domínio sobre mim.
- Não fale dos meus - disse com a voz baixa, mas não menos rude. - Olhe primeiro no espelho antes de abrir a boca para falar asneiras de quem não conhece.
- Afaste-se!
- Se prepare, princesa. O jogo acabou de começar.
Observei de cabeça erguida Raence dar a volta e passar por mim, seus passos na escada ecoando por toda a torre. Suspirei e voltei a me sentar. Não iria aguentar. Não sabia por quanto tempo ele planejava ficar, mas precisava ir embora rápido.
(...)
- Você irá participar do torneio em nosso nome - meu pai falou a Jaxin no jantar.
- Torneio? - questionei.
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O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]
RomanceO quanto uma vida de mentiras pode nos tornar vingativos? O mundo fora dividido em cinco reinos, que viviam em paz - na medida do possível. Mas a ganância e o egoísmo podem destruir isso. Uma guerra está por vir. Um dos reis cobiça algo valioso de o...