Os dedos de Raence se estreitaram ao redor da minha cintura, relutando em me soltar, porém, mantendo sua expressão vazia. Fitei seus olhos escuros com firmeza, esperando que ele entendesse a mensagem silenciosa.
O rei me soltou a contragosto. Antes de sair, lançou um olhar ameaçador ao meu pai. Aceitei o favor e deixei que me guiasse para a próxima dança.
- Ao menos desse ensinamento você não se esqueceu - provocou, se referindo a dança.
- Lembro-me muito bem de seus ensinamentos, só escolhi não segui-los mais.
Seus olhos se estreitaram.
- É redundante dizer, mas estou muito decepcionado - confessou. - Olhe para você, está vulgar, sequer se dá ao respeito de prender os cabelos ou usar um vestido decente. Isso sem falar da clara afronta às normas mais antigas usando um traje dourado. - Suspirou. - Eles estragaram você.
- Não, eles apenas me mostraram que eu não sou uma boneca e que não pode me tratar como tal.
Meu pai se inclinou, alcançando meu ouvido.
- Preferia que fosse uma boneca do que um deles, dessa forma não teria que matá-la.
Me afastei apenas o suficiente para encarar seus olhos, ignorando os tremores e arrepios que me percorreram. Ele não iria me intimidar. Ergui o queixo, exalando o maior ar de desdém que podia.
- Eu quero ver você tentar - desafiei.
Suas sobrancelhas se ergueram, surpreso com o meu tom. Quando seu rosto ficou vazio, frio, mórbido e seus olhos não mudaram em nada, soube que aquele sempre tinha sido ele. Seus olhos sempre expressaram maldade e egoísmo e orgulho e eu tinha sido cega demais para enxergar.
- Tudo bem, se você realmente prefere assim. Minha consciência está tranquila, eu tentei te trazer de volta.
- Só me terá de volta morta!
- Que assim seja, querida.
Raence estava ao meu lado assim que a última nota do violino soou, mais rápido do que eu poderia prever, segurando meu braço e me deixando colada em seu corpo, pondo distância entre mim e o rei.
- Já pode ir - declarou, expulsando educadamente o homem. - Você não é mais necessário aqui, se é que um dia já foi.
Os olhos de meu pai se apertaram, mas, sem revidar, ele saiu em direção a Jaxin, que o esperava do outro lado do salão com as íris esmeraldas cravadas em mim. Pensei na possibilidade de lhe lançar calor, não o bastante para matá-lo, mas o suficiente para deixá-lo desconfortável.
Larguei a linha de pensamento quando fui puxada para o canto oposto e o contato visual fora quebrado.
- Não deve ter nem duas horas que estamos aqui e já estou cheia dessas pessoas - Clare reclamou e fui obrigada a concordar.
- Só a presença deles me faz mal. - Suspirei, meu corpo estremeceu com o arrepio gelado que me abateu.
- O que acha de dar uma volta? - Raence perguntou, acariciando minha mão discretamente.
- Não temos que ficar aqui?
- Já lhe disse que não temos que fazer nada. O que você quer?
- Vão - Mazen concordou. - Nós cuidamos aqui.
Clare tinha um sorriso esticado no rosto e os olhos negros do rei me olhavam em expectativa. Sorri e acenei, concordando. Ele sequer se preocupou em sair despercebido, desfilou pelo meio do salão de mãos entrelaçadas comigo. Ergui o queixo e ignorei majestosamente todos os olhares sobre nós.
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O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]
RomanceO quanto uma vida de mentiras pode nos tornar vingativos? O mundo fora dividido em cinco reinos, que viviam em paz - na medida do possível. Mas a ganância e o egoísmo podem destruir isso. Uma guerra está por vir. Um dos reis cobiça algo valioso de o...