CINQUENTA E UM

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  Sob os meus joelhos, a terra tremeu. Provavelmente havia sido apenas coisas da minha cabeça, mas, para mim, o ronco foi alto e claro no momento exato em que meu pai fincou seus pés no chão. Os arrepios frios e afiados que percorriam meu corpo nada tinham a ver com medo, apenas com a água gelada que ainda me paralisava, que afogava a energia fervorosa dentro de mim.

Meu pai deu um passo em minha direção, mais outro e outro até estar à minha frente. Ele se abaixou, sustentando o peso nas pontas dos pés e apoiando um dos braços nos joelhos, o outro foi até meu cabelo, prendendo os fios rebeldes atrás das orelhas.

- No que você se tornou?! - murmurou, decepcionado.

Virei a cabeça, abrindo e fechando a boca em direção ao seu pulso. Só não o mordi porque ele foi rápido o suficiente para se esquivar. Então, bufou ao levantar e passar as mãos no cabelo.

- Deveria ser fácil, sabe?! - rosnou. - Eu deveria conseguir te matar agora depois de tudo o que fez, de tudo o que tramou contra mim mesmo quando eu sempre te dei tudo, sua ingrata!

- Tudo? - me esforcei para falar, para superar meu interior negro e vazio. - Você me trancafiou por anos! Me usou como uma boneca a minha vida inteira. Quando você me deu tudo?

- Você sempre teve uma vida boa, graças a mim. Passou anos trancada? Eu diria que passou anos imaculada, sem contato com nenhum tipo de problema e tristeza. Como ousa reclamar?

- A que custo? O que custou a você me manter a salvo? Ao nosso povo? Você deveria protegê-los!

- Eu deveria proteger você!

- E é por isso que você não pode ser rei!

Os cabelos estavam grandes, grisalhos e quebradiços. As bolsas escuras ao redor de seus olhos me diziam que ele estava exausto. No entanto, era tudo culpa dele. Ele não era digno da minha pena depois de ter matado Clarence, depois de insistir em um casamento com uma pessoa como Jaxin.

Como se pudesse ler meus pensamentos, meu pai chamou o príncipe, que caminhou despreocupadamente até nós.

- Você terá que fazer isso - bradou, me dando as costas.

Jaxin abriu um sorriso satisfeito, nojento. Empunhou uma adaga que estava presa em sua coxa e se aproximou. E eu me senti como há tantos meses antes. Indefesa e fraca. Tudo o que eu era, ajoelhada no chão diante deles, tinha sido levado, apagado junto com a minha energia. A promessa que fiz a mim mesma de nunca mais me sentir assim, de que ele seria o amedrontado na próxima vez, se esvaiu como poeira em um vendaval.

O príncipe vinha, pronto para me matar. Provavelmente orgulhoso por dar fim no que o rejeitou. Todo o poder, confiança e habilidade que eu tinha adquirido havia sumido. Eu era aquela boneca de novo, esperando de boa vontade eles fazerem o que quisessem. Clare estaria decepcionada. Todos eles estariam. Tanto trabalho, tanto esforço para nada.

Um assobio chamou atenção dos presentes, a coruja branca sobrevoando nossas cabeças, os olhos azuis fixos em mim, me lembrando que eu tinha feito tanta coisa, me superado tantas vezes para morrer ali, submissa a eles novamente.

- Você é fraco - acusei meu pai. - Não consegue fazer o que é necessário.

Eu consegui me aquecer mesmo quando estava afundando em um lago congelado. Não tinha tido ajuda, fiz aquilo sozinha, saí sozinha. Qual seria a diferença ali? Eu tinha que conseguir, a outra opção era impensável.

- Você não conseguiu fazer o que era necessário! Se casasse com ele do jeito que eu tinha dito, teríamos dinheiro o suficiente para estabilizar o reino e o povo não passaria mais fome. Você foi fraca e rebelde, tudo o que eu não te criei para ser.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora