NOVE

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 Não podia dizer que eu sabia realmente a direção que caminhava. Desorientada, eu apenas tentava colocar o máximo de distância entre o príncipe e eu. Meus saltos saíram de meus pés em algum momento, pois sentia o gelado do chão contra a pele de minha sola. O vento frio empurrava o meu corpo na direção oposta a que eu queria seguir, estava tão gelado quanto a terra do chão, mas eu não sentia frio. O sangue ainda corria quente nas minhas veias e me aquecia.

Quando passei pela porta do palácio, me senti acolhida. Em casa. Sabia que ali o mal não me atingiria e me senti mal por aquilo, pensando no tanto de gente que sofria para que eu pudesse me sentir de tal forma.

- Princesa? - um dos guardas arregalou os olhos ao me ver, assustado. - Pelos deuses...

De repente três deles me alcançaram. O mais alto shiou quando tocou meu braço, sacudiu a mão e me olhou estranho.

- Meu pai - suspirei. - Onde está o rei?

Os três trocaram olhares. O que tinha tocado em mim, indicou o caminho com a mão, outro passou a minha frente e eu o segui, com os dois restantes em minhas costas. Na sala do trono quase me deixei chorar, senti o ar voltar aos meus pulmões, o calor que fervia meu sangue esfriou ao ver meu pai, que arregalou os olhos quando entrei e se levantou. Acelerei o passo em sua direção e o abracei. Podia ser o que fosse, ainda era meu pai e me protegeria. Ele forçou a garganta e se afastou.

- O que houve? O que aconteceu com suas roupas? Como pode andar assim pelo palácio?

- O príncipe... ele tentou me forçar...

- Rosealyn! - Ele me interrompeu, olhando ao redor. - Não estamos a sós, cuidado com o que fala! Pelos deuses, vá colocar um vestido decente!

Franzi o cenho, sem entender sua atitude. Eu lhe falava algo sério e ele estava preocupado com meu vestido?

- Mas ele realmente iria...

- Já lhe disse para parar de falar!

- Pai - o chamei por um título que deveria lembrá-lo de minha posição em sua vida. - O senhor não fará nada?

- Fazer o que, Rosealyn? Bani-lo? Matá-lo? O filho, o herdeiro de um reino aliado?

- Sou sua filha!

- É uma princesa! Deve ser...

- Resiliente e compreensiva e calma? - completei por ele. - Jura? Me fará casar com ele também?

Recuei diante de seu silêncio. Não podia acreditar que ele ainda pensava em aceitar isso, em me submeter a isso depois do que - tentei - lhe contar. O que ganharíamos de tão importante que valia a minha vida. Não consegui controlar uma lágrima que escorreu, lentamente avançou por minha bochecha e caiu no chão à minha frente. Mirei aquele ponto molhado no piso, os dois últimos dias se reprisando em minha mente. Meu pai não era a pessoa que eu achei que fosse, em nenhuma das áreas de sua vida. Era um péssimo rei e um péssimo pai. Não me protegeria de nada, me jogaria aos lobos porque... porque era egoísta. Não queria vencer a guerra pelo nosso reino, já que se realmente se importasse, nada estaria como estava. Queria vencer a guerra por si mesmo. Uma guerra que eu sequer sabia o motivo.

Lembrei de Raence comentar algo sobre um objeto de querer de meu pai que só ele conhecia o paradeiro. Raence. Um rei inimigo declarado de meu pai. Talvez... não, ir procurar abrigo em sua corte seria loucura.

- Não fale isso para mais ninguém - a voz seca de meu pai me tirou de meus pensamentos. - Conversarei com Jaxin.

Não consegui falar nada, sequer consegui acenar. Ele iria conversar com um homem que tentara violar-me? Mal conseguia acreditar em suas palavras. Olhando para o chão, me sentindo pequena, segui para fora da sala e em direção ao meu quarto. Meus olhos queimavam e meus pensamentos eram apenas borrões. Tudo parou no momento em que abri a porta e um pedaço de papel rasgado me esperava no chão do meu quarto. Me abaixei para pegar e percebi que minhas mãos tremiam.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora