Adrenalina pura. O som insistente em meus ouvidos eram apenas as batidas do meu coração, mais rápidas do que jamais foram. Um pé após o outro, passos pequenos e fortes. O vento soprou em meu rosto e senti que poderia ser carregada. Estava leve, me sentia flutuando.
O portão se aproximava. A melodia lenta se tornava mais alta, disputando com o barulho volumoso e incessante dentro de mim, furioso. Eu era inabalável, nós éramos. O chão do grande castelo violeta tremeu quando o alcançamos, como uma força e uma luz sinistra, chamamos toda a atenção das pessoas do baile. Choque, incredulidade, até mesmo terror eram os sentimentos que eu via nos rostos à minha frente, iluminados pelo reflexo dourado do meu vestido.
Raence tinha aquele sorriso viperino, que tanto detestei um dia, enfeitando seu rosto. Conhecendo os outros como eu conhecia, não precisei olhar para trás para saber que tinham a mesma expressão. Assim como eu, mesmo que inconscientemente. Tê-los ali me dava ainda mais segurança, mais força. Éramos capazes de qualquer coisa.
Quando os corpos se afastaram, um a um, um caminho se abriu até o trono roxo e brilhoso na ponta do grande salão. O rei nos encarava com o mesmo espanto de sua corte, me encarava. Sentado sem nenhuma postura, o cabelo loiro quase branco cintilava.
Fui a primeira a avançar em sua direção, ignorando sua tentativa de nos intimidar. Gostava dos olhares que me acompanhavam, gostava da surpresa neles, faziam meu corpo queimar.
- Devo ficar chateado por não ter sido convidado? - Raence questionou, quando estávamos a uns cinco passos do rei.
- Imagino o motivo de tal festa - complementei, estreitando os olhos para o homem. - Deve ser algo muito importante.
- O que só nos irrita ainda mais pela ausência do convite - Clare continuou, encarando a própria unha.
O rei riu, levantando-se devagar, exibindo as roupas violetas.
- Nunca imaginei que fosse do tipo emotivo, Raence - provocou. Sua atenção se voltou para mim. - Pergunto-me se deveria elogiar seu vestido.
- Não preciso do seu elogio.
- Claro que não, já que sabe que isso não é permitido. Pela audácia, deixe-me adivinhar: Rosealyn?
- Fico feliz que minha fama tenha chegado até aqui.
Seus dentes eram claros e alinhados quando ele sorriu, nada gentil.
- Talvez não devesse.
- Acho que vai do ponto de vista.
Ele percorreu os olhos por nós quatro e Jerich um pouco mais afastado. Levou as mãos para trás das costas e encarou Raence.
- Para que trouxe a cavalaria?
- Qual a finalidade deste baile, Seliun? - Raence ignorou sua pergunta.
- Sabe que gosto de receber meus convidados muito bem - foi sua resposta.
- Não sabia que viríamos hoje! - desmenti.
O frio dos seus olhos cinzas constrastaram com os meus.
- Não me lembro de ter falado sobre vocês!
Todos os olhares que estavam em cima de nós, saíram de repente, atraídos para o outro lado do salão. Seliun sorriu quando encarou o que todos olharam. Mazen foi o primeiro de nós a se virar para saber o que estava acontecendo. Clare também foi levada pela curiosidade e eu fui guiada por Raence.
Meu joelhos tremeram, mas não me permiti vacilar. Não ali, não na frente dele. Apertei os dentes. A raiva se tornando combustível para as células que entravam em combustão no meu corpo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]
RomanceO quanto uma vida de mentiras pode nos tornar vingativos? O mundo fora dividido em cinco reinos, que viviam em paz - na medida do possível. Mas a ganância e o egoísmo podem destruir isso. Uma guerra está por vir. Um dos reis cobiça algo valioso de o...