QUARENTA E DOIS

479 49 7
                                    

 O cheiro era forte ali, algo como mofo e suor, não muito agradável. A estrutura de madeira me surpreendeu, visto que era bem em cima de uma montanha íngreme, mas todas as paredes foram erguidas desse material. Pessoas circulavam, passando por nós como se não fossemos nada. Seguimos Liriana por alguns corredores até uma pequena sala com algumas estantes com poucos livros. A líder pegou três deles e colocou sobre a escrivaninha que havia ali, mas não sentou-se na cadeira única.

- Não deve ser tão luxuoso quanto o que estão acostumados - comentou. -, mas deixamos para investir em coisas mais importantes, como treinamento.

Abriu, um a um, os livros nas páginas que queria e sinalizou para que nos aproximássemos. Nomes e mais nomes estavam escritos ali, com cada idade disposta ao lado, um elemento e um risco nos quais não tinham o elemento listado.

- Conseguimos esse caderno em uma das invasões que fizemos. Eles anotaram cada pessoa que foi levada, cada uma que foi morta. É prova o bastante para vocês?

Olhei para Clare, que tinha o rosto sem expressão aparente. Raence tinha os braços cruzados sob o peito e a testa franzida. De alguma forma eu sabia que eles acreditavam nela, apesar das feições duras e antipáticas.

- E os outros dois livros? - perguntei.

- Mapas, anotações sobre quem sabia desse sistema e seus líderes, informações e cartas dos nossos informantes lá dentro.

Ela estendeu um com a capa marrom e eu folheei rapidamente, confirmando o que ela disse. Suspirei, dando-o a Raence que fez o mesmo.

- Acreditamos em você, mas não consigo me ver lutando ao lado de alguém que mente para mim.

- Eu não menti!

- Disse que não era uma ameaça a nós!

- E não sou! - rebateu. - Não somos.

- E mesmo assim nos drogou e drenou nossa energia. Isso não vai funcionar se não for completamente honesta!

Foi sua vez de suspirar.

- Eu prometo ser honesta.

- Sua promessa não vale nada para mim - Raence disparou as palavras como adagas afiadas.

Suas unhas bateram contra a madeira da escrivaninha em um gesto impaciente. Liriana fitou o chão, mordendo o lábio inferior.

- Não há nada que eu possa fazer que mude o que já fiz - começou -, mas podemos começar de novo. Vocês não têm nenhuma garantia sobre mim e não vão ter, mas sabem que não têm o apoio de Seliun, sou a única opção que lhes resta.

- Pode nos dar licença? - pedi. - Apenas uns minutos.

Liriana assentiu, se retirou da sala fechando a porta atrás de si.

- Não! - Raence negou, como se soubesse o que se passava na minha cabeça.

- Se formos práticos, sabemos que ela tem razão. Seliun não parece gostar de nós, está claramente inclinado ao meu pai. Se entrarmos nessa com dois reinos contra três, vamos perder.

- Uma aliança precisa ser firme, para sabermos que a pessoa faria o possível para nos salvar em uma situação de risco. Não dá para lutar ao lado de alguém em que não confiamos e eu não confio nela para me proteger ou a nenhum de nós. - ele estava irredutível.

- Não temos outra opção! E sinceramente? Acho que podemos confiar nela, seus meios talvez não sejam os melhores, mas seu objetivo é o mesmo que o nosso e não acho que ela nos prejudicaria

- Não posso deixar sua vida, de todos vocês, dependerem de um risco.

Fechei as mãos em punhos, sua teimosia fazia meu sangue ferver. Não sabia mais o que falar para convencê-lo, o que fazer. Olhei para Clare, clamando por sua opinião, sabendo que poderia ser a última chance. As unhas pintadas de vermelho faziam pequenos furos em sua pele conforme ela apertava o próprio braço repetidas vezes.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora