TRINTA E DOIS

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  Eu estava perdida. Dividida para ser mais exata. A parte orgulhosa de mim implorava para voltar para Valicent, seja lá o que aquilo significasse. E a minha parte racional gritava que aquilo era insensato. Eu sabia que era, afinal, o que eu iria fazer? Invadir o castelo? Seria presa no mesmo momento.

Mas por outro lado...

Ficar ali iria me sufocar, me esmagar. Depois da conversa com Raence, depois de ter tudo jogado, ou melhor, cuspido na minha cara, eu não podia engolir o orgulho e ficar. Talvez se isso acontecesse alguns momentos antes na minha vida, eu ficaria, eu suportaria como suportei tanta coisa. Mas naquele momento... eu já não sabia mais se era capaz.

A dúvida era uma adaga cravada na minha costela. Me impedia de respirar, de agir.

- Rose? - me virei, reconhecendo Mazen pelo cabelo quase branco que se destacava na penumbra da noite. - O que está fazendo aqui fora?

Apertei os dedos no parapeito da varanda e fechei os olhos. O frio da noite era impiedoso e eu não tinha me importado em vestir uma capa. Minha pele se arrepiava a cada golpe.

- Pensando - sibilei.

Não saberia dizer se fora alto o suficiente para que ele ouvisse.

- Sobre sua discussão com Raence? - questionou, se apoiando ao meu lado.

- Claro que você sabe. - Ele sorriu. - Mas, sim, é nisso que estou pensando.

Me surpreendi quando ele não falou nada, apenas encarou o horizonte à nossa frente. Pisquei diversas vezes para afastar as lágrimas, não iria me permitir chorar por algo tão bobo. Puxei o ar profundamente, tentando preencher o vazio que se abria em mim.

- Qual é a sua história, Mazen? Já sei a de todo mundo, menos a sua. Devo admitir que estou curiosa.

- E depois eu sou o bisbilhoteiro - ironizou e passou as mãos pelos fios claros e longos de seu cabelo. - Não há nada de muito interessante na minha vida, não andei pelo fogo e sobrevivi.

Bufei. Não queria lembrar de Raence quando lhe fiz a pergunta.

- Mas certamente teve que fazer algo.

- O que você teve que fazer, majestade? - frizou o tratamento formal, lembrando a forma que falei com Jerich.

Meneei os ombros, ele sabia tudo o que eu tinha tido que fazer. Claro que ele sabia, era o Mazen. Mas entendi seu ponto, não era algo fácil de explicar, não era confortável. Os outros podiam estar mais confortáveis com o passado do que ele. Só me restava respeitar.

- O que você tem para pensar sobre esse assunto?

- Se eu te contar, você vai correr para contar ao seu amigo? - ergui uma sobrancelha em sua direção.

- Assim você me ofende - reclamou e levou a mão ao peito. - Você também é minha amiga. Se não quiser que eu conte, eu não conto.

Era no mínimo curioso a forma que eu sentia que podia confiar nele, mesmo sabendo de seu histórico ao passar as informações.

- Não sei se posso continuar aqui, Mazen - confessei, sentindo o peso daquelas palavras. Ele me olhou, a surpresa estampada em seu rosto. - Não depois do que aconteceu. E justamente porque ele está certo, eu não tenho e nunca tive nenhum direito aqui.

O ouvi suspirar.

- Você segurou as pontas quando fizeram aquilo com ele. Não durou muito, graças a você. Pode não ter direito a reclamar nada por aqui, mas moralmente falando, você tem direito, sim. - neguei com a cabeça, não adiantava que apenas ele pensasse assim. - Levo a honra muito a sério, Rose. E não que eu ache que isso é uma possibilidade, mas caso haja algum problema sobre o que você pode ou não fazer, saiba que, depois de tudo o que fez por nós, estou do seu lado.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora