QUARENTA E OITO

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  O jantar foi silencioso, a angústia pairava sobre nós como uma besta à espreita. Eu tinha um nó no estômago que quase me impedia de comer, mas minha consciência me fez empurrar o purê para dentro, sabendo que poderia ser a última refeição decente antes de partirmos.

Eu mal conseguia olhar para eles, o medo me abraçava como um velho amigo e não queria que eles soubessem daquilo. Quando terminamos de comer, Raence sugeriu que ficássemos um pouco no salão de estar. Havia ido poucas vezes até lá, mas gostava da paz que o ambiente puro trazia. Nos sentamos nos grandes sofás azuis cobertos por uma aconchegante capa de veludo, haviam três destes, mas Mazen preferiu sentar-se na poltrona do mesmo estilo dos sofás e posicionada um pouco mais no canto.

A lareira foi acesa e eu me concentrei nas chamas crescentes que crepitavam ali, avaliando os quadros dispostos nas paredes depois e, em seguida, as grandes cortinas azuis e o lustre dourado enorme pendendo sobre nossas cabeças. Qualquer coisa, qualquer lado exceto os olhos dos dois homens.

- Para alguém que me disse que não precisava ter medo, você está me parecendo bem nervosa - Raence provocou, um sorriso ladino estampando o rosto sem exibir os dentes.

Engoli em seco.

- Não estou nervosa. - Mazen gargalhou, levando a mão ao peito e jogando a cabeça para trás. Meu queixo caiu diante de sua reação. - Não estou!

- Não convence nem a si mesma - o general afirmou.

Suspirei, deixando as mãos descansarem em meu colo. Os olhos semicerrados de Raence me analisavam, seu braço jogado por cima do encosto do sofá, permitindo-lhe ficar meio virado em minha direção. Completamente desleixado.

- Podemos só não falar sobre isso? - pedi, forçando a voz para que não quebrasse. - Já teremos que pensar muito em tragédias amanhã.

- Certo - Mazen concordou. Raence não parou de me encarar. - Vão marcar o casamento depois da batalha?

Sua frase me fez engasgar com absolutamente nada. Virei o rosto em sua direção, assustada, apenas para vê-lo com as mãos unidas e os cotovelos em cima do braço da poltrona, um sorriso infantil lançado em nossa direção.

- A curiosidade matou o gato, Mazen - Raence respondeu com humor.

O sorriso do general aumentou ainda mais.

- Obrigado, eu sei, vou ter cuidado, querido.

Contorci os lábios, evitando rir quando o rei franziu as sobrancelhas para ele, revirando os olhos em seguida.

- Seu pai não era tão enxerido quanto você, não sei de onde puxou isso.

- Seu pai também trabalhava aqui? - perguntei, curiosa.

Raence bufou, como se eu tivesse cometido meu maior erro e o peito de Mazen estufou quando ele sorriu.

- Meu pai era o melhor soldado do reino inteiro, talvez dos cinco reinos.

- Menos - o rei implorou, balançando a cabeça em desgosto. Mazen o ignorou.

- Meu pai salvou a vida desse garoto um zilhão de vezes. E por causa dele nos conhecemos.

- Nos conhecemos porque você sempre entrava aqui escondido para fuxicar!

Foi a vez de Mazen estreitar os olhos e começar uma discussão sobre o passado. Suspirei, aliviada pelo clima mais leve. Quando dei por mim, minha mão estava entrelaçada na de Raence enquanto assistíamos Mazen palestrar sobre a sua importância e de seu pai na vida do rei. Achei que ele nunca iria parar de falar, e talvez não parasse se o pagem não irrompesse pela porta.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora