VINTE

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  - A melhor forma de não demonstrar fraqueza é não tendo fraqueza. - Clarence discursava na minha frente.

- Como alguém pode não ter fraqueza?

- Se você se garantir, não terá. Tem que saber que está pronta para lidar com tudo o que te ameaçar. Viver no trono é ser constantemente ameaçada, confrontada e desafiada. Ainda mais sendo mulher. Se demonstrar medo, insegurança, qualquer sinal de vulnerabilidade eles atacam. Você tem que ser o lobo, tem que andar como um, falar como um e até olhar como um. Não sabe o poder que tem em um olhar.

- Sim, eu imagino.

- Quer ser uma rainha? Então se porte como uma. Você ainda parece uma garotinha assustada

- É, bem, ainda não terminei o treinamento. Não sei lutar, não sei usar minha energia para nada que não seja me livrar do frio, então não vejo como posso me garantir em alguma coisa, Clare!

- Essa é a questão. Você não precisa saber, precisa parecer que sabe. Rose, muitas vezes você não vai estar bem, vai estar cheia de problemas em cima das suas costas e vai precisar fingir que não tem nenhum. Aí está o segredo: para ser uma governante você tem que ser uma atriz muito boa. A maior das mentirosas. Você consegue?

Se eu conseguia agir como se o mundo não estivesse se destruindo? Bem, provavelmente, não, mas teria que aprender. Talvez fosse aquilo que Raence fazia, explicaria sua expressão neutra o tempo inteiro. Para mim era um absurdo ter de fingir em sua própria corte, afinal, só deveria estar nela aqueles em quem confiávamos. Pelo visto eu sempre estive muito errada sobre o mundo.

- Consigo - afirmei.

Primeiro passo dado com êxito. Clare sorriu de lado, um sorriso maldoso, mas muito encorajador. A adrenalina correu por minhas veias feito louca, ela era a imagem do poder, do perigo e aquilo me deixava animada. Como se eu fosse capaz de qualquer coisa. Como se eu fosse tão poderosa quanto ela.

- De pé, vossa majestade. Vamos treiná-la!

Respirei fundo e me levantei. Ela me rodeou, analisando cada parte de meu corpo, os olhos críticos. De repente, ela se aproximou mais e ergueu meu queixo com dois dedos, usou a outra mão para me fazer pôr os ombros mais para trás e se afastou de novo.

- Olhe para mim como se eu tivesse assassinado toda a sua família na sua frente, cortado a garganta de cada um que você ama. Olhe para os outros como se não fossem nada mais que uma barata!

Concentrei toda a minha raiva e a encarei. Clare revirou os olhos.

- Não quero ver uma criança chateada porque roubei sua bala. Quero uma rainha manipuladora, forte, arrogante e com o poder de matar qualquer um. Vamos lá, Rose, você faz melhor que isso!

Fechei os olhos, eu podia ser uma rainha manipuladora. Eu podia matar qualquer um. Eu podia. Eu era forte e determinada, eu tinha matado uma onça selvagem, eu tinha sobrevivido a dias sem comer, vagando perdida. Eu podia ser aquela pessoa. Joguei todos os sentimentos para dentro de uma caixinha e voltei a abrir os olhos, erguendo uma sobrancelha na direção dela. Clare inclinou a cabeça e suspirou.

- Está bom para um começo, mas vai precisar aprimorar isso! - Assenti. - Agora ande.

- O que?

- Já reparou como eu ando? Como Raence anda? Você tem que pisar com força, parece bobo, mas faz toda a diferença. Olhar sempre para a frente, nunca para o chão, um pé após o outro, tem que saber com exatidão onde você está pisando e como. Você tem que passar segurança em cada movimento, Rose. Em cada respiração. Se você suspirar sequer, já irão prestar atenção e será o bastante para te acharem fraca. Então, ande!

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora