VINTE E DOIS

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  Na manhã seguinte, me levaram direto até o campo de treino, ignorando as aulas com Clarence na biblioteca. Durante o caminho até o campo, fui me perguntando o que ela estaria fazendo para que não tivéssemos nossa aula. Por sorte, percebi que Mazen provavelmente saberia, então não perdi tempo para chegar até ele.

- Bom dia, general. - cumprimentei, sorrindo simpática.

- Bom dia.

- Por que adiantaram nosso treino?

- Clarence está ocupada.

- Com o que?

Mazen me analisou de cima a baixo, os cabelos loiros quase brancos bem presos em um rabo de cavalo e o peito estufado. Ele era um retrato de guerreiro. O queixo quadrado e os traços fortes lhe deixavam com uma postura intimidante que contrastava com sua personalidade acolhedora. Meu coração saltou quando ele empunhou sua espada e apontou diretamente para o meu pescoço.

- Clare me disse que você apanhou na luta corporal, mas aguentou bem. Achei que estávamos progredindo.

- Estamos. Caso contrário eu não teria acertado sequer um soco.

- O que acha de um acordo?

- Que tipo de acordo?

- Se conseguir me acertar um soco, apenas um, eu te levo até Clare.

Avaliei a lâmina prateada diante de mim, sua ponta quase pressionada em minha garganta. Depois voltei aos olhos dele, desafiadores, duvidosos. Não precisava de muito mais para tomar minha decisão, já a tinha na ponta da língua.

- Pensei que ela estivesse ocupada.

- E está, mas nada impede que a veja.

- Só quero saber o que ela está fazendo.

- Vai saber quando ver.

Mazen tinha uma forma estranha de me treinar, assim como Raence, ele gostava de me provocar, me desafiar, me colocar à prova. E eu sempre caía feito um patinho em suas jogadas, sabendo exatamente onde estava me metendo. Empurrei a lâmina para outra direção, para longe de mim e ignorei a leve ardência do corte que aquilo causara em minha palma. Estendi a mão para ele, para fecharmos o acordo.

- Feito!

Ele não devolveu o cumprimento, em vez disso, levou sua mão direita ao próprio peito e abaixou a cabeça, quase em um juramento. Repeti seu gesto, mas abaixando apenas os olhos, lembrando das dicas de Clare: jamais abaixe a cabeça, em nenhuma circunstância. Mazen jogou a espada para um canto e ficou em posição de defesa. Respirei fundo, tentando lembrar de alguns de seus ensinamentos. Já na posição adequada e com a guarda levantada, analisei meu adversário, buscando seus pontos fracos, brechas em sua defesa, os lugares mais fáceis para atacar.

O sorriso mínimo, mas convencido em seu rosto me irritou. Ele claramente não acreditava que eu fosse conseguir. Dei o primeiro passo, chegando mais perto e armando um golpe com seu estômago de destino. Mazen me bloqueou sem dificuldade, se divertindo ainda mais com aquilo. Tentei mais uma vez, mirando em sua costela e ele se esquivou, empurrando meu braço com a mão aberta. Planejei uma série de ataques rápidos, pensando que seriam mais difíceis para ele se defender, então os coloquei em prática. Um soco baixo, outro em cima, do lado esquerdo e dois no direito, para que ele pensasse achar um padrão e ser pego de surpresa no final. Mas ele parecia ler minha mente, pois conseguiu bloquear todos novamente.

Estava começando a ficar realmente irritada. Já podia sentir meu sangue esquentar. Busquei outras táticas, avaliei não apenas ele, mas ao nosso redor, prestei atenção em cada pedra, cada grama e árvores mais distantes. Meu cérebro orquestrou algumas coisas desonestas demais e embora achasse que funcionariam, me recusei a fazê-las. Uma vez Mazen tinha me dito para usar tudo ao meu favor, todas as coisas que eu pudesse alcançar e pensando naquilo, planejei meu ataque. Andei em sua direção, ameaçando, fazendo-o recuar. Foquei em seus olhos, para não dar nenhuma dica do que planejava. Quando Mazen já estava na posição que eu queria, arrisquei um chute com giro, para colocar mais força e ele se esquivou, chegando para o lado, conforme eu tinha previsto.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora