QUATRO

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 Com um rodopio eu senti um toque quente ultrapassando as camadas do vestido. As mãos agarraram minha cintura com firmeza e eu fiquei cara a cara com Raence. O rei ergueu uma sobrancelha de forma odiosa e tive que me controlar para não deixar o salão de forma abrupta.

Evitei seus olhos, rezando aos deuses para que ele se mantivesse calado. Sem querer, consegui ver para onde ele olhava; meu pai sentado ao trono. Raence lançava um olhar de ódio a ele, um ódio tão puro que me fez tremer. Seu rosto continuava passivo, mas os olhos negros eram como um furacão. Furacão este que logo se virou para mim.

- Perdeu alguma coisa, minha dama? - perguntou com um sorriso de canto, ao me ver o encarando.

Bufei e voltei a olhar para o outro lado. Minha mão pairava sobre seu ombro, mal o tocando, assim como a outra em seu braço. Já as suas estavam cravadas em minha cintura, sem gentileza, enquanto dançávamos.

- Pare de me chamar assim! - repreendi em tom baixo. - Achei que não gostasse da música.

- Não gosto.

Esperei a explicação, mas ela não veio. Ele era um bárbaro. Não sabia o motivo de estar surpresa. O que eu esperava? Uma conversa com ele? Uma conversa educada?

Ele me girou e eu voltei para os braços de meu parceiro inicial. O homem teceu elogios suaves a mim e à decoração do baile. Me esforcei para dar continuidade ao assunto, já que ele tinha se mostrado alguém agradável.

Ao fim do baile, muitos pegaram suas carruagens e foram embora. Mas alguns - incluindo o rei detestável - ficaram no castelo.

Nya me ajudou a tirar o vestido e todos os adereços. Um banho quente já me esperava na suíte de meu quarto e eu não tive pressa para sair da água. Depois, vesti a camisola de seda que ela havia separado para mim e me sentei em frente a penteadeira.

- Nya? - chamei. - O que sabe sobre meu pai e o rei de Sindra?

Ela andou até minhas costas e começou a escovar meus cabelos devagar. Demorou a responder, cheguei a pensar que a pergunta passaria em branco.

- Teve contato com ele?

- O rei? Chegamos a conversar no salão de baile. - Omiti o encontro furtivo no exterior do palácio. - Ele falou sobre algo que o meu pai quer e que só ele sabe onde encontrar. Também não escondeu o ódio que sente por nós. Por que?

- Ele é egoísta - Nya disse, controlada. - Seu pai e Miriath querem arrumar um jeito de trazer prosperidade aos reinos. Sindra se nega a ajudar.

A olhei através do espelho, o maxilar trincado me falava mais sobre o que ela sentia do que a voz pacífica.

- Por que ele está aqui?

Nya meneou os ombros, os olhos castanhos concentrados em meu cabelo.

- É impossível saber as razões deste homem. Só não confie nele, Rose.

Suspirei, concordando com ela. Queria saber mais. Queria que ela me contasse tudo. Mas conhecia Nya o suficiente para saber por sua postura que ela não abriria mais a boca sobre aquele assunto.

(...)

No desjejum, o príncipe se sentou ao meu lado. Alguns convidados pernoitados haviam partido e como o rei não tinha aparecido, estava certa de que ele havia ido embora.

- O baile foi um sucesso, majestade - Jaxin elogiou meu pai.

- Sim, de fato. Embora eu não esperasse algumas presenças.

- É uma honra - ouvi a calmaria traiçoeira da voz de Raence - que esteja falando de mim a esta hora da manhã, Téliso.

O rei de Sindra passou pela grande porta da sala com uma roupa similar à da noite anterior. Uma clara afronta ao meu pai, visto que o tinha ordenado que se vestisse de acordo conosco. Raence tinha a voz calma, como sempre, mas o fiapo de zombaria estava ali e eu o peguei.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora