VINTE E SEIS

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  - Está dizendo que não sabe o que é isso? - pressionei o médico, irritada.

- Nunca vi nada parecido em toda a minha vida - ele admitiu em voz baixa.

Me levantei, soltando a mão de Raence e me aproximando do homem mais velho. Clare apenas cruzou os braços e sorriu, enquanto Mazen se pôs em alerta ao meu lado. A frustração corrompia meu corpo.

- Não pode me dizer isso. Não pode deixá-lo assim, é o seu trabalho! - aumentei o tom.

- Não tenho como tratar o que não conheço - respondeu, bravo.

- Cuidado com a forma que se dirige a mim - ameacei. - No momento não vou hesitar em te jogar no chão frio das masmorras até que apodreça!

O vi engolir em seco e abaixar a cabeça. Com a nova posição que fora jogada em minhas mãos não podia deixar que me subestimassem. Não iria.

- Se eu disser vai parecer loucura... - ele suspirou.

- Não me faça perder tempo. Conte!

- Isso parece... Olhe os olhos dele, a forma que brilham... - com os lábios trêmulos e o rosto contorcido levemente ele continuou: - Parece magia.

Um arrepio frio subiu pela minha espinha. A gargalhada de Clarence ecoou no recinto, caçoando das palavras do médico. Era absurdo, verdade, mas eu não achava impossível. Não depois de ter sentido a energia ruim dentro de mim ao tocá-lo. Aquilo era mal, era obscuro. Certamente não era mesmo uma doença normal.

- Não existe nada parecido, doutor - ela desdenhou.

- Clare... - sibilei, balançando a cabeça. Esperava que ela entendesse. - O que faremos?

- Você deveria nos dizer. - Mazen respondeu, meneando a cabeça.

O médico pediu licença e se retirou. O senti passando atrás de mim levando minha esperança consigo. Encarei Raence, o temor era um nó em minha garganta. Respirei fundo para me concentrar.

- Marque um horário com o conselho - pedi. - Vamos comunicá-los quem está no trono agora!

- É para já - a voz de Clare saiu quase com empolgação.

Antes de segui-la para fora, Mazen colocou a mão em meu ombro como forma de apoio. Lhe lancei um sorriso e os observei sair. Deixei o ar escapar dos meus pulmões, deixei a postura cair com o peso sobre meus ombros. Me aproximei da cama novamente e voltei a segurar sua mão. Divaguei sobre possibilidades, sobre tragédias. Ele podia ficar daquele jeito para sempre.

- Rose? - me chamaram da porta. - Clarence pediu para que você se preparasse.

Aphil me olhava aflita. Aquilo atingiria a todos. Perder um rei, um rei como Raence seria um golpe forte para o reino inteiro.

- Está bem, vamos.

A segui até meu quarto, onde uma banheira com água quente já me esperava. Não me demorei muito no banho, os pensamentos me assolavam quando o silêncio se fazia presente. E nenhum deles era bom.

- Qual vestido quer usar? - Mortri questionou, encarando meu ármario.

Analisei cada um deles. Sabia como a vestimenta influenciava na imagem que passamos. A maioria tinha cores claras, a pedido meu. Foquei nos de cores mais fortes pela primeira vez, principalmente em um. Apontei para o vestido vermelho sangue no canto, espantando as outras três mulheres no quarto.

- Vai mesmo vestir este?

- Vou.

O tecido vermelho liso caia suave sobre minhas pernas, com uma fenda generosa em uma delas, desenhando meu quadril, evidenciando minha cintura. O decote grande deixava minha pele clara contrastando com a cor viva. As mangas começavam abaixo do meu ombro e terminavam antes do cotovelo. Era fino, confortável e ousado. Eu estava praticamente exposta, mas não me importava, não podia me importar mais. Calcei um salto vermelho de bico fino e quando me trouxeram a caixinha de jóias pratas me neguei. Não podia me apresentar como rainha - ainda que provisoriamente - usando um símbolo de menor poder.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora