- Está dizendo que não sabe o que é isso? - pressionei o médico, irritada.
- Nunca vi nada parecido em toda a minha vida - ele admitiu em voz baixa.
Me levantei, soltando a mão de Raence e me aproximando do homem mais velho. Clare apenas cruzou os braços e sorriu, enquanto Mazen se pôs em alerta ao meu lado. A frustração corrompia meu corpo.
- Não pode me dizer isso. Não pode deixá-lo assim, é o seu trabalho! - aumentei o tom.
- Não tenho como tratar o que não conheço - respondeu, bravo.
- Cuidado com a forma que se dirige a mim - ameacei. - No momento não vou hesitar em te jogar no chão frio das masmorras até que apodreça!
O vi engolir em seco e abaixar a cabeça. Com a nova posição que fora jogada em minhas mãos não podia deixar que me subestimassem. Não iria.
- Se eu disser vai parecer loucura... - ele suspirou.
- Não me faça perder tempo. Conte!
- Isso parece... Olhe os olhos dele, a forma que brilham... - com os lábios trêmulos e o rosto contorcido levemente ele continuou: - Parece magia.
Um arrepio frio subiu pela minha espinha. A gargalhada de Clarence ecoou no recinto, caçoando das palavras do médico. Era absurdo, verdade, mas eu não achava impossível. Não depois de ter sentido a energia ruim dentro de mim ao tocá-lo. Aquilo era mal, era obscuro. Certamente não era mesmo uma doença normal.
- Não existe nada parecido, doutor - ela desdenhou.
- Clare... - sibilei, balançando a cabeça. Esperava que ela entendesse. - O que faremos?
- Você deveria nos dizer. - Mazen respondeu, meneando a cabeça.
O médico pediu licença e se retirou. O senti passando atrás de mim levando minha esperança consigo. Encarei Raence, o temor era um nó em minha garganta. Respirei fundo para me concentrar.
- Marque um horário com o conselho - pedi. - Vamos comunicá-los quem está no trono agora!
- É para já - a voz de Clare saiu quase com empolgação.
Antes de segui-la para fora, Mazen colocou a mão em meu ombro como forma de apoio. Lhe lancei um sorriso e os observei sair. Deixei o ar escapar dos meus pulmões, deixei a postura cair com o peso sobre meus ombros. Me aproximei da cama novamente e voltei a segurar sua mão. Divaguei sobre possibilidades, sobre tragédias. Ele podia ficar daquele jeito para sempre.
- Rose? - me chamaram da porta. - Clarence pediu para que você se preparasse.
Aphil me olhava aflita. Aquilo atingiria a todos. Perder um rei, um rei como Raence seria um golpe forte para o reino inteiro.
- Está bem, vamos.
A segui até meu quarto, onde uma banheira com água quente já me esperava. Não me demorei muito no banho, os pensamentos me assolavam quando o silêncio se fazia presente. E nenhum deles era bom.
- Qual vestido quer usar? - Mortri questionou, encarando meu ármario.
Analisei cada um deles. Sabia como a vestimenta influenciava na imagem que passamos. A maioria tinha cores claras, a pedido meu. Foquei nos de cores mais fortes pela primeira vez, principalmente em um. Apontei para o vestido vermelho sangue no canto, espantando as outras três mulheres no quarto.
- Vai mesmo vestir este?
- Vou.
O tecido vermelho liso caia suave sobre minhas pernas, com uma fenda generosa em uma delas, desenhando meu quadril, evidenciando minha cintura. O decote grande deixava minha pele clara contrastando com a cor viva. As mangas começavam abaixo do meu ombro e terminavam antes do cotovelo. Era fino, confortável e ousado. Eu estava praticamente exposta, mas não me importava, não podia me importar mais. Calcei um salto vermelho de bico fino e quando me trouxeram a caixinha de jóias pratas me neguei. Não podia me apresentar como rainha - ainda que provisoriamente - usando um símbolo de menor poder.
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O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]
RomanceO quanto uma vida de mentiras pode nos tornar vingativos? O mundo fora dividido em cinco reinos, que viviam em paz - na medida do possível. Mas a ganância e o egoísmo podem destruir isso. Uma guerra está por vir. Um dos reis cobiça algo valioso de o...