Por um momento foi possível ver apenas o brilho do sol refletindo nas lâminas que se chocavam. Raence atacava com fúria enquanto Jaxin estava em modo de defesa. Não havia espaço para o príncipe atacar, visto que o rei era incansável. Quando pensei que Raence fosse acertar a garganta do adversário, meu pai ficou de pé e gritou.
- Parem! Eu declaro empate!
Não havia nenhum modo em que aquela luta fosse classificada como um empate, mas meu pai estava poupando os seus. Em seguida viria a luta corpo a corpo e pedi aos deuses que Jaxin fosse melhor com o corpo do que era com a espada. Sua honra dependia daquilo.
O príncipe retirou a armadura. Raence ergueu as mangas da camisa. Percebi que as batidas de meu coração aceleravam à medida que eles iam se aproximando no campo. Quando estavam um de frente para o outro, tive que respirar fundo para me acalmar.
Quando o sino tocou, os dois avançaram. Raence foi direto com um soco na garganta e uma rasteira, mas Jaxin conseguiu se manter de pé, se agarrando ao rei. Lançou um golpe com o punho esquerdo fechado bem no queixo de Raence, que o recebeu sem a mínima expressão de dor. Quando Jaxin avançou novamente, Raence foi ao chão, rolou e puxou o pé do príncipe, que acabou com o rosto grudado na grama. De repente o rei estava em pé de novo e chutou a costela de Jaxin quando este tentou se levantar. Eu arquejei. Não havia regras, empatia ou ética naquelas lutas. O oponente podia estar no chão, sem ar, destruído e o outro não precisava parar.
O príncipe se levantou e uma série de ataques se passou. Eu mal conseguia acompanhar, meu estômago estava retorcido, mas vi Raence se esquivar de um golpe e atingir Jaxin na garganta novamente. Enquanto o príncipe tossia, o rei passou um braço por seu pescoço e se virou, segurando Jaxin pela garganta e apoiando o peso do príncipe em suas costas, ele olhou diretamente para nós, para o meu pai, então impulsionou e Jaxin virou uma cambalhota sobre o rei e caiu de costas no chão, gemendo. O impacto foi forte o bastante para que eu conseguisse ouvir o barulho de sua coluna batendo contra o chão.
Raence ostentou um sorriso de vitória, de autoconfiança. Com um golpe daquele, Jaxin estaria com dor o bastante para não ter forças de enfrentar o rei. Ele se virou para deixar o campo. Estava próximo de onde guardaram sua capa quando ficou imóvel. Estático. O lugar todo ficou em silêncio, olhando em sua direção. Jaxin se levantou devagar, o que chamou minha atenção. Um clima tenso se instalou. Percebi as pernas de Raence tremerem, como se não aguentassem seu peso,mas ele não desabou. Não deu um passo, mas continuou de pé.
Jaxin andou lentamente em sua direção e minha respiração acelerou. Eu queria entender o que estava acontecendo. Por quais motivos ele não se mexia.
Com uma respiração profunda - que percebi pelo mover dos ombros -, Raence se virou novamente para nós. A diversão havia saído de seu rosto, apenas raiva e imparcialidade permaneceram.
Foi quando entendi que Jaxin iria atacar. E pensei que Raence não conseguiria se defender. Era errado. Atacar alguém indefeso era absurdamente errado. Fiz menção de levantar, iria intervir. Não sabia por qual motivo Raence não se movia, mas qualquer que fosse, Jaxin não podia golpeá-lo. A luta havia acabado. Ele havia perdido.
Quando apoiei as mãos na cadeira para levantar, meu pai me impediu, colocando sua própria mão em minha frente. O olhei, esperando que acabasse com aquela injustiça, mas ele nada fez.
Voltei a olhar para o campo. Jaxin já havia armado o soco e o punho voou na direção do rosto do rei. Fechei os olhos e um arquejo coletivo me deu a certeza de que Raence havia sucumbido. Então olhei. Apenas para me surpreender com o rei ainda de pé, segurando firme o punho de Jaxin e olhando com as íris negras em chamas para o príncipe. As pernas haviam parado de tremer. Os olhos de meu pai e Protuno estavam arregalados.
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O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]
RomansaO quanto uma vida de mentiras pode nos tornar vingativos? O mundo fora dividido em cinco reinos, que viviam em paz - na medida do possível. Mas a ganância e o egoísmo podem destruir isso. Uma guerra está por vir. Um dos reis cobiça algo valioso de o...