TRINTA E SETE

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É estranho pensar nas proporções que certas decisões teriam. Saber que uma escolha errada pode significar a morte de milhares de pessoas. Ter vidas que dependem de você e do seu bom senso. A responsabilidade é uma forca, que se aperta mais e mais em nossos pescoços conforme os problemas vão aumentando, conforme o chão vai se abrindo. E nos tira o ar, nos deixa em desespero. 

  Ser da corte tinha dessas coisas, o tempo todo sendo enforcado, sendo sobrepujado por problemas seus e de outros, por vezes até desconhecidos. Antes eu jamais imaginaria o peso de saber que o bem estar de todo um povo dependia da minha vida. Quero dizer, caso eu morresse, quais seriam as esperanças do meu povo? Quem seria? 

  E algo como aquela maldita guerra que nos cercava, uma briga entre dois reis que divergem ideias simplesmente iria custar incontáveis vidas, era um fato. 

  O mundo era enorme e cheio de gente, o que nos fazia sentir nada mais que um grão de areia em uma praia. Mas como poderíamos ser tal coisa quando nossas mãos tinham tanto peso? Quando cada palavra, cada opinião poderia fazer cabeças rolarem? Quando a nossa vida parecia significar tanto? 

  E sabendo de tudo aquilo, passei todo o caminho de volta a Sindra nervosa. Porém, como Raence havia dito, ninguém tentou nos atacar. Fomos tranquilos até o castelo, com Mazen seguindo junto aos soldados de novo. Calion, por outro lado, preferiu continuar em Winslov, disse que havia muito a arrancar de Razora ainda. Ninguém ousou contestar, ele era um torturador talentoso, pena que ela parecia não ligar para suas ações. Como se nada daquilo a assustasse.

  Talvez porque tenha passado por algo pior. 

  - Arrume suas coisas - Raence ordenou a Clare, assim que nos encontramos. - Partiremos ainda hoje. 

  Ela apenas revirou os olhos, deixando-o passar ao sair de sua frente. Avancei, com um sorriso estampado e a abracei. A morena ficou surpresa, eu percebi, mas não demorou para retribuir meu gesto. Estava mesmo com saudade dela. 

  - Como foi conviver sozinha com um traidor? - perguntei, baixinho ao seu ouvido. - Imagino que não teve luta. 

  - A única luta que teve foi comigo mesma para não matá-lo. E você com o rei? 

  - Posso dizer o mesmo. 

  - Sentiu minha falta? - Mazen se insinuou, me puxando e tomando a amiga em um abraço.

  - Abraços não são para você, me solte! - ele gargalhou, apertando-a. - Mazen, se não me soltar em três malditos segundos eu juro que… 

  Antes que ela terminasse a ameaça, ele soltou, sabendo que Clare não estava brincando. É, eu tinha sentido saudade. 

  - O que fez por aqui esses dias? - perguntei, seguindo-a pelos corredores azuis iluminados que, de verdade, me fizeram muita, muita falta. 

  - Evitei possíveis ataques protegendo as fronteiras com os outros reinos, então foi muito tranquilo. Graças aos deuses nosso povo não é bárbaro, então, não dão dor de cabeça. 

  Era verdade. Lembrei-me quando assumi o trono e realmente não tive nenhum problema com os cidadãos. Mazen despediu-se para ir ver os cavalos e nos deixou. Entramos em seu quarto e a porta foi fechada atrás de nós. Clare disse às suas criadas para arrumarem a mala e ficou para ajudá-las. Me sentei em uma das cadeiras para esperar.

  - O que conseguiram lá? 

  - Estresse. - respondi. - Ou ela não sabe de nada, ou se recusa a falar mesmo. 

  - Claro que ela sabe e não quer falar - Clare disse como se fosse óbvio. 

  Suspirei, parte de mim achando que ela estava certa. A maior parte.

O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora