Depois de muitas reclamações de Mazen, finalmente conseguimos seguir viagem. O general preferiu andar à cavalo na liderança junto aos soldados. Duas carruagens partiram, uma sendo a qual estávamos sentados e a outra para o transporte de roupas e outros pertences. Não economizamos na proteção, não podíamos correr risco de ter interferências, por isso havia quase o triplo de soldados nos acompanhando.
Raence estava nervoso ainda assim, a todo momento olhando pela janela para se certificar que estávamos seguros.
Vi a noite cair, fomos engolidos pelo breu e ao amanhecer, quando abri os olhos, ele ainda estava observando os arredores, segurando a cortina azul com os dedos para não entrar em sua frente.
- Ei - chamei, pondo a mão em seu ombro, o que o fez me olhar. - Está de manhã, devemos estar seguros. Deve descansar um pouco.
- Estou bem.
- Sei disso, mas deveria dormir um pouco. Prometo que te acordo a qualquer sinal estranho. - insisti.
A relutância era nítida em sua expressão, em seus olhos. Raence sabia que não havia perigo, tínhamos força o suficiente para conter um possível ataque, mas imaginei que ele iria querer lutar caso acontecesse.
- Não estou com sono.
- Raence - repreendi. - Seus olhos estão fundos e caídos. Confie em mim, será o primeiro a saber caso tenha uma ameaça. Ficarei alerta. Chegar lá cansado não será uma boa ideia.
Seu peito estufou e murchou com sua respiração profunda. Quando seus olhos se fecharam, vi que tinha ganhado a discussão. Raence se moveu, ajeitando o corpo em busca da melhor posição para descansar. Uma, duas e três vezes. Seu corpo era grande e a carruagem nem tanto, imaginei que não seria confortável. Em um gesto natural e impensado, pus a mão em seu ombro de novo e o puxei para o meu colo.
Seus olhos se abriram e me encararam. A cabeça descansando em minha perna sobre o tecido fino do vestido vermelho. Seu cabelo fino fazia cócegas na perna direita, a qual estava exposta pela fenda acentuada.
- Está melhor assim?
Ele assentiu devagar e voltou a fechar os olhos. Percebi não ter controle de mim mesma quando minha mão alcançou seus fios negros e meus dedos se emaranharam neles em um carinho lento. Raence suspirou e soube que aprovou meu ato. Passei um bom tempo apenas admirando seus traços enquanto ele dormia, tão calmos que poderia me convencer de que não havia nada errado no mundo.
Daquela vez, não passamos pela floresta ligada à Valicent, mas seguimos pela fronteira entre Sindra e Winslov. O caminho era deserto, os povoados eram muito afastados e na maior parte do tempo, só o que víamos eram árvores e plantas diversas. Tudo aquilo graças ao diadema escondido em Sindra. Graças àquela força pura e bruta.
Pouco tempo depois minha atenção foi chamada pela forma que Raence apertava o estofado do assento. Reparei nas feições duras que ele começava a fazer. A testa franzida e o maxilar apertado.
Como se ele sentisse dor.
Passei os dedos pelo seu cabelo, ousando ainda mais ao acariciar seu rosto. Contornando os traços até os lábios. Ele se remexeu, a respiração saindo de controle conforme ele se agitava.
Um grunhido escapou de sua garganta. Um grunhido de dor.
Foi quando percebi seu pesadelo e fui rápida em acordá-lo. Segurei seu rosto com uma mão, seguindo os carinhos com a outra enquanto chamei por seu nome com a voz mais suave que consegui. Ele abriu os olhos rapidamente, assustado, o corpo tenso.
- Ei - o chamei. - Foi só um sonho ruim, está tudo bem. Estou aqui.
Seus olhos se encontraram com os meus, aflitos, perdidos. Me inclinei e pressionei os lábios em sua testa, deixando um beijo suave.
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O Diadema Da Coroa [CONCLUÍDO]
RomanceO quanto uma vida de mentiras pode nos tornar vingativos? O mundo fora dividido em cinco reinos, que viviam em paz - na medida do possível. Mas a ganância e o egoísmo podem destruir isso. Uma guerra está por vir. Um dos reis cobiça algo valioso de o...