Haviam poucas peças

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Quando acordo sinto algo fofo embaixo de mim. Uma luz paira sobre meu rosto, me sinto quente, mas de uma maneira estranhamente confortável. Quando abro os olhos a primeira coisa que vejo é uma janela, com a luz do sol irradiando todo o quarto.

Quarto.

Estou em meu quarto.

Mas como...?

— Lian te trouxe aqui — Diz uma voz — Espero que tenha dormido bem.

Olho para o lado. E vejo Claire, que suspira quando me vê.

— Oi Emma.

Não respondo. Minha cabeça gira, me lembrando lentamente da noite passada, de tudo...

— Você... — Digo balbuciando — Cortou o cabelo.

Ela sorri de leve e mexe nos fios agora na altura do ombro.

— Essa é a primeira coisa que vai me dizer depois de dois dias desaparecida?

Havia algo diferente nela, não somente o cabelo, algo mais... interno. Claire não usava nenhum vestido, ou uma de suas roupas escandalosas. Vestia uma peça comum, e havia olheiras embaixo de seus olhos. Dois dias. E ela era quase outra pessoa.

Acho que eu também.

Algo mudou nesses dois dias.

E então, de repente, Claire se aproxima e me abraça, consigo sentir as lágrimas no rosto dela.

— Achei que tivesse morrido — Ela sussurra.

Eu a abraço de volta.

— Eu jamais te deixaria para trás Claire.

Mas deixei.

Ficamos abraçadas ali, por longos minutos.

Sinto seu corpo quente sobre o meu, sua respiração em meu ombro, até que ela se afaste lentamente com o rosto vermelho.

— Fiquei tão preocupada... — Revela baixinho — Eu... na noite que você partiu...

— Sinto muito — Respondo.

Claire sorri de leve.

— Tudo bem — Diz — Comecei a revirar seu quarto e... achei seu presente.

Ela tira a paleta de tintas que eu havia guardado debaixo do travesseiro, não consigo não soltar um sorriso triste.

— Queria ter te entregado pessoalmente — Falo envergonhada — Embora eu... eu nem sabia que você pintava, foi Lian que me contou — Revelo — Eu... sinto muito Claire, sei que ando sendo uma péssima amiga, eu deveria ter ficado mais com você, eu deveria...

Ela se aproxima, e dá um beijinho em minha testa.

— O que importa é que você está aqui agora — Sussurra — Mas vai ter que me contar que história é essa de Lian te trazer na cama.

Dou uma risada fraca, mas a culpa ainda me atinge como um raio.

— Queria ter te entregado pessoalmente o presente.

Ela suspira.

— O que importa é que recebi, não? Se quiser ainda pode me entregar, podemos fingir
que eu não sabia.

Sorrio mesmo sabendo que tem algo que a incomoda, estávamos ambas evitando conversar sobre o mesmo assunto. Mas uma hora ele iria ter que chegar e não adiantava ficarmos enrolando.

— Eu... me desculpa... eu devia ter te escutado... eu...

— Tudo bem — Ela diz antes que eu termine.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora