Nós não precisamos ser vermelhos

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O palácio era lindo, com luzes brilhantes, com bancos de ouro, as estrelas no chão e as crianças no teto. Tudo nele era belo, como se os anjos tivessem o feito, parecia uma igreja, algum lugar santo, seja como fosse, era de fato, um palácio. Aonde Louise foi comigo, aonde sua família, todos aqueles presentes no jantar viviam, em White Rose, que era como Green Lake, mas menor e mais belo. Mas ainda assim... nele havia tantos segredos, quem eles eram? O que faziam e mais importante de tudo... o que aquelas pessoas escondiam? Cuidado, a palavra dentro da torta sussurrava em meu ouvido, cuidado com a cidade de mentira. E mesmo assim eu acreditei naquele lugar, acreditei em Louise e naquela cidade que agora não passava de nada. Ou melhor, não passava de um galpão.

Cuidado, a palavra sussurrava, cuidado. Mas aos poucos senti aquela palavra ser substituída por outra, ficando cada vez mais forte em minha cabeça:

Louca.

• | ⊱✿⊰ | •

— Mas... eu estive aqui ontem, isso não faz sentido.

Todos olham para mim de maneira estranha.

— Você já veio aqui Emma? — Pergunta Claire — Por que nunca me contou?

Lian não parece nada surpreso, afinal ele sabe que já vim aqui. Mas não é essa a questão. Não é sobre isso que estou tentando falar.

— Não!! — Digo com raiva — Eu estive aqui ontem, aqui era uma cidade... White Rose, onde foi parar?

Como quem procurava por algo eu olhei ao redor desesperadamente, cheia de angústia, a procura das casas, da mesa, da igreja, das luzes e das pessoas. Mas não havia nada além de um galpão velho e fedorento.

— Estava aqui, eu tenho certeza... vocês conhecem certo? — Digo procurando uma explicação desesperadamente — Vocês já vieram a White Rose né?

Mas tudo que recebo são olhares esquisitos, como se não estivessem me entendendo, como se eu falasse loucuras, sinto meu sangue ferver, eles sabem, eles precisam saber, sobre Louise, sobre o palácio, sobre a cidade...

— Emma... você deve ter se confundindo, nunca existiu outra cidade aqui perto, sempre foi só Green Lake.

Não. A palavra grita em minha mente. Não.

Isso não pode estar acontecendo.

Ah não.

Mentirosos.

Mentirosos.

Desgraçados, mentirosos.

— Vocês estão mentindo para mim! — Digo afobada — Aqui é aonde ficava a cidade, estão tentando me fazer papel de boba?

Fico esperando as risadas, esperando as câmeras saírem das árvores e gritarem "Sua imbecil, você acabou de cair em uma pegadinha, pegue seu prêmio e vá para casa". Espero. Mas nada acontece. Todos olhavam para mim com a mesma expressão de confusão, minha mente parecia prestes a explodir, o que estava acontecendo? O que estava acontecendo comigo?

A palavra sussurrando mais e mais alto em meu ouvido:

Louca, louca, louca, louca, louca, louca, louca, pirada, maluca, mentirosa, sozinha, doida, morta, morta, morta.

— Você está bem? — Pergunta Claire vindo me consolar, ela coloca a mão no meu ombro, mas tudo que consigo escutar é aquela voz:

Coitadinha. Ela deve ter visto coisas. Ela deve ter sonhado e confundido com a realidade. Ela é mesmo louca. O que esperar de uma garota morta?

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora