Mas não resistiu por muito tempo

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A imagem de Sofia morrendo não saia da minha cabeça. Nos últimos dias a imagem dela presa a aquela máquina horrenda se repetia na minha cabeça, de novo e de novo.

De novo e de novo.

Era terrível. Eu estava tão perto... tão perto de sair daquele lugar infernal. Mas os pesadelos só aumentavam, todas as noites lá estava ela, os olhos cheios de culpa e raiva que olhavam para mim, ela estava com ódio de mim, e por alguma razão eu sinto que ela tinha todos os motivos do mundo para estar.

Talvez eu me sinta culpada, eu roubei a melhor amiga e o namorado dela.

Eu curei as feridas que ela deixou.

Sinto como se eu tivesse a substituído, como se eu tivesse roubado sua vida, não é horrível? Pensar que você morreu, mas alguém foi lá e roubou tudo que você amava, que fez da sua melhor amiga a nova melhor amiga dela, que fez todos que gostavam de você gostarem dela, que seu namorado não vai mais dormir pensando em você e sim nela. Pensar que ela amenizou a dor da sua morte, porque foi como se tivesse te substituído.

Mas quando eu penso direito... sei que não foi o que eu fiz.

Eu nunca fui Sofia. Eu criei novos amigos, criei um laço com aquelas pessoas e sei que elas não me amam só porque talvez eu lembre a antiga pessoa que eles amavam. Eles me amam porque sou eu.

E isso não diminui a dor ou o amor que sentiam por ela. Ela ainda está lá, uma ferida que nunca vai se curar totalmente.

Ninguém jamais vai esquecê-la.

Mas aqueles sonhos... aqueles sonhos com ela me odiando, me olhando daquela forma... tenho medo do que possa significar. Já passei da fase de: sonhos são só sonhos e não tem nada demais neles.

Sei que ela quer me dizer alguma coisa. Eu só não sei o que é.

— Emma?

— O que foi?

Channel me encara de uma maneira estranha.

— Nada é só que você... parecia estar viajando.

— Como sempre — Digo baixinho.

Após isso ela não pergunta mais nada, nenhuma de nós anda se falando muito nos últimos dias, como se não houvesse nada para conversar, o que era uma mentira afinal eu tinha milhões de perguntas.

Mas de que adianta fazer perguntas se sei que não irei receber respostas?

Karen continuava impassível, andava na nossa frente como se conhecesse o caminho na palma da mão e mesmo eu sabendo que ela estava tão perdida quanto qualquer uma de nós eu confiava nela, afinal de contas, se ela fosse nos trair já teria nos traído faz tempo.

De repente ela para, fazendo Channel esbarrar em sua perna e fazer uma cara feia.

— Por que parou?

— Vocês estão ouvindo isso?

— O que? — Pergunto.

— Parece... o barulho de água.

Instantaneamente eu olho para o céu. Mas o clima parece perfeito.

— Acho que você deve estar ouvindo coisas — Respondo — Não tem nem sinal de chuva.

— Não espera — Channel me interrompe — Também estou ouvindo.

Sem dizer mais nada ela começa a andar em direção ao som que parece ficar cada vez mais e mais perto, até enfim nos deparamos com uma cachoeira escondida atrás das árvores.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora