Eles achavam que éramos rosas brancas

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Estava escuro demais para ver direito qualquer coisa, mas continuei mesmo assim, continuei andando enquanto arrastava algo pesado. Estava arrastando uma pessoa. Não era assim que meu plano havia sido montado, mas desde que conseguisse era isso que importava. E assim continuei, todos já estavam dormindo, ninguém poderia ver, mas mesmo se alguém acordasse estava tudo bem, tinha algo para lidar com essa situação. Então arrastei a garota pesada até a biblioteca e ali puxei um livro grosso e preto até se abrir uma porta. O local tinha um cheiro ruim, cheirava a sangue, arrastei a garota e depois a coloquei na máquina.

Estava tudo pronto.

— O que vai acontecer quando a máquina terminar? — Perguntei para a pessoa que estava atrás de mim.

— Você não precisa se preocupar com o depois — Ele me disse — O que importa é o agora.

Balancei as mãos com rapidez, estava feliz, eu havia feito, eu consegui. Quando sai da biblioteca dei uma última olhada para a garota na máquina.

Ela virou o rosto, e me olhou fixamente, como se soubesse todos os meus pecados.

E ela de fato sabia.

Mas eu também sabia os dela.

•| ⊱✿⊰ |•

Quando eu acordo sinto todas as consequências do pesadelo, sinto meu coração batendo forte e o suor escorrendo por todo meu rosto. Mais um sonho ruim, aonde estou no corpo de outra pessoa fazendo algo estranho. Eu nem sequer sei direito o que estava fazendo, nem sei quem eu era nesse sonho, tudo que sei é que foi horrível. E eu ainda sinto o olhar da garota penetrar em mim. Balanço a cabeça tentando me livrar das lembranças, uma noite, tudo que eu queria era uma noite sem nenhum pesadelo, sem nada me atormentando. Parece que era pedir demais.

Levanto porque sei que é inútil tentar dormir, estou com medo, suando e tremendo, preciso levantar e me acalmar o máximo possível. Mas mesmo assim os pensamentos ruins voltam, Channel, desaparecidos, Sofia, Louise, esse lugar... eu ainda precisava montar um plano sobre como iria impedir que Channel fosse sequestrada ou algo do tipo. Por mais que eu odeie aquela garota não significa que quero que ela seja sequestrada, preciso fazer alguma coisa, preciso mostrar que sou útil, preciso mostrar que quero ajudar.

Vou até a biblioteca porque é o lugar aonde eu mais me sinto confortável, meu refúgio nas noites não dormidas. Pego um livro qualquer na área de suspense e me sento tentando relaxar minha mente:

E não sobrou nenhum

Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move;

Um deles se engasgou, e então sobraram nove.

Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;

Um deles dormiu demais, e então sobraram oito.

Oito soldadinhos vão a Devon passear e comprar chiclete;

Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.

Sete soldadinhos vão rachar lenha, mas eis

Que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.

Seis soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco;

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora