E se ela quisesse voltar?

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Acordo em um quarto que não conheço. Em uma cama que nunca havia visto antes. Sentindo cheiro de alecrim, canela e especiarias. Além do calor do sol em meu rosto.

O lugar era belo, com paredes brancas repleto de detalhes em dourado e verde, eu não fazia ideia da onde estava, mas nada daquilo parecia ameaçador, tento me levantar, só que sinto tanta dor em meu corpo que desisto.

Quando olho para meus braços... havia marcas de queimadura neles e em minha perna também. Imediatamente estremeço com lembranças.

A mansão quente demais, o fogo percorrendo o local, transformando tudo em cinzas, as chamas lambendo os corredores, enquanto gritava por possíveis vítimas, a fumaça na garganta, Nicolas morto, a criança encolhida no canto pronta para morrer, queimaduras sobre o braço e pela mão...

Eu tinha marcas daquele dia, nunca mais cheguei perto do fogo novamente, nem mesmo para cozinhar, o que não foi um problema, minha comida é péssima. Ainda estou avaliando as marcas novas, e então... só então... me lembro, do dia anterior, da Judge e de todas aquelas pessoas, se não fosse pelas queimaduras poderia dizer estar sonhando. Mas ali estava eu, em uma cama que não conhecia, usando as mesmas roupas. Me obrigo a levantar apesar da dor e caminho até a porta fechada.

Imediatamente sou atingida por um cheiro maravilhoso de pão e azeite, além de temperos e...

— Ah, você acordou então.

Eu conhecia aquela voz, e para a minha surpresa, sinto uma onda de alívio me atingir.

— Estava preocupado com você, fico feliz que esteja bem.

Olho para a frente e encontro Ravi, o vendo pela primeira vez com roupas de casa e não formais, embora usasse um avental de cozinha.

— Estou fazendo café da manhã, quer? — Coloca um copo na mesa — Você deveria comer.

— O que... o que aconteceu?

A cara dele se repuxa para o lado. Minha cabeça gira em círculos enquanto tento me lembrar, uma dor terrível me atinge.

— Conversamos depois do café — responde — A comida já está esfriando, venha.

Quero protestar, mas minha barriga ronca alto demais e acabo me deixando guiar pelo cheiro maravilhoso, Ravi colocava um tipo de pão tostado na frigideira repleto por temperos e molho, havia também tofu temperado e algumas torradas mergulhadas em geleias.

— Sirva-se enquanto o pão ainda está quente.

Pego um pouco de tudo, me deliciando a cada pedaço, não me lembro da última vez que comi algo... tão bom.

— Foi você quem fez? — Pergunto.

Ele sorri.

— Preparei o pão e os molhos — Responde — Posso fazer bacon se quiser também, não fiz porque sou vegetariano.

Balanço a cabeça indicando que não precisa, aquilo já estava bom demais.

— Você cozinha muito bem — Elogio.

Ele balança a cabeça em agradecimento.

Deixo a comida um pouco de lado após devorar quase tudo, eu estava... cansada, exausta para ser mais exata, sentia que havia acabado de cair de um prédio.

Bom... eu acho que foi mais ou menos isso que aconteceu.

— Me conte tudo — Peço.

— Emma... não prefere tomar um banho antes? Você deve estar cansada.

— Não — Olho para ele — Quero saber... o que aconteceu lá dentro.

— Tem certeza que não quer tomar banho? — Brinca.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora