Eles perderam

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Em um piscar de olhos, o coelho de Louise era algo de extrema importância para mim, era um animal, vivendo naquela floresta por conta própria. Queria saber mais sobre ele, queria saber que tipo de peça ele era em todo aquele quebra cabeça, queria saber do que se alimentava, como sobrevivia em meio a aquela floresta infernal, e principalmente, como ele podia estar de fato vivo, e não ser apenas um fruto da minha cabeça perturbada.

Conversei com Paul a respeito, e ele concordou em me ajudar, Lian havia comentado comigo há alguns dias sobre ele, dizendo que ele andava meio distante, mas aquilo não me impediu de pedir aquele favor mesmo assim, ele não pareceu muito animado com a ideia, mas concordou mesmo assim.

"Os dias não estão indo muito bem, mas vou te ajudar como puder"

Foi o que ele disse. E no fim foi apenas isso.

Uma parte minha queria perguntar mais a respeito daquilo, afinal de contas, Paul era meu amigo, mas sabia que se perguntasse, ele não me contaria, além de que ele tinha seus segredos, eu tinha os meus, então se ele não quisesse compartilhar os dele, por mim tudo bem.

E havia outros problemas, problemas bem maiores. Dos quais eu evitava pensar, e admito, estava fingindo que ele não existia, mas enquanto passo pelos quartos percebo que não tem como ficar evitando aquilo para sempre, respiro fundo e me aproximo do quarto de Yara, que está do lado de fora, perto da porta, e claramente furiosa.

— Quero mudar de quarto — Ela diz assim que eu me aproximo, assim sem mais nem menos, sem nem me dizer um "oi Emma, como vai o seu plano de salvar as nossas vidas?"

Inclino a cabeça para ela.

— Por quê? — Pergunto.

Ela cruza os braços, Yara era de longe a mulher mais bonita que eu já havia visto, com os cabelos castanho caindo sobre o ombro, e os olhos de um verde intenso. Mas apesar de seus olhos serem lindo, eles não pareciam nada gentis no momento.

— Não suporto dividir o quarto com aquela... aquela menina! — Ela bufa — Não basta chegar cheirando a merda de cigarros e no meio da madrugada, ela ainda tem que ser uma traidora, não suporto mais, quero me mudar.

Fico surpresa ao vê-la assim, nunca tinha visto Yara explodir daquela maneira, mas acho que no fim, não conheço os moradores tão bem quanto pensava.

— Nós não sabemos se aquela carta é verdadeira...

Ela ri.

— Ela é bem do tipo que faria essas coisas — Diz enrolando as mechas nos dedos — Não duvido nada, você devia falar com ela.

Pisco os olhos.

— Eu?

— É — Responde — De um jeito nela, antes que eu mesma dê.

E simples assim, ela sai batendo o pé, e jogando tudo em cima de mim como se eu já não tivesse coisas o suficiente para lidar. Solto um suspiro cansado, esse negócio de "jogar todas as merdas em cima da Emma" já estava começando a me irritar. Mas acho que não tenho bem uma escolha.

Abro a porta e encontro Sakura esparramada na cama com um fone de ouvido — E não, não me pergunte aonde ela encontrou isso — E com uma caixa de cigarros ao lado.

— E aí? — Ela pergunta, tirando os fones assim que me vê — Você não deveria estar tipo... salvando o mundo e essas paradas de protagonista?

— E você não deveria estar tipo... provando a sua inocência?

Ela dá de ombros.

— Você ao menos sabe o que está acontecendo? — Pergunto.

— A parte em que todos os moradores querem a minha cabeça em uma bandeja e me cortar em pedacinhos? — Ela ri — É, ouvi algo parecido.

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