Você não quer acordar

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A luz da sala me cega por mais tempo do que gostaria, estou deitada, olho para o teto e não vejo nada além da luz ofuscante.

Tento mexer minhas pernas.

Fracasso.

Tento mexer meus braços.

Fracasso também.

Apenas consigo movimentar a cabeça, com o canto do olho, encaro as paredes brancas, enquanto um nome é arranhado em meus pensamento, como se estivesse sendo cravado em minha pele:

Ravi.

Apenas a memória do nome dele parece como um soco no estômago. Sinto náusea, ódio, o sentimento familiar de querer acordar e descobrir que tinha sido apenas um sonho. Como quando Alice acordou do país das maravilhas, embaixo de uma árvore, com um livro em mãos e uma família a sua espera. Isso poderia ter acontecido, eu poderia ter ficado na cidade, fingindo que tudo havia sido apenas um sonho ruim.

Mas não.

Eu escolhi voltar.

Em meio ao tédio da cidade, quis voltar para meu país das maravilhas particular. E agora... Ravi estava morto. Por algum motivo, não sinto arrependimento, a culpa pesava em meus ombros, e ao mesmo tempo...

Faria tudo de novo. E sei disso.

Estou refletindo a respeito quando noto um rosto familiar por perto, familiar até demais, como se um espelho tivesse sido colocado no meio da sala. Entretanto, eu sabia que não era um espelho.

Estou olhando para a minha irmã.

E ela está olhando para mim.

— Está acordada então.

Tento me mover, não consigo.

— Não desperdice sua força — sua voz me surpreende — Você não vai sair daí por um tempo, está muito debilitada.

— O que aconteceu? — Pergunto — O que... o que...

Ela solta um suspiro. Sem responder minha pergunta, até porque eu sabia da resposta, as memórias piscavam uma atrás da outra.

Tento mexer o braço que não havia se machucado.

Minha irmã parece notar que estou tentando pegar na mão dela, então se afasta.

— O que... o que John fez com você? — Pergunto — O que ele...

Ela ri de forma seca, o que faz com que meu corpo inteiro estremeça.

— Nada além de me mostrar a verdade.

Não sei o que dizer, é claro ela sabia sobre o nosso passado terrível.

Pelo menos não está tentando me matar.

Por enquanto.

— Sinto muito — Digo, eu precisava dizer, precisava... — Por te meter em tudo isso, por contar para você...

Minha irmã apenas balança a cabeça.

— Por que fez isso?

Me viro.

— O que?

Ela dá de ombros.

— Se render.

— Não sei — Admito — Apenas senti que...

Que seria melhor se eu me entregasse?

Que pelo menos eu estaria fazendo algo de bom nesse mundo. Que não seria inútil.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora