Entre parede e remédios

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Depois do momento com John havia ficado tão assustada que decidi voltar para o quarto, Claire trouxe almoço e fiquei mais tempo trancafiada dentro do quarto do que gostaria, observando a lua durante a noite. Esperando até que as estrelas dominassem o céu, e a escuridão tomasse conta.

Quando já estava terrivelmente tarde meus sentidos começaram a coçar, meu corpo ardendo de desejo de sair.

Acho que já esperei demais.

Com esse pensamento visto a roupa mais escura que Claire deixou para mim, embora não houvesse muitas, encontro algo cinza.

Serve.

Com os sentidos formigando deixo o quarto, e começo a caçada.

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Sigo pela prisão me guiando pela luz da lanterna que encontrei no quarto, a mansão de John ficava terrivelmente quieta a noite, com apenas o som do mar ao fundo.

Quando chego na prisão solto um olhar para a cela de Red, solitariamente vazia, o cheiro de sangue ainda pairava pelo ar como se estivesse contaminado.

Pelo menos ele não está mais aqui, está livre agora.

Mas isso não era bem verdade, Red não estava livre, continuava na ilha, pairando nas mãos de John. Ao menos estava vivo, eu espero. A ideia de ter mais uma morte pesado em minhas costas começa a aparecer assustadora, a culpa me pesa, não deveria estar acostumada com o cheiro de sangue e a visão da morte. Mas quanto mais acontecia, mais fácil era de superar e seguir em frente.

Não é certo isso, é? Não quero criar costume, quero que a culpa me pese da forma que deveria, eu mereço ela afinal de contas. Quero que corroa meus ossos.

Mas... de que adianta?

Não vai trazer Smile de volta. Ou nenhum daqueles que partiram. Eu não tinha opção, precisava seguir em frente. Suspiro fundo e continuo a seguir pelo corredor até o final que John citou, encontrando uma porta fechada com senha.

É a mesma do escritório.

Me lembrando das palavras dele coloco a senha que Claire me passou, e por mais impressionante que pareça a porta se abre. Um vento frio acerta meu rosto, além de um cheiro péssimo, podre e de esgoto.

Eles estão fedendo.

Não tinha pensado muito antes de vir até aqui, apenas sabia que havia uma passagem, mas vindo agora...

Eles?

O que seriam eles?

Começo a tremer, penso que estou sendo encaminhada para mais uma de suas armadilhas, que ele sabia que eu estava embaixo da mesa e disse aquilo apenas para que eu caísse em suas mãos novamente, estou prestes a voltar correndo para o quarto quando escuto um gemido de dor vindo de longe.

Sem conseguir ignorar minha curiosidade começo a andar sorrateiramente, até que os sons fiquem mais altos:

Parece que tem alguém vindo.

— Mas está tão tarde para virem...

— Talvez a tenham escutado gemer, já perderam muitos de nós, não querem que mais um morra.

— Talvez tenham vindo para nos torturar.

— Não podemos salvá-la, ela vai morrer, só espero que morra antes deles cheguem.

Continuo a seguir os sons, e logo me vejo em uma prisão.

Não somente uma prisão.

Uma enorme prisão.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora