Mas eles não desistiram

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A escuridão tinha olhos e ouvidos. E ela observava Channel, observava cada passo que ela dava.

E o cheiro...

A coisa estava sentindo o cheiro dela, o cheiro de medo que rodeava Channel, ela sentia os ossos tremerem, sentia a escuridão se deliciando dela, uma garota perdida, a garota solitária. Pobre, pobre Channel. Ela chorava agora. As lágrimas quentes descendo sobre o rosto...

— Por que está chorando? — Pergunta a escuridão.

— Por causa dos meus erros — Ela responde — Por causa de todas as coisas que já causei.

A escuridão ri.

— Bom.

É a última coisa que escuta antes de ver Mary subir em cima de seu corpo e arrancar a sua garganta.

••••

A fogueira ainda crepitava quando acordei, a escuridão permanecia , as estrelas continuavam no céu e a lua ainda reinava.

Mas havia algo diferente.

Eu ainda estava de certa forma dormindo quando escutei os gritos na floresta, não tive tempo para pensar no que estava acontecendo, me levanto e corro até Channel que grita como se estivesse morrendo.

— Está tudo bem — Digo indo até ela — Não aconteceu nada, está tudo bem, foi só um pesadelo.

Demora um pouco até que pare de gritar, mas para, e então ficamos nós duas ali, eu a aperto sobre meu corpo enquanto as lágrimas quentes dela molham minha camisa.

— Está tudo bem — Repito — Foi só um pesadelo.

A abraço forte até que pare de tremer e possa finalmente relaxar.

— Eu... eu...

— Foi só um pesadelo.

Ela me abraça.

— Emma... o que eu faço para esses sonhos ruins irem embora?

Apesar de toda a minha história com Channel eu não podia não sentir algum carinho por ela, ao vê-la ali, se enroscando em mim como uma criança.

Penso em dizer a ela algo que conforte seu coração, mas então penso em todas as vezes que me foi dado esperança, e todas as vezes que me foi tirado, e chego à conclusão que é mais cruel dizer mentiras bonitas do que a verdade.

— Não sei — Sussurro baixinho, pois de fato não sei — Queria saber.

Quando ela volta a dormir, apesar de eu não ter a confortado como uma mãe, ela fica ao meu lado, como se eu pudesse protegê-la de alguma forma.

— Foi apenas um pesadelo — Repito.

Mas dessa vez eu estava mentindo.

••••

A viagem estava se tornando um inferno.

Estava demorando mais do que eu gostaria. Bem mais. Karen provavelmente mentiu sobre o tempo que iríamos levar até chegar, ou estamos indo muito devagar.

Nem eu, nem Channel estávamos contente com isso.

— Nós devíamos comer um pouco — Digo.

— Não estou com fome.

Passo as frutas para ela mesmo assim.

— Estamos andando a muito tempo, se não comer nada vai desmaiar.

— Não quero comer essas frutas.

— Você precisa comer!

Channel não diz, mas assim que vejo o olhar que ela lança para as frutas eu entendo.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora