Não confie nelas

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Quando chego bato meus pés na areia, olhando minuciosamente para as árvores, que pareciam me receber, como em um convite para que entrasse.

Olho para Lisa, Bonne e Luís, que assistiam, em um silencioso "até mais" junto de um não pronunciado "boa sorte."

Me viro e deixo o som de água para longe.

Com a promessa que dessa vez...

Não sairia de mãos vazias.

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Eu já conhecia a floresta, por mais doloroso e estranho que fosse voltar, ao menos as árvores sabia identificar, e é claro que eu não tinha muita experiência em acampamentos, mas os Vultures haviam me dado tudo que eu precisava, então apenas relaxei e pensei que seria possível atravessar sem grandes dificuldades.

Ou melhor, torci para que fosse o caso.

Já sabia aonde ir primeiro: para a mansão. Apenas para me certificar que estava tudo bem. Lisa havia me contado que estavam morando naquela que costumava ser velha e acabada, o primeiro teste de Green Lake, podia pensar melhor depois, analisar minha situação e arranjar todo tipo de informação necessária sobre John, depois ir até ele.

Era um péssimo plano, mas pelo menos eu tinha um ponto de partida, o que era melhor que nada.

A noite chega lentamente e observo o céu acima de mim. Tão diferente do que era na cidade, as estrelas de fato estavam lá, todas elas, ergo minha mão como se pudesse toca-las... não havia percebido o quanto tinha sentido falta disso, daquela luz no céu, de todos aqueles pequenos pontinhos brancos. Olho para uma em específico, a mesma que eu procurava toda vez na cidade. Grenade... e quando encontro não consigo evitar sorrir.

Aproveito alguns minutos para admira-la, sabendo que logo eu voltaria para a cidade e jamais a veria novamente. Apenas para que eu pudesse lembrar melhor de como era, saber onde procurar todas as noites.

E assim, em baixo das estrelas, no saco de dormir que os Vultures providenciaram para mim... adormeço.

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Acordo com o som de algo sendo remexido e com o sol queimando minha sobrancelha. Assim que abro os olhos percebo que continuo no mesmo lugar, mas com algo diferente. Uma boa parte das minhas coisas estavam espalhadas pela mata.

Me viro e dou de cara com um cervo fuçando minha bolsa.

— Não! Sai daqui! Vai embora!

Tento abanar as mãos para o bicho, que parecia não ouvir, me ignorando completamente, não entendia nada de cervos, a única vez que havia visto um tinha sido nessa mesma floresta e eu quase havia matado o animal.

Talvez tivesse sido o mesmo e ele estivesse aqui como quem soubesse que eu quase o matei em meio ao desespero da fome.

— Vai embora! — Abano as mãos novamente — Não tem nada para você!

Ele me ignora, jogando minhas coisas para longe.

— Ah ótimo! — Bufo — Isso continue, minha manhã já está sendo maravilhosa.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora