Eu fui feita para matar

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Estava quase amanhecendo quando acordei, com a cabeça cansada por tudo que havia acontecido no outro dia, não queria pensar naquilo e muito menos que alguém as soubesse, eu tinha uma dívida com Yara e sabia disso. Me aproximo de Claire que dorme como um anjo na cama ao lado, totalmente despreocupada, ela parecia se sentir normal mesmo após do sumiço de Maria, eu parecia ter sido a que mais se culpou ou se traumatizou, talvez porque a culpa tivesse sido minha e unicamente minha. Farta dos pensamentos culposos eu visto um roupão que estava enfiado no armário e desço as escadas, o sol mal acordou lá fora e a chuva que havia durado uma boa parte da noite já havia ido embora.

Passo pela mansão indo em direção à biblioteca, aonde era meu novo refúgio, ia para lá quando não conseguia dormir, lia algum livro qualquer e depois ia embora, de vez enquanto roubando algo da geladeira, indo para minha cama antes que alguém acordasse. E é o que eu faço, fico na biblioteca lendo um livro sobre casos de assassinatos que estava na minha lista de livros interessantes para se ler no meio da madrugada e depois quando vi que estava amanhecendo o guardei de volta na prateleira pronta para voltar para a cama, antes que alguém me visse.

Antes que eu saia me lembro do livro preto e sobre a entrada secreta que havia descoberto antes, com o pensamento em mente decido ir até aquele local, verificar se há algo lá. Encontro o livro e o puxo, já estou mais familiarizada com a passagem e não me assusto tanto quando ela se abre, também desço as escadas com muito menos medo do que da outra vez.

Talvez porque antes eu tivesse algo a perder, agora já não tenho mais nada.

Quando entro o local de início para igual da última vez que eu vi, mas logo percebo pequenas mudanças. Aquele vidrinho que derrubei da última vez não está mais ali, foi substituído por outro, um inutilizável, está cheio ainda.

Alguém esteve aqui.

•| ⊱✿⊰ |•

Antes de voltar para o quarto, descendo as escadas da biblioteca vejo duas presenças correndo pelo jardim, duas crianças. Eu já havia atingido a minha cota com crianças, mas de algum jeito Orange e Blue pareciam agradáveis, sorridentes correndo pela floresta com as bocas cheias de doces.

— O que fazem acordados a essa hora? — Pergunto imaginando que crianças normalmente não acordam logo após o sol nascer saltitantes, a garota pulava de maneira como se fosse seu aniversário, enquanto o mais novo parecia um pouco emburrado — Não deveriam estar na cama?

Orange sorri para mim.

— Você também deveria estar.

Ah sim, um segredo pelo outro.

— Você parece alegre — Digo indicando a animação dela, depois me viro para o outro emburrado e triste — E você... não tão alegre, o que aconteceu?

Blue faz cara de choro.

— Não quero falar.

— Ele perdeu a aposta e agora não quer pagar o preço de perder!

— Foi injusto, suas pernas são maiores do que as minhas e você sabe que eu tenho medo daquele lugar fedorento e feio.

— Deixa eu adivinhar... vocês apostaram e ele perdeu, lugar feio e fedorento... por acaso seria o galpão?

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora