E então ela era a luz

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— Realmente... me desculpe pelo que fiz.

Eu e Lian estamos caminhando na floresta no meio da noite despreocupados, já estava bem tarde, solto um suspiro, era vergonhoso pensar em tudo que fiz, estava tão cega pela minha ambição de encontrar Sofia que acabei não vendo algumas coisas que eram óbvias.

— Tudo bem... acontece todo dia — Ele diz sorrindo — Ser ameaçado e acusado de sequestrador.

Por mais que seu tom seja em brincadeira eu solto um soquinho em seu braço, o fazendo rir.

— Eu... eu tinha certeza que era você — Digo me explicando — Não acredito que cheguei tão longe para no fim não ser, mas bem, vou deixar isso de lição.

— Vou anotar isso, nunca sequestre alguém, nem ameace com uma faca e também não diga que a envenenou apenas como blefe — Ele diz ao meu lado.

Faço uma careta para ele que ri como se tivesse apenas fazendo uma piada.

— Você parece estar levando numa boa tudo isso, se eu fosse você estaria muito brava nesse momento.

— Então fique feliz por eu não ser você, sinceramente foi até divertido, nunca tinha sido ameaçado com uma faca, nem amarrado em uma cadeira — Ele diz ainda sorrindo — Mas não acredito que fez tudo isso para encontrar alguém que você nem sequer conhece.

Nem eu mesmo acredito.

— Você fez.... tudo isso pela Claire? — Pergunta, os olhos brilhando de curiosidade.

Eu não sabia dizer. É claro que eu queria ajudar minha amiga, claro que quero poder encontrar Sofia, mas eu me pergunto... Estou fazendo isso por mim? Ou para ajudar?

— Fiz — Digo porque sinto que é o que ele quer ouvir, embora não tenha certeza se é a verdade — Bem... ela tem me ajudado muito nesses dias então... é o mínimo não?

Ele inclina a cabeça.

— É bom ter alguém tão determinada nessa cidade... — Diz — Acho que... estou contente que você veio para cá. Desculpa pelas coisas horríveis que disse antes. Mas sério, você me assustou.

As palavras dele me deixam feliz.

— Você quer ajudar? — Pergunto.

— O que?

— Quer nos ajudar a encontrar Sofia?

Claire disse que eles não iriam querer ajudar, mas ela não sabia que os dois namoravam. Se ela soubesse talvez concordasse comigo de que ele seria de grande ajuda, fico ali esperando ansiosamente pela sua resposta, mas tudo o que escuto é um suspiro.

— Não sei.

Suas palavras me deixam confusa.

Ele não a amava?

— Qual o problema? — Pergunto.

Ele desvia o olhar.

— Eu apenas... tenho medo do que posso encontrar. Ou de... criar esperança.

Uma voz sussurra em minha cabeça:

Existem vários tipos de pessoas quando perdem algo.

Lian fazia parte daqueles que nem se davam o trabalho de procurar, por medo do que podia encontrar.

— E se ela estiver perdida? — Tento o convencer — Implorando por nossa ajuda?

Ele balança a cabeça como se isso pudesse anular minhas palavras, aquilo não me parecia certo e nem mesmo justo, não conseguia entender o motivo do medo, você já morreu uma vez, o máximo que pode acontecer é morrer de novo. Era difícil pensar que a maioria das pessoas aparentemente pensavam diferente, ninguém parecia querer arriscar a sua preciosa nova vida, enquanto eu estava sedenta para coloca-la em risco, sedenta por algum objetivo, que graça há em uma vida sem objetivos? Que graça há em uma vida aonde não se tem riscos ou medos? Viver na tranquilidade para sempre, em uma casa até o infinito parecia chato.

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