Mas apesar de tudo ela nunca foi como nós

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Minha vida passada havia sido miserável, e eu sabia muito bem disso, a certeza era tão absoluta como a de que o céu era azul, a certeza era tão absoluta como a de que eu iria morrer.

Minhas pesquisas feitas com Lian apontavam na mesma direção, todos que eram os próximos pareciam estar sempre exaustos, cheios de olheiras profundas, sem conseguir dormir, tendo visões esquisitas, e todos eles estavam há tempo demais na cidade, como se fossem um pedaço de queijo passando da sua validade. E eu estava exatamente assim, dormir era um luxo, todas as noites eu sonhava com minha prima, pobre como eu, uma vida horrível, eu me lembrava de ter sido sequestrada com ela, além de ter sido forçada a matar um homem para protege-la, o que vinha depois já era um borrão que eu não conseguia enxergar, talvez meus pais tenham conseguido pagar um resgate para nós duas, talvez eu tenha fugido de lá, talvez eu tenha passado a vida com aqueles homens, mas não importa muito o caminho que tomei, todas dariam no mesmo final, a morte e então Green Lake.

Lian andava cada vez mais preocupado comigo, sabia da minha situação, esconder as olheiras andava sendo um trabalho muito difícil e ele sabia, sabia o que iria acontecer comigo, eu tentava ao máximo esconder, ao máximo não falar sobre aquilo, não queria a sua preocupação, não queria sua pena ou seu cavalheirismo. A verdade, por mais cruel e estranha, era que eu apenas esperava a morte, incapaz de impedi-la, apenas esperava a visita do homem vestido de roupas pretas, sem forças para lutar.

Olhei para o jardim da cidade, meus olhos encontrando a garota de cabelos brancos, ela estava ali há um bom tempo eu sabia, sabia que em breve Channel seria a próxima, e a garota parecia saber também, na verdade assim como eu, parecia às vezes nem ligar.

Se bem que... pensei, havia algo estranho em relação a garota, que não aparentava olheiras, nem cansaço.

Há algo errado nas pesquisas, porque Channel...

...

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10 dias para o Natal.

— Professor Nicolas! Professor Nicolas, é a Claire posso falar um minutinho com o senhor?

Claire e eu estamos em frente a sala do diretor, professor ou sei lá o que esse homem é, sei que temos uma difícil missão, quase impossível.

"Por favor Emma, não quero ir sozinha falar com ele, vá comigo"

Bom, ela não foi comigo falar com a criança diabólica, mas aqui estou eu.

— Você está bem? — Ela pergunta olhando para meu rosto, apenas faço que sim com a cabeça.

Mentira. Tinha tido uma noite péssima, novamente sonhei com Sofia, com seus pensamentos estranhos, esses sonhos estavam me deixando cada vez mais exausta, penso em Channel, no que Sofia estava pensando a respeito dela, mas quando o sonho estava prestes a chegar na parte que importa Claire subiu em cima da cama e me acordou jogando água no meu rosto.

Sofia sabia que seria a próxima, disso não tenho dúvidas, penso nela contando como as pessoas ficavam quando eram as próximas, sem conseguir dormir, com olheiras profundas, visões estranhas e alucinações. Channel não parece se encaixar em nada disso, apesar de ser meio maluca, talvez na parte das alucinações, falando de uma amiga imaginária idiota e de White Rose. Mas se fosse assim eu também me encaixo, na verdade me encaixo em quase todas essas coisas, embora não sinta que seja o mesmo, eles pareciam não conseguir dormir, mesmo que tentassem, passando a noite em claro vendo alucinações, vendo coisas do passado, mas eu conseguia dormir, o problema eram os pesadelos que dificultavam as coisas, e eu não vejo coisas do passado, apenas muito raramente como os outros, na verdade vejo mais o passado de Sofia do que qualquer outra coisa.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora