Ela não precisava da tinta que nos fantasiava

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O dia da minha morte está próximo, e por mais pronta que eu pensei que estivesse não estou, pensei que não me importaria quando chegasse a hora, mas aqui estou eu, roendo as unhas pensando na possibilidade do dia em que vão me levar, o medo me atinge como um soco no estômago, aquele medo inesperado. Achei que teria feito tudo que precisava, deixando os arquivos com Lian, escrevendo o diário, mas agora não me sinto nada pronta, sinto como se ainda houvesse uma parte do quebra-cabeça que não resolvi, algo grande, e que não posso ir embora enquanto não o descubro.

Guardo o resto das anotações no galpão, talvez seja inútil continuar a investigar quando meu tempo já é tão curto, mas sei que esse ciclo precisa ser quebrado, Green Lake precisa morrer, os segredos uma hora terão de ser revelados, e mesmo que o ciclo não acabe comigo, terá de ser com outra pessoa. Continuo a organizar minhas anotações, as escondendo no esconderijo do galpão dia após dia, meus pensamentos em uma enorme confusão, eu estava pronta, achei que estava, achei que estaria agora, já morri uma vez, pensei que estaria pronta para morrer uma segunda.

Mas não estou.

Meus pensamentos estão concentrados em apenas uma coisa:

Não quero morrer.

Não quero morrer.

Não quero morrer.

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2 dias para o Natal

Era quase uma hora da tarde, Claire não se preocupou em dar desculpas esfarrapadas para Emma sobre o que iria fazer. Ela precisava falar com alguém, e esse alguém não tinha ido almoçar aquele dia, ela não sabia dizer se sentia culpa, provavelmente era algo do tipo, embora soubesse que faria tudo de novo. Foi para um bem maior, disse consolando a si mesma. Passou pelo meio da floresta, estava frio como de costume, um inverno rígido, ela abraçou o casaco branco de lã que usava para se manter mais aquecida e andou em direção ao lago.

Em direção a bela garota morena de olhos levemente puxados, a pele perfeitamente bronzeada, não havia maquiagem em seu rosto, Yara não precisava disso, sua beleza já era extrema, Claire não sabia da onde a mulher havia vindo, mas sabia que era de um país pobre, ela a encarava inexpressiva, parecia não querer falar, talvez estivesse mesmo chateada pelo que aconteceu no outro dia.

— Obrigada por vir aqui... — Ela começou — Queria te agradecer pelo que fez por mim ontem.

Yara mal a olhou, apenas se virou encarando o lago, ela usava um casaco de lã enorme, quase maior do que ela.

— Não é como se eu tivesse tido escolha.

Ela claramente não estava contente com o que Claire havia pedido para fazer, há algum tempo Claire viu Yara cochichando e armando. Ela sabia que a mulher guardava coisas estranhas em seu quarto, sabia que havia coisas perigosas lá.

— Eu sinto muito por ter feito você fazer isso, mas era uma emergência!

Ela a olhou de maneira triste.

— Você sabe que não gosto de roubar e maquinar dessa maneira, não quero ter problemas com o senhor Nicolas, sabe o que poderia ter acontecido se tivessem me descoberto pegando aquelas armas de choque?

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora