Sem rainha, sem vitória

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Meu nome é Flora Grossman. E eu, meu querido leitor, sou a escritora desse livro que você está lendo.

O que posso dizer sobre mim? Ah caro leitor... minha vida não é nada interessante, nada mesmo! Bom... para começar, nasci na Alemanha, fui criada em um lar para garotas, tenho vinte e quatro anos, quer dizer, teria se não estivesse morta — insira aqui sua pausa dramática.

Essa frase é tão clichê não concorda? Me sinto extremamente envergonhada em escrevê-la, mas nós dois sabemos que é a verdade já que leu até aqui.

E sim, eu sei que você não está aqui por minha causa, não está lendo esse livro para saber quem eu sou, ou o que faço com a minha insignificante vida. Mas mesmo assim, irei contar um pouco, apenas para contextualiza-lo, ou apenas porque... eu quero, o livro é meu, e tem algo extremamente libertador em escrevê-lo. Não existem regras que me digam o que posso e o que não posso fazer.

Tecnicamente os doutores não querem que eu me lembre da minha vida passada, mas isso é apenas mais um dos erros dos quais eles cometeram, além de terem trazido pessoas de volta à vida é claro, e não, não vou perder seu precioso tempo explicando o porquê de isso ser uma péssima ideia, até porque, se tivessem me perguntado eu nunca iria querer ter saído da minha calma e absoluta morte, da onde, acredito eu, estava bem feliz. Mas já que fui trazida não consigo não querer aproveitá-la ao seu máximo. Posso contar a vocês sobre todos os detalhes entediantes da minha vida patética, posso contar sobre o lar (do qual eu já mencionei, e se você não se lembra, significa que não está prestando atenção o suficiente) em que eu cresci, posso contar sobre o quanto todos me adoravam, sobre como elogiavam meus cabelos encaracolados e loiros ou meus olhos verdes, e em como falavam que eu me casaria e seria feliz, como eu era estúpida por ter acreditado neles.

Por um longo tempo da minha vida, acreditei de fato nisso, que seria feliz encontrando o amor e me casando.

Bom, pulando a parte em que descubro que todas essas coisas não passavam de mentiras, acabei me encontrando terrivelmente solitária, perguntando a mim mesma "qual seria o sentido da felicidade?" E acho que no fim, encontrei.

Dinheiro é claro.

E sucesso.

Para mim o sucesso era me tornar escritora, era meu sonho, um objetivo do qual eu sempre tive de maneira secreta. E quase que em um milagre, descubri que era o que eu queria para a minha vida após ter sido traída em um casamento do qual eu acreditava que seria para sempre, encontrei minha salvação na escrita, como um bote salva vidas, e sei que sem ele já teria me afogado. Esse deveria ser o final da história. Mas não é. Afinal de contas, eu precisava que meus livros fossem convincentes o suficiente para serem aceitos, e não eram.

Mas descobri algo.

Não bastava somente imaginar e criar uma história.

Eu precisava viver ela também.

Agora estou presa em Green Lake, a cidade em que mortos voltam da vida, com desaparecimentos acontecendo... e uma heroína para salvar o dia! Ora meus queridos, não pedi para ser trazida de volta, mas acredito que fui parar em uma mina de ouro. E daqui de dentro, pretendo contar a vocês com todos os detalhes toda a maravilhosa história dessa cidade.

É claro, não posso dar "spoilers" do que vem a seguir, muitas coisas estão prestes a chegar, já vou contextualiza-los de que não sou a vilã, seria muito chato se fosse, não tenho o carisma necessário! Mas não se preocupem, há um vilão, em breve ele irá aparecer, espero que o achem minimamente interessante a ponto de se perguntarem para quem querem torcer.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora