Cidade dos Mortos

Ela nos libertou

Eu estou à espera de Channel, parada em frente ao canteiro de rosas.

Não fiquei nada feliz ao ouvir que precisava falar com ela e fazer com que concordasse com o nosso plano, eu e ela não nos damos nada bem e eu quero o máximo de distância possível entre nós duas. Claire entendeu errado nosso relacionamento, porque eu sou tudo menos próxima daquela garota esquisita. Quanto mais ela se aproxima mais sinto vontade de sair correndo, corram digo para os meus pés, mas eles não me obedecem, então fico parada vendo-a chegar mais e mais perto, ela não olha para mim, olha para o chão, como se nem percebesse minha presença. Seu rosto está inchado, como se tivesse batido em alguma coisa.

— O que você quer? — Ela pergunta sem olhar para meus olhos me enchendo ainda mais de fúria.

— Preciso da sua ajuda.

Ela não parece surpresa ao ouvir isso, na verdade acho que nunca a vi mudar de expressão, sempre a mesma, como quem não liga para ninguém e para nada, em seus olhos de um azul com tons em castanho tudo que eu vejo é um vazio, como se não houvesse nada dentro dela, apenas uma casca.

Como se estivesse morta por dentro.

— Ajuda para que?

Não me preparei sobre como iria contar a ela sobre o plano, estava mais preocupado com a parte de ver ela. Mas tento mesmo assim.

— Vamos passar a noite de natal juntas — Eu digo — Preciso que passe a noite comigo, preciso que me siga, fique ao meu lado e não saia nenhum momento, pode parecer confuso, mas preciso que fique comigo o tempo todo.

— Por quê? — Ela pergunta.

— Confie em mim.

Não parece ser convincente, não parece ser o suficiente, ela não demonstra confiança em mim, não vai aceitar, sou a pessoa errada para isso, ela me odeia. Quando está prestes a dizer algo uma brisa leve soa entre nós duas.

Obedeça.

Obedeça, minha marionete.

Obedeça e você estará livre, apenas obedeça.

E assim ela fecha a boca por um momento calando o que iria dizer e abre-a novamente.

— Sim.

É tudo que diz para mim, antes de se virar para ir embora. Fico chocada com o fato dela aceitar, penso em dizer algo, dar mais detalhes, mas minha boca se cala.

É o suficiente, penso.

•| ⊱✿⊰ |•

"Eu a odeio, eu a odeio com todas as minhas forças, eu a odeio por toda a dor que ela me causa"

Saio correndo para longe da presença de Emma, não suporto o fato de tudo que ela representa, detesto o que ela faz comigo. E detesto Mary ainda mais por ter orquestrado tudo aquilo para mim.

— Garota esperta — Ela diz abrindo os olhos verdes intensos — Eu te disse minha melhor amiga, nós vamos ir embora desse lugar.

No começo minha amiga imaginária não passava de... uma amiga, uma companhia para os dias tristes e vazios, a única em quem eu podia confiar e contar meus segredos mais profundos. Mas com o tempo a máscara foi caindo, e minha melhor amiga foi se revelando, descobri que nunca foi um trabalho feito por minha imaginação fértil para que me sentisse menos sozinha.

Ela não foi feita para eu me sentir melhor.

Foi feita para torturar e castigar.

— Por quê? — Pergunto — Por que ela está fazendo isso?