Isso não é um conto de fadas

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Passei a dormir com Edith, a sua cama era grande o suficiente para caber duas pessoas considerando que ela era a menor do grupo. E todos os dias eu espiava Claire passando com sua cadeira de rodas pelos corredores, ás vezes olhando para o nada, quase sempre trancada em seu quarto.

Paul contou que ela ficaria por um tempo até o dia de seu casamento, para se mudar oficialmente com John em uma mansão que estava sendo construída na ilha. Eu sabia que não deveria me aproximar dela, que deveria deixar as coisas da maneira que estavam, mas era difícil ao vê-la tão sozinha trancafiada em seu quarto, por isso observo enquanto ela pinta um quadro no quintal, mergulhando o pincel em sua tinta azul.

Claire me contou que nunca mais pintou desde que Sofia partiu. Ela nunca pintou enquanto eu estava lá, apesar de ter dado tinta em seu aniversário. Uma paleta de cores que eu havia separado para ela e que queimou junto da casa.

Junto com tudo que era nosso.

Me aproximo dela, usando uma roupa parecida com a da minha irmã, um vestido azul florido, estava com sorte, ninguém havia nos visto juntas, nossos caminhos não se cruzaram.

Ainda.

Não sabia o que fazer a respeito dela, mas sentia que deveria fazer alguma coisa, o problema era que falar com minha irmã parecia mais difícil do que pensei que seria, não estou pronta para isso.

— Se vai ficar aí me encarando ao menos diga alguma coisa.

Levo um susto ao ouvir a voz de Claire sendo direcionada para mim, não percebi que ela havia me notado.

— Ah, sinto muito — Respondo — Eu apenas... gostei da sua pintura.

Ela sorri levemente, não um daqueles sorrisos que costumava dar, um mais reservado.

— Obrigada.

Respiro fundo, segurando aquilo nas mãos e então estendo para ela.

— Trouxe um presente — Balbucio nervosa.

Claire me olha com surpresa.

— Presente pelo que? Não é meu aniversário.

— Considere de casamento — Respondo.

Ela segura o pacote, embora ainda desconfiada.

— Mas hoje não é meu casamento! — Retruca.

Dou de ombros.

— Dei adiantado, esse é seu. Pensei que pudesse ser algum tipo de conforto.

Ela abre a embalagem aos poucos. Observo enquanto ela rasga com delicadeza o papel e toca no livro Alice no país das maravilhas.

Em outra vida, Claire havia me dado aquele livro.

E agora eu estava dando para ela, seus olhos brilham de leve.

— Obrigada.

Ela fala, porém, ainda sinto a tristeza em sua voz.

— Por que achou que esse livro poderia ser um conforto? — Pergunta.

Solto um suspiro.

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