São as regras do jardim

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Abro o porão.

E ali dentro vejo dois rostos conhecidos.

Paul e Júlia olhavam para mim, com Edith ao meu lado. Meu coração galopava, por um longo momento apenas nos encaramos, até que Paul veio até mim e me abraçou, junto de Júlia. Eles se lembravam de mim, de quem eu era, do que fiz. De mim, não do que disseram a meu respeito, não de minha irmã ou de John.

Mas de mim.

E então eu os abracei de volta.

Sinto algumas lágrimas querendo cair, decido permitir depois de tanto tempo segurando.

— Senti falta de vocês — Sussurro.

Paul desajeita meu cabelo.

— As coisas ficam meio chatas quando você não está por perto — Ele dá uma piscadinha para mim, eu rio.

— O que... O que aconteceu?

— Eles não se lembram — Edith começa — As memórias foram apagadas.

— Então como vocês...

Júlia solta um sorriso triste.

— Acho que somos brinquedos quebrados, nossa mente já estava esquisita e eles não conseguiram apagar tudo.

— Por que vocês? — Continuo com as perguntas, ainda era muita coisa para processar.

— Acho que passamos mais tempo nesse lugar, mais tempo com você — Paul responde — Os doutores não devem ter levado isso em conta.

Uma onda de alívio e nervosismo se passa pelo meu corpo com a ideia.

— Mas se isso for verdade, significaria que Lian e Claire...

Assim que cito aqueles nomes os três esquivam o olhar, e todo o alívio se esvai substituído pelo medo daquilo que eu já sabia, mas não queria encarar.

— John sabia da sua relação com eles, não foi o mesmo procedimento com os dois, eles foram quase que resetados. Não fizeram um bom trabalho com a gente, mas fizeram questão de que nenhum dos dois se lembrassem de você — Julia morde o lábio inferior, parece se sentir mal por mim.

Reprimo a facada em meu coração. É claro que eles não iriam se lembrar, seria bom demais para ser verdade.

— Mas a minha irmã...

— Sua irmã... — intervém Edith — É algo complicado, não temos certeza do que ela sabe, nem que tipo de peça é nesse jogo de tabuleiro.

Minha irmã... Lian... Claire...

Eu poderia lidar com eles depois.

— Senti falta de vocês... de todos vocês...

Eles me abraçam de volta.

E pela primeira vez em muito tempo... sei que estou em casa.

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— Bem-vinda a Green Lake Edith!

Ela piscou os olhos cansada, onde estava? O que havia acontecido?

Sua cabeça latejava.

Memórias vão voltando aos poucos, pedaços sendo juntados depois de muito tempo esquecido, como um quebra cabeça com peças faltando. Até que se vê em frente ao homem que destruiu tudo.

— Temos um lar para você. Está morta.

Não foi exatamente isso o que ele disse, mas foi isso que ela captou, palavras que já foram escutadas em uma vida mais antiga, apenas balançou a cabeça como quem tivesse entendido. E deixou que ele a guiasse, o demônio de olhos verdes sorriu.

Cidade dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora