Gato

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"A angústia nem sempre é sobre ser impaciente, talvez seja sobre saber que é preciso esperar mas optar por sofrer antecipadamente".

- Eu esperei tanto por esse momento.
Disse Helena tocando meu cabelo.
Eu sorri, sentei-me ao seu lado na enorme cama que havia naquele quarto e acariciei seu rosto pálido.

- Senti tanto a sua falta mãe, de tantas maneiras e tantas formas.

- Eu sei querida, eu sinto tanto...

- Como você pôde? -Como tiveram coragem de me deixar sozinha todo esse tempo?

- As coisas são tão conplicadas Jully, eu só quero que você seja feliz e fique segura.

- Mas como eu ficaria feliz longe de você  e do meu pai?

- Eu sei querida, eu sei que foi muito difícil para você e eu lhe garanto que para nós foi ainda mais perturbador.

Ela tinha os olhos vermelhos e as lágrimas estavam rondando seu rosto, eu chorava desde que a vi, a tristeza e a dor eram inevitáveis para mim. Vários sentimentos e emoções foram se apoderando do meu corpo e eu apenas queria desaparecer ou acordar daquele pesadelo.

- Eu preciso saber de tudo mãe, preciso saber quem eu sou!

- Tudo?

- Sim!- Quero saber quem é Odete, saber por quê você se envolveu com o marido da sua amiga, saber quem é o meu pai de verdade, saber sobre tudo, sobre a vida que eu levava no Brasil, sem nenhum segredo.

- Eu sei que é complicado entender querida e eu não te julgo, mas não posso te contar tudo, não agora!

- Como assim não pode? Eu exijo isso, eu preciso disso.

- As coisas não são simples Jully.
Ela disse desviando o olhar, eu de imediato me levantei em protesto, era óbvio que isso não bastava  e eu precisava saber de tudo, ela querendo ou não, era meu direito depois de tudo que eu havia passado.

- Não espere que eu desista!
Falei cruzando os braços.

- Você se parece muito com seu pai, na verdade eu o vejo em você.

Helena disse, me chamando para me sentar novamente, eu aceitei, respirei fundo e me sentei ao seu lado.

- O que posso te dizer é que eu fui fraca, devia ter ficado com você mas tive medo de Aurora saber que eu estava viva e não se contentar em me machucar mas também querer machucar você.

- Ela já me machucou mãe.
Eu disse apontando o dedo para os hematomas ainda visíveis em todo o meu corpo.
Ela se entristeceu, seu olhar ficou pálido e suas mãos se juntaram, se apertaram fortemente e intensamente.

- Me diga.
Insisti olhando em seus olhos, olhos tão lindos, tão cheios de amor e luz, cheios de aconchego e paz, onde eu poderia enxergar bem mais que o mundo, uma galáxia inteira.

- Querida, eu posso tentar mas não lhe garanto que você vai gostar do que vai ouvir.

- Eu não me importo.
Afirmei segura sobre tudo o que estava prestes a ouvir.

- Vamos voltar ao passado, seu pai era um homem tão charmoso e misterioso, eu não queria me apaixonar por ele mas quando me dei conta já estava em seus braços quentes e macios.- Aurora sempre me apoiou em tudo mas sobre isso eu não podia esperar sua compreensão, mesmo que o casamento fora aceito para ter paz entre a máfia, ela o amava. - Eu sabia que seria difícil eu e ele ficarmos juntos mas assumi esse perigo sem pestanejar. - Eu vivi por muito tempo escondida, com medo e atordoada, não conseguia comer direito e me sentia sempre com sono, com náuseas e dores nas costas, foi quando descobri que estava grávida de você meu amor.- No começo me desesperei, como eu cuidaria de um bebê, um ser tão pequeno e frágil, que seria completamente dependente de mim, eu estava muito perdida. -Seu pai quando recebeu a notícia ficou imensamente feliz, seu maior desejo era ser pai e eu estava proporcionando isso a ele no fim das contas. - Se passaram meses e quando você estava quase nascendo sua avó veio nos visitar e trouxe consigo sua tia Carla que de imediato se apaixonou pela minha enorme barriga. Elas ficaram conosco algumas semanas e logo foram embora, mas em seguida veio a mãe de Christopher, sua avó  Odete Louise Morgaz.

Aos 18Onde histórias criam vida. Descubra agora