História

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A escuridão consegue facilmente corroer a alma dos impuros, ela vai navegando pelo seu corpo sem dificuldade, infecta seus órgãos mais necessários e os obriga a parar de funcionar.
A escuridão sufoca as pessoas de uma maneira assustadora, às faz querer desistir do infinito, querer esquecer de tudo o que já viveu anteriormente e não desejar viver o que há por vir.

Você deve estar pensando, como ela suportou tudo aquilo calada, sozinha e desamparada, anos de sua vida sendo motivo de risadas; "olha lá vem a órfã estranha" " Eu não quero ser amigo dela!"
Isso são coisas que marcam o coração e a mente de qualquer pessoa em sua sã consciência. A dor de não ter um destino ao qual voltar é maior que qualquer outra. Sentir que não existe ninguém no mundo que você possa ter um laço, acaba com as forças e deixa a escuridão eterna adentrar e destruir todo o seu interior.
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Seus olhos famintos por dor e desespero estavam tristes e vermelhos, eu não tinha nenhuma reação diante da revelação que ele fizera, um sentimento dentro de mim estava querendo sair para fora, ele pulava e sacudia meu estômago até eu ter náuseas.

- Jully fale alguma coisa por favor!
Ele pedia com lágrimas abundantes escorrendo por sua face.

Eu apenas o olhava, sem expressão nenhuma no rosto, a dor tomara todo o meu cérebro e eu não conseguia me mexer mais,  como se estivesse petrificada.
Ele veio com sua mão para que pudesse me acariciar, mas eu a empurrei forte para longe de mim,  sentia uma angústia tão grande que não podia suportar ser tocada por ninguém.

- Não me toque!
Falei me levantando.

- Me perdoe por esconder isso de você... Eu...

-Cale-se! Gritei
-Eu não acredito em mais nada que você diga!- Minha mãe está morta, ouviu? -Morta!

- Não Jully sua mãe está viva.
Ele afirmou novamente.

- Como você pôde? - Como vocês puderam fazer isso comigo!

- Deixe-me explicar!

- Eu não quero ouvir mais nada que venha de você! - Dezoito anos da minha vida sofrendo por uma pessoa que nem sequer está morta de verdade, todos mentindo para mim esse tempo todo!

- Isso foi para o seu próprio bem, entenda! Ele contestou se levantando.

- Meu bem? - E de que isso me serviu? Passei toda a minha vida em um lugar onde todos me odiavam, sozinha e amargurada, sem o amor de um pai e uma mãe, e você vem me dizer que isso foi para o meu bem? Hipócrita!!!

- Eu..., eu sei que foi horrível.

- Você não sabe de nada!
Gritei, deixando a emoção tomar conta do meu ser, chorando feito uma criança com medo do escuro ao anoitecer.

Ele veio em minha direção mas me esquivei, e num frenesi de emoções lhe dei um tapa no rosto que deixou uma marca vermelha em sua bochecha.
Ele balbuciou se virando de costas pra mim.

- Onde ela está?
Perguntei trêmula

Não houve resposta, e isso me enfureceu, repeti a pergunta mas ele se recusou a me responder. Coloquei-me a sua frente e vi que ele chorava feito um bebê recém nascido, cabisbaixo ele olhava para os pés, segurei em seu queixo e levantei sua cabeça cansada.

- Olhe para mim! Olhe como estou. - Você não vê o que estou passando? Eu estou toda machucada, por dentro e por fora, ela me espancou, ela cortou meu cabelo, ela tirou a minha vontade de viver, ela me odeia mais que tudo e não vai desistir de me matar, porque ela sabe que eu sou o fruto do seu amor com minha mãe, ela jamais irá desistir. Então eu preciso vê-la, preciso conhecer a minha mãe antes que Aurora me mate!

Aos 18Onde histórias criam vida. Descubra agora