Querida Jully

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Eu não achava que Ares poderia se deixar levar por uma paixão. Ela me parecia tão forte, para cair em uma dessa. Meu pai deve ser incrível, pensei sorrindo.
- Vocês estão juntos?
- Não. Ela respondeu com um semblante triste.
- Mas por que?
Eu estava desapontada, Ares é linda e gentil. Não entendo por que meu pai não estaria com ela.
Ela respondeu, com um sorriso sem graça no rosto.
- Quando me apaixonei por ele, ele era casado.
- A sim! É mesmo.
Falei meio constrangida por ser minha mãe a mulher dele.

- Mas não era com a sua mãe.

Como assim? Pensei. Meu pai teve outra mulher antes da minha mãe?! Ou depois?  Estava me perguntando o por que eu tinha um pressentimento ruim.
- Meu pai se casou depois ou antes da minha mãe?

Ela não respondeu, apenas olhou pela janela suspirando. Eu vi que aquele assunto não a fazia bem.
Me lembrei da caixinha pegando-a do banco e abri. Ela voltou seu olhar para mim.
- Está preparada para isso?
Ela perguntou preocupada.
- Sim. Respondi sem graça.
Ela assentiu e deu um tapa na cabeça de Edgar que dirigia a nossa frente.
- Estou vendo Edgar, tire os olhos dela.

- Eu? O que eu fiz Ares?
Indagou ele.

- Eu vi, seus olhos no retrovisor.

Ares disse sorrindo alto. Edgar não respondeu mas pude ver que parecia envergonhado.
Também sorri, para não deixa-los constrangidos.
- Eu não gosto de machões!
Falei virando os olhos, os dois sorriram alto.

Peguei aquele envelope e terminei de abri-lo.
Havia um pequeno texto feito a mão.

"Querida Jully"

Seu sorriso é o mais lindo e angelical.
Sua alegria é a minha força.
Seus lindos cabelos ao vento sopram a vida para mim.
Você é a florzinha mais linda do mundo.
Hoje é um dia muito especial para você.
O dia que minha bonequinha nasceu.
Linda e singela.
Com os olhinhos mais brilhantes da terra.
Me perdoe por não poder estar com você nesse dia.
O papai teve que fazer uma viagem.
Você ainda não sabe ler, mas a titia irá te ajudar.
Em breve estarei contigo.
Feliz 5 Anos querida.
Beijos
Papai Christopher!

Ares me olhava curiosa, parecia quer saber o que eu estava pensando, mas ao me olhar dava para notar que eu não tinha reação.
Por dentro uma onda de desespero me tomou.
Ao ler essas palavras meu coração começou a chorar, e as lágrimas invadiram minha face.
Ares me abraçou, eu soluçava sem parar.
Edgar não disse nada.
- Jully você está bem?
Ares finalmente perguntou me afastando de seu peito, com carinho.
- Acho que sim Ares.
- Você quer continuar?
- Sim quero, por favor.
Ares não foi contra. Eu estava confusa com meus sentimentos, ler essa carta me abalou.

Trêmula peguei mais um envelope e abri devagar. Era outra carta escrita a mão.
No primeiro momento tive receio de ler e entreguei-a para Ares que já percebeu o que eu queria. Tossiu de leve e começou a ler.

Querida Jully

Seu sorriso é o mais lindo e angelical
Sua beleza é a mais pura e verdadeira.
Seus lindos  cabelos ao vento sopram vida para mim.
Hoje é um dia muito especial para você.
Sei que está com saudades do papai.
O papai também. Te amo muito e estou com muitas saudades.
O papai não pode voltar agora mas guardo você em meus pensamentos.
Querida Feliz 6 Anos.
Beijos boneca.
"Papai"

Eu a encarei segurando o choro.
Olhei para Edgar que não dava uma palavra.
Prendi a respiração  e abri o quarto envelope. Nele havia uma foto de um bebê recém nascido no colo de um homem. Ele tinha um semblante feliz e satisfeito. Eu estava tremendo e aflita.
Observei cada detalhe da foto.
Esse homem era o meu pai, eu tinha certeza. Cabelos grisalho, sorriso perfeito. Me parecia muito sofisticado. Com uma camisa social, sentado em uma poltrona de veludo vermelho.
Der repente reconheci o local da foto. Era o hotel em que eu e Ares nos hospedamos em Porto Alegre. Eu a olhei e franzi o cenho tentando entender o por que daquela foto estar alí.
Ao olhar o verso da foto, pude ver uma pequena frase escrita a caneta.

Papai e Jully com duas semanas de nascida. Indo conhecer o vovô.
Te amo querida.
Com amor Christopher.

Ares apertou minha mão, ela havia percebido que eu não estava bem.
Abri mais um envelope. Outro desejando Feliz aniversário de 7 anos. Com as mesmas lindas palavras dos anterioes.
Eu ia abrir mais um, mas Ares me interrompeu.
- Jully você não acha melhor deixar o resto para depois?
- Por que Ares? Por que eu não me lembro de ter recebido nenhum desses bilhetes do meu pai?!!
- Por que eles nunca foram entregues a você.
Eu não havia entendido.
Ela percebeu e começou a explicar.
- Seu pai sempre te escreveu, mas seus tios Carla e Sebastião nunca lhe entregaram as cartas. - Eles esconderam de você que seu pai estava vivo, e inventaram uma história absurda, para que você o odiasse e não tentasse procurá-lo.

- Mas por que?

- Isso só o seu pai pode te dizer.

- Então vamos até ele Ares.

- Não é tão fácil assim querida.

- Mas eu preciso vê-lo.

- Eu Sei, mas não é tão fácil Jully, depois vc entenderá.

Eu não queria aceitar. Eu queria vê-lo e perguntar tantas coisas.
- Você precisa descansar Jully.
Edgar disse de uma hora pra outra.

- Eu nao estou cansada. Falei.

- Mas você precisa. Ele respondeu severo.
- Mas...
Antes de eu responder Ares interrompeu:

- Chegamos.

Olhei pela janela e vi a cidade em um dia normal.

Ouvi Ares dizer que era Quarta-Feira e o sol estava baixinho com nuvens ao redor.
Sorri aliviada, por Nero não nos ter encontrado.
Eu queria muito saber para quem ele trabalhava, porém tive receio em perguntar.
Ares parecia não saber. Me lembro de ouvir ela questiona-lo para saber quem o comandava.
Eles pareciam ter uma conexão  passada, algo que os ligasse de alguma forma.
Edgar parou em frente ao Aeroporto descendo e abrindo a minha porta.
Eu saí e o encarei levantando a sobrancelha.
Ele sorriu e saiu andando em frente.
Logo Ares me acompanhou, estava com a caixa na mão. Eu ainda iria descobrir muitas coisas.

Entramos no Aeroporto, mas Edgar já estava com as passagens para o México então não precisávamos comprar.
Eu nunca havia saído do País, isso me deixava ansiosa e aflita.
Voar não era uma boa idéia, e minha primeira experiência com vôos não me deixou boas lembranças.
Após uns minutos de espera, embarcamos. Tentei relaxar no meu assento, Ares estava ao meu lado novamente. Pensei em escutar música, mas meu celular havia ficado na casa do Romero. Ou melhor  meu avô.
Fechei os olhos e tentei dormir, mas a aeromoça passou com aqueles carrinhos cheios de comida. Maravilha! Eu estava com muita fome. Primeira vez que vi Ares comendo, Edgar não aceitou.
Ótimo uma boca a menos.
Após a refeição resolvi dormir um pouco. Me aconcheguei na poltrona e adormeci.
Eu não conseguia mais sonhar, acho que era porque minha mente estava muito pesada.
Eu sentia saudades de casa, mas queria entender o por que meus tios haviam mentido.
Saudades do pessoal da biblioteca e suas aventuras idiotas, senti até falta da escola sem amigos. Acho que o Conselho tutelar havia batido na minha porta com certeza.

Ouvi um barulho, era o avião pousando.
Mas já? Dormi demais de novo. Pensei.
Ares me olhava cansada. Parecia que ela não dormia direito a um século.
Edgar lia uma revista que dão no avião para os passageiros.
Novamente aquela mesma mensagem do Co-piloto.

- Senhor passageiros, a viagem foi um sucesso!

Me levantei e comecei a andar devagar, ajeitando meu cabelo bagunçado.

Quando as portas se abriram. Entrou o calor, um calor muito forte, parecido com o de São Paulo.
Fechei um pouco os olhos olhando para o céu, o sol estava se pondo graciosamente.

Ares desceu primeiro, consertando a jaqueta.
Edgar apareceu ao meu lado colocando seu braço ao redor de meu pescoço.
Eu o encarei tentando entender o porquê daquilo.
Ele sorriu e disse.

- Olá doçura! Bem vinda ao México.

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