Aos 18

Vovó

Acima de nós está o céu, acima do céu o espaço, acima do espaço está o universo, mas o que há acima do universo?

Você acreditar em algo não tira a capacidade de outras pessoas acreditarem em algo diferente, você supor algo, não o concretiza. As pessoas tentam encontrar os motivos certos para a existência, e eu vos digo que não a motivo algum, não a razão alguma, apenas existimos e devemos agradecer por esse privilégio. Afinal você acredita em hipóteses e explosões, eu acredito que isso não seria suficiente para criar tantas possibilidades e diversos jeitos diferentes de dizer que está errado. Existe algo maior que nosso questionamento sobre o mundo e as coisas nele existentes, e isso sim é o motivo de estarmos aqui, esse algo vive e se você não aceita sua existência eu apenas sigo acreditando no óbvio.

- Pelo visto você ainda está alimentando essa idéia absurda Helena.

Eu conhecia essa voz, era familiar e acolhedora, me dava medo e ao mesmo tempo aconchego.
Quando me virei para olhar quem estava na porta, me deparei com a figura enigmática de Odete, ela estava vestida um vestido branco, com um chapéu antiquado. Ela também usava luvas brancas e sapatos pretos, como uma legítima madame da sociedade antiquada. Ela me olhava fixamente com o olhar confuso e ao mesmo tempo aliviante.
Helena se levantou e foi ao seu encontro lhe dando um enorme abraço, um abraço de saudade. Eu fiquei ali parada sem quaisquer reações, mas as emoções em meu interior me deixavam atordoada, afinal aquele era minha avó, que estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim.

Após Helena sair de seus braços Odete me chamou fazendo um sinal com a mão, isso me deixou com receio de me aproximar dela, mas não consegui me conter, a emoção de saber que ela era minha avó era maior.

Me joguei em seus braços sem medo algum e ela me recebeu com todo o calor possível, pude ver seus olhos vermelhos se fecharem, senti uma dor profunda, uma dor que logo se dissipou dando lugar ao alívio de estar com ela.

- A quanto tempo não te vejo minha querida neta.

- Eu sei, você parece menos mal humorada agora.

Eu disse sorrindo de leve, ela piscou para mim e tocou meu rosto dolorido, ela tinha um olhar áspero e decepcionante, eu tentei sorrir de novo mas ela logo disse:

- Aquela mulher impiedosa teve a coragem de te machucar, eu não posso deixar isso passar.

- Não se preocupe eu estou bem, estou aqui e é isso que importa.

- Você estar aqui e saber de toda a verdade me deixa aliviada Jully, eu não aguentava mais esconder isso tudo de você, sempre que te via voltar da escola com um olhar triste eu imaginava como seria tudo diferente se você estivesse conosco.

- Esse segredo me fez sofrer muito Odete, digo, vovó.

- Eu sei minha querida e acredite, sofremos tanto quanto você.

Ela parecia mesmo estar triste e dasapontada por termos vivido separadas todo esse tempo.

- Mas agora que estamos juntos novamente eu não quero me separar de vocês.
Eu disse confiante indo em direção de minha mãe que estava novamente sentada a cama, pensativa.

Ela sorriu mas logo o sorriso sumiu, vindo em seu olhar muita rigidez.

- Helena, eu já lhe pedi para parar com essas idéias de que Aurora está possuída, você sabe que isso é apenas fruto da sua imaginação.

- Não, não é Odete, ela está possuída e busca se vingar de nós.

- Já basta Helena, não confunda a cabeça da sua filha, após tanto tempo sem vê-la você prefere falar coisas sem nexo, ao aproveitar para abraça-la?