Abra os Olhos

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Eu podia sentir uma sensação boa e ao mesmo tempo confusa.
Como Ares poderia ser irmã de Dominik? Isso nunca havia passado pela minha cabeça.
Eu não sabia o que falar, estava surpresa demais para expressar quaisquer palavras.
Dominik me olhou por alguns  instantes, pude sentir que ele estava esperando algum comentário sobre sua fala anterior.

- É... ammm.... Sério que vocês são irmãos?
Perguntei fixando meu olhar em seus olhos.

- Sim.
Ele respondeu se levantado e recolhendo os pratos da mesa.

- Mas.. Como vocês? Eu não entendo...
Falei coçando a cabeça.

Ele se virou e foi em direção à pia.
- É uma história muito longa.
Ele disse suspirando.

- Eu gostaria de saber!
Falei me levantando e seguindo em sua direção.

- Talvez um dia.
Ele disse se virando para mim e colocando alguns fios de cabelo soltos atrás de minha orelha. Eu automaticamente corei, fiquei meio que com vergonha de ser tocada por ele.

Eu nunca havia sentido atração por alguém, e não entendia como aquele homem que eu mal conhecia podia me deixar tão trêmula e inquieta. Parecia que eu o conhecia de outros tempos, outra vida onde éramos algo a mais, não sei explicar ao certo.
Eu não acreditava muito nessas coisas de alma gêmea, mas sentia que tinha algo que me prendia àquele homem.

- Você quer ajuda?
Perguntei, quando me dei conta que ele estava lavando as louças.

- Não precisa.
Ele respondeu aleatoriamente.

Me virei e admirei o céu através da enorme janela da cozinha, ele estava lindo, azul e brilhante. O sol refletia seus raios em meio as flores do jardim, era esplêndido.
Um pensamento veio a minha mente,
eu me sentia inútil e incapaz. Tudo aquilo estava acontecendo comigo e eu não conseguia fazer nada. Eu apenas olhava Ares se arriscar por mim, todos ao meu redor fazendo algo, sendo necessário e não se sentindo um fardo como eu me sentia.

Dominik terminava de lavar as louças, ele me transmitia paz e segurança e eu confesso que gostei de saber que ele e Ares eram apenas irmãos.

- Dominik quero ver o meu pai novamente.
Falei meio triste e ao mesmo tempo aflita.

- Você verá ele no dia do seu aniversário.

- Só daqui dois dias? Eu preciso esclarecer tantas coisas.
Falei inconformada.

- Não seja impaciente Jully, não falta muito tempo.

- Mas e se até lá aqueles caras vierem atrás de mim de novo???
Falei colocando as mãos na cintura, com um semblante de indignação.

- Eu não vou deixar que te machuquem... Digo eu e Ares não deixaremos.
Ele falou saindo de perto de mim rapidamente e indo em direção à geladeira.

Eu levantei a sobrancelha e o segui falando sem parar.

- Vocês não entendem Dominik, não quero que arrisquem suas vidas por mim, eu quero que vocês fiquem bem.

- Eu sei, mas esse é o nosso trabalho.
Dominik apoiou suas costas na geladeira enorme  cruzou os braços masculos e atraentes e me olhou com um olhar mais rigoroso que o de antes.

Eu não queria me conformar em ser um fardo para ele e Ares, queria ser útil e saber o porque dessa perseguição misteriosa.

- Eu quero ser útil.
Falei sentado-me na mesa e apoiando meus braços para trás.

- Você não é inútil.

- Sou sim! Vocês lutam, se machucam se arriscam por mim e eu não posso fazer nada.

- Mas nós somos treinados para isso.

- Mas Dominik...

- Não seja tão teimosa!! Você as vezes fala demais.
Ele disse em tom alto e sério. Eu não disse nada apenas me levantei e fui em direção à porta.

- Você não vai conseguir abrir.
Ele disse bocejando.

- Dane-se!
Falei nervosa e apertei todos os botões que vi na minha frente. A porta fez um barulho estranho, mas por fim se abriu.
Olhei para Dominik e levantei a sobrancelha.

- Ótimo.
Falei saindo da cozinha rapidamente.

Pude ouvir seus passos me seguindo, olhar para trás não era uma opção aceitável naquele momento de rebeldia.
O jeito como ele me tratou me deixou meio triste, e mesmo assim me pedia para esperar mas eu não fazia nenhuma questão de responder. Eu apenas queria ficar sozinha e pensar em tudo que eu estava sentindo desde aquele dia quando eles me abordaram na rua.
Apressei-me e subi as escadas freneticamente, Dominik veio em seguida.
Adentrando no quarto em que eu havia dormido, bati a porta com força. Olhei ao meu redor e só via gatos e mais gatos na parede.

- O que estão olhando?
Falei encarando os quadros na parede.

Não havia sinal de Dominik, ele não abriu a porta para me dar um sermão daqueles.
Me sentei na cama e vi a caixinha de bilhetes na cômoda ao lado, estiquei os braços para poder pega-lá.
Faltava 5 bilhetes para serem abertos, e eu não queria pensar em Dominik. Resolvi ocupar minha mente lendo o que o meu digníssimo pai escrevia.

Abri dois bilhetes, um era uma foto minha no colo de meu avô Romero, ele sorria me parecendo muito feliz e pelo visto eu era bem nova, um bebê ainda.
O outro era um bilhete desejando feliz aniversário.
Suspirei e abri o resto dos bilhetes, lendo a mesma coisa dos anteriores.
Meu pai me desejando feliz aniversário.
Mas o último bilhete era meio estranho e confuso.

Querida Jully, hoje você se torna uma garota mais madura e esperta. Eu amo você mais que tudo. Sei que está confusa e deseja esclarecer suas dúvidas.
Eu estou com muitas saudades mas não posso ir ao seu encontro.
Ainda...
Querida, daqui pra frente você encontrará vários obstáculos na sua vida. Vença-os e cresça.
Eu sei que você é forte.
Cuidado com os relâmpagos, eles andam na escuridão da noite e querem sangue.
Querida abra os olhos e não confie em ninguém.
Em breve estaremos juntos.
Feliz 17 anos minha flor.
Papai.

Muitas coisas naquele bilhete não faziam sentido algum para mim. Suspirei desapontada e guardei a caixinha embaixo da cama.
Me deitei e fiquei matutando na minha cabeça aquela frase que eu já havia visto antes.
Abra os olhos e não confie.
Eu tentava decifrar essa frase loucamente, mas nada vinha na minha cabeça.

Ouvi um barulho de carro se aproximando, me levantei rapidamente e fui em direção à janela para poder checar quem havia chegado.
Puxei a cortina para o lado e pude ver o carro estacionando no jardim.
Eu não sabia quem era, eu não sabia o que queria e sinceramente eu estava com bastante medo.
Pensei em chamar Dominik, mas com certeza ele já estava à espreita.
Após alguns segundos eu pude ver a porta do carro se abrindo dando lugar à figura de Ares.
Suspirei aliviada por ver que era ela.
Fechei a cortina e fui em direção à porta ansiosa para revê-la.
Abri rapidamente e andei em meio ao corredor.
Coloquei as mãos no corrimão e desci depressa.
Chegando  à sala eu estava um pouco ofegante, suspirei e segui em frente para a porta mas algo me impediu de continuar.
Pude ouvir Ares conversando com Dominik, sua voz estava fria e distante.
- Onde ela está?

- No quarto Ares.

- Você verificou as câmeras?

- Sim, tudo certo.

- Amanhã sairemos de manhã.

- Para o presídio?

- Sim Dominik.

Eu ouvia atentamente tentando não fazer barulho para não ser descoberta.
Ares falava com rapidez e desânimo.
- Prepare-se Dominik, pegue as munições que estão no porão e recarregue as armas.

- Entendido.

- Teremos que ter cuidado.
Ares falou após uma longa pausa na conversa dos dois.
Dominik respondeu logo em seguida.
- Por que?
Ares não esitou em dizer.

- Com certeza Nero estará a nossa espera.

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