Aves

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Christopher*

Eu não estava sendo totalmente sincero com a minha doce Jully, mas como eu seria? Havia tantas coisas em jogo, tantas preocupações martelando em minha mente. Era como se o desespero já tivera ocupado todo o meu psicológico.
Trancado, a tantos anos longe dela, por algo que eu não fiz, mas que valia a pena estar pois Ares sem dúvidas era a mais fiel de todos os meus subordinados. Era ágil, forte, esperta e competente, bem difícil de ser substituída.
E eu sabia que por certo ela era a pessoa ideal para proteger Jully mais a frente,
seu irmão estava trabalhando conosco por motivos familiares que eu não costumo gostar de lembrar, eram acordos e mais acordos, tratos que deveriam estar escondidos para todos e por isso me sentia tão falso em não dizer toda a verdade a minha filha.

Na verdade eu sempre estava com a culpa entrelaçada em meus órgãos, era como se fosse impossível retira- la de meu interior.
Eu não tive escolha, era para o bem de Jully, era para o bem de todos que eu amava, talvez ela pudesse me entender algum dia, ou me odiar por tais atitudes que eu havia tomado no passado. Eu não sabia ao certo, mas sentia uma angústia e um medo que eu não sentia a tempos.

Me lembro dos olhos brilhantes de Helena, do seu sorriso que me deixava ainda mais encantado, todas as nossas idas ao museu e seu enorme fetiche por aves de caça. Ela era a mulher mais bela e doce que eu havia conhecido, seu lindo cabelo era repleto de cachos magníficos, uma cor vibrante e um brilho estonteante.
Vivemos dias felizes juntos, éramos uma família feliz apesar dos problemas com o tráfico de diamantes e a procura de Aurora e Valentim por vingança.
A Argentina estava sofrendo uma grande queda na taxa de vendas e o comércio estava se voltando para compras exteriores, principalmente direcionadas ao México e a Colômbia, onde por alguns anos eu estabeleci uma aliança com o chefe referente ao tráfico intensivo de pedras preciosas, não só o diamante,  mas também a esmeralda e o rubi.

Era difícil para nós conseguirmos ter uma vida tranquila e estável, um medo enorme me assombrava, um medo de perder Helena, e mais a frente de perder meu mais precioso bem, o que valia mais que todos os diamantes que eu adquiri durante muito tempo, minha linda e amada filha.
Era uma escolha difícil ter que abandonar o modo de vida em que eu já estava predestinado a viver. Meu pai havia deixado praticamente toda a responsabilidade dos negócios para mim, ele se aposentara da vida de mafioso e queria viver uma vida sem graça e tranquila perto de um lago onde pudesse pescar aos domingos e tomar seu chá de folhas secas suecas.
Na verdade eu tinha inveja de meu pai, pois ele podia escolher o que faria, escolher sua nova vida sem ter que se preocupar com a aprovação de alguém.

Eu sempre sonhei em ser um advogado famoso e ter vários méritos a serem recebidos e divulgados, defender algo que eu achasse certo ou até mesmo julgar meus próprios conceitos, mas quando minha mãe descobriu os negócios ilegais de meu pai, minha ficha para a justiça estava suja.

Minha mãe, minha doce mãe, eu não dei a ela o seu devido valor, não dei a ela o orgulho que ela tanto almejava de mim.
Eu me sentia completamente um fracassado por não ter dado a ela seu merecido orgulho maternal.
Ela se escondia nas sombras, como um corvo negro, ela não é má, mas não é a pessoa mais indicada para você brincar de enganar, tanto tempo comigo e ainda assim eu voltei para o abismo.

Onde ela está atualmente eu não sei, se ela sabe que estou preso? Isso é um mistério ao qual não me interesso muito em descobrir.
Ela está por aí, observando o sol nascer e se por, cuidando das rosas que sempre amou, com certeza em sua casa deve haver um belo jardim, com rosas, tulipas e girassóis. Flores que ela sempre cuidava, plantadas na varanda de nossa casa, onde os mais lindos pássaros gostavam de pousar e cantarolar, suas melodias infinitas esperando o luar.

Não era tão esperado de mim, pensar no meu passado e nas escolhas que já fiz,
mas ficar deitado o dia inteiro em uma cama sem travesseiro com dois companheiros de cela que mais pareciam psicopatas em série, era algo cansativo.
Eu já havia lido inúmeros livros durante a minha estadia no presídio, a noite era mais curta que o dia que mais parecia uma eternidade.
Eu não conseguia pensar muito em quando ou como eu sairia da prisão, minha filha era minha mais louca preocupação. Dificilmente eu me importava comigo ou com o que viria pela frente.
Eu devia estar lá, eu devia retribuir tudo que Catrina havia feito por mim e minha família, eu não me importava comigo e sim com elas.
Eu não queria um futuro de injustiças e maldade para Jully, eu não sei quem poderia ser o meu sucessor, mas minha filha era a minha última opção pois ela não havia nascido para o mundo do crime, cheio de perigos e mortes, cheio de dor e sangue.

Aos 18Onde histórias criam vida. Descubra agora