Enigma

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É impressionante como a vida de alguém pode mudar, como você subitamente sente falta de tudo, sente que perdeu tudo ou que nunca mais verá sorrisos sinceros.

Não havia reação em meu corpo inteiro, eu não conseguia falar nada. Não por medo, nem desespero, apenas porque estava em um tipo de frenesi de escuridão. Encarei as nuvens, livres pelo céu, sendo deixadas para trás pela velocidade do avião.
Eu estava exausta, precisava de um banho, de relaxar ouvindo um Rock suave, fechar meus olhos para que não caísse shampoo, e comer um pedaço da incrível torta de limão da minha tia.
Gostaria de saber o porque estava sendo levada embora daquela maneira, sem explicações e sem vontade própria.
A mulher me parecia tranquila demais, como se não houvesse mais preocupações, como se o mundo estivesse em um cubo impenetrável.
Fiquei olhando-a, procurando uma maneira de pergunta-la quem ela era, e aonde íamos. Ao que parecia ela nem tinha se dado conta que eu estava a observando, como se eu não estivesse ali.
- Aonde vamos? Perguntei bocejando.
Ela me olhou lentamente, achei que não responderia nada, que fingiria não ter escutado.
- Você acordou! Ela respondeu.
Lógico! pensei," estou olhando para você querida."
- Eu te fiz uma pergunta! Retruquei ofendida.
- Talvez eu responda, mas não agora. Ela foi direta.
Eu ia apelar novamente mas a aeromoça veio fazer um comunicado.
- Senhores passageiros por gentileza apertarem os cintos, o avião  irá pousar, por favor permaneçam em seus assentos, obrigada.
"Bla bla bla bla bla" pensei, ela falava com uma calma  que me deixava incomodada. Verifiquei o cinto como a moça  pediu e a mulher misteriosa fez o mesmo, eu não disse, mas estar em um avião não me fazia muito bem, altura me dava náuseas.

Me lembrei do meu celular, meus tios não haviam me ligado, mas por que? Será que não estavam preocupados? Eu não podia verificar nada, não é permitido usar celulares em pousos pensei. Fechei os olhos e esperei a força da aterrissagem me fazer balançar, após dois minutos senti que o avião se encontrava com a pista, bem levemente.
Pensei: "Ufa estou viva!"
Consequentemente o copiloto através de um microfone da cabine, falou alegremente:
- Senhores passageiros o vôo foi um sucesso, obrigado!
Quando retirei o cinto, ela já  estava de pé pronta para irmos, me levantei e a segui sem dar alguma palavra.
Quando saímos do avião me deparei com a pista toda molhada, uma brisa tranquilizadora e várias luzes em postes fazendo fila até o fim da pista. Estava frio, o vento tocava meu corpo me fazendo arrepiar, parecia madrugada, uma madrugada muito linda por sinal, me lembrei do celular  e peguei a mochila enquanto a desconhecida seguia mais a frente, eu não via os outros dois caras, me parecia que seguiram outro caminho. Pronto estava explicado, eu não tinha bateria alguma, o celular estava desligado, esse era o motivo pelo qual não havia notícias dos meus tios. Desapontada voltei o celular para a mochila e me encolhi andando mais depressa.
Quando me deparei quase todos haviam sumido, comecei a andar lado a lado com a mulher, ela olhava para frente ereta como um robô. O aeroporto era enorme e tinha portas de vidro largas como nunca vi, todo lugar que eu olhava havia guardas observando o terreno.

Entramos no aeroporto e eu a segui, não sabia para onde íamos mas queria muito saber.
Ela me olhou der repente  e disse:
- Jully você  está com fome?
Oh Glória finalmente! "Comida!" Pensei.
Respondi com um devido entusiasmo.
- Sim, e muita.
- Vamos.
- Aonde?
- Apenas venha! Respondeu- me com um tom autoritário.
A segui conformada, como não havia malas saímos de mãos vazias.
Observei a saída do aeroporto, era enorme rodeada de prédios azuis com branco. Fiquei tão  admirada que quando me dei conta ela já havia pedido um táxi. Um carro amarelo com um adesivo estanho parou ao nosso lado, ela fez um gesto para que eu entrasse no carro e assim ô fiz.

Enquanto íamos eu observava as luzes e os carros, me lembrando de casa e sentindo um aperto no coração.
A cidade era gigantesca e moderna, os designers dos prédios e lojas me intrigavam, mesmo estando escuro era tudo tão iluminado e feliz. Eu queria saber onde eu estava, e antes mesmo de eu perguntar qual o nosso destino o táxi parou em frente a um hotel, eu desci do carro no frio da noite cruzando os braços.
O hotel era o mais lindo que eu havia visto, enorme e exuberante, com um nome um tanto peculiar "El faro". Quando entramos na recepção eu quase cai o queixo, era toda dourada com branco, com um enorme lustre resplandecente, janelas enormes com cortinas de seda lilás, havia várias poltronas de velúdo vermelho, uma enorme escada dourada e vários elevadores com tom de Prata brilhante e ofuscante.
Vasos enormes com plantas fantásticas, um lugar cheio de funcionários prestativos pelo que parecia.
Alguns vieram e atenderam com muita educação a mulher. Dada as circunstâncias eu pensei: "Onde vamos arranjar dinheiro para pagar isso?! Esse hotel deve ser muito caro."

Olhei para baixo, meu tênis estava pior, molhado e me deixando constrangida, estava parecendo uma sem teto.
Aquele chão tão lindo não merecia um tênis como o meu, uma madeira tão brilhante que podia ver o rosto claramente.
Perdida em tanta beleza e luxo eu fui tirada dos meus pensamentos por aquela mulher misteriosa.
- Venha comigo.
- Aonde?
- Apenas venha.
"Droga! Essa mulher nunca me responde direito." Pensei indignada. Mas ela teria que falar.
- Eu não saio daqui enquanto você não me dizer onde vamos! E por que estamos nesse hotel 100 estrelas?! Falei em tom sério.
- Na verdade são 5 estrelas. Ela respondeu calmamente.
- Blá blá blá, você  está brincando comigo, responde logo ou eu grito.
Ela arregalou os olhos, ótimo te peguei.
- Lá  encima eu te explico. Ela sussurrou em meu ouvido.
- Jura?
-Sim.
- Então vamos lá! Respondi tediosa.
Andamos até o elevador do hotel, ficamos em silêncio encarando o teto, até que a porta do elevador abriu, e nos deixou em um corredor cheio de quartos.
Andamos pelo corredor, até que ela parou enfrente a um quarto, número 345 ela pegou a chave e abriu a porta.
Eu sem acreditar perguntei: - Estamos mesmo hospedadas aqui?
- Sim. Creio que ficaremos apenas essa noite.
- Não vamos parar de andar por aí?
- Va tomar um banho! Ela disse seriamente.
- Não tenho roupa. Respondi triste.
- Não se preocupe com isso. Ela disse.
Entrei no quarto, logo em seguida escutei o ranger da porta, ela saiu e me deixou trancada como um animal na jaula.
Eu suspirei e admirei o quarto, enorme cheirando á lavanda, com uma enorme janela de vidro que dava para uma vista perfeita do nascer do sol, duas camas de solteiro que mais pareciam de casal, a decoração era elegante com quadros incríveis e cortinas de seda dourada, havia um enorme tapete de velúdo marrom envolta das camas, uma sacada enorme que nem parecia ser real. Sentei na cama para pensar um pouco até que percebi, um envelope branco, eu não dei muita importância até que percebi meu nome escrito nele, eu o peguei assustada e o abri.
Com as mãos trêmulas retirei o papel e li a seguinte frase:
Querida, abra os olhos e não confie.
Eu fiquei sem entender a mensagem, mas tive uma sensação meio ruim. Agoniada me levantei e sai procurando mais alguma coisa que pudesse me explicar o que estava acontecendo.
Quando abri o guarda-roupas, me deparei com várias rosas em meio as roupas.
Rosas suavemente  claras e murchas, eu gelei.
Era todas iguais a da Senhora Odete. O mesmo formato, e mesma cor rosinha suave, o mesmo cheiro estranho. Eu não sabia o porque dessas rosas estarem lá, muito menos quem as colocou ali, eu me senti vigiada e encurralada. Será a senhora Odete que as mandou? Mas como!!? Ela sabe onde estou? Ou aquela mulher maluca tem algo haver com isso?!
Tantas perguntas me vieram a mente, resolvi toca-lás e percebi mais um papel entre as rosas, criei coragem e o li.
Espero que tenha gostado das rosas querida.
Com amor ODETE.
Fala sério! Essa velha maldita está  por trás disso?! Eu so peguei algumas laranjas.
Aquilo estava se tornando algo assustador e muito misterioso.

Fechei o guarda-roupas e sai de perto dele.
Trêmula me sentei em umas das camas e comecei a chorar, me abri para a tristeza.
Mas meu choro foi interrompido quando um celular começou a tocar, eu me assustei e comecei a procura-lo afim de saber quem era.
O encontrei dentro de uma cômoda perto da cama, olhei e o número era desconhecido.
Atendi e ouvi um barulho estranho de algo se partindo, curiosa falei:
- Alô.
- Fuja, ele está indo.
- Ele quem? Respondi aflita.
Mas não houve resposta! Apenas o cair da ligação, eu gelei e com fúria em meu interior arremessei o celular pela janela mas logo me arrependi, deveria ter ligado para a emergência primeiro.
Eu queria sumir dali, pra qualquer lugar se possível, mas não  havia nada que eu pudesse fazer, apenas chorar! E eu o fiz, deitei na cama e me desabei a chorar, imaginando o Jardim de rosas daquela velha maldita.

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