Fuga

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Como a chuva que molha os campos, como o sol que desaparece no horizonte eu lhe deixo todo o meu amor, mesmo que isso não lhe seja o bastante.

Ao acordar pude ouvir a voz calma e misteriosa de Aurora. Ela me olhava com desdém, segurava um livro e dele  tirava frases que recitava alto como se estivesse sozinha.

Meu estômago foi invadido por náuseas estonteantes e pude sentir calafrios por todo o meu corpo.
Sobre o chão eu estava, como se fosse uma folha qualquer de uma árvore imensa e cheia de galhos.
Minhas forças estavam se dissipando a cada frase dita por Aurora e meus lábios estavam completamentes secos.

A raiva pode consumir o ser humano, pode lhe tirar todo o desejo de ter paz. Induzindo-o a eterna escuridão, retirando do mesmo o único motivo de saborear o amor ou a felicidade.

Sentir a escuridão é algo fácil para quem já se rendeu ao desespero e no olhar daquela mulher amargurada eu  pude ver que existia tanta angústia e ódio que a escuridão havia dominado seu espírito e estava consumindo sua carne.

Amar seria tão doloroso ao ponto de derramar sangue inocente? A rejeição seria tão torturante ao ponto de trair seus aliados e se corromper com os impuros?
Sarah ter traído a nós só mostrava o quanto ninguém está a salvo da ruína.
Eu não a culpava por ter sido tão desonesta, o amor as vezes pode tirar a razão até do mais sábio e puro que possa habitar entre os homens.

- Está pensando em sua morte?
Ela disse finalizando com um sorriso torto.

Eu não respondi, apenas fechei os olhos e no pouco de força que me restava perdoei todos aqueles que haviam me feito sofrer, até mesmo Aurora que iria tirar a minha vida.

-  Te voy a destruir!
Ela disse com ódio por ser ignorada.

- Creio que eu não tenha escolha.
Suspirei e me levantei.

- Mas eu te perdoo.
Acrescentei.

- No necesito tu perdon!
Ela gritava em espanhol como se tivesse esquecido o português.

- Você necessita de luz Aurora, de amor e de paz.
Falei tentando encontrar uma maneira de viver.

Ela não disse nada, apenas ficou me encarando por um tempo, logo após abriu a porta da enorme sala cheia de luzes que estávamos.
Não havia móveis ou quadros, era uma sala sem janelas e com enormes paredes brancas.

Pude ver Nero adentrar com um semblante estanho, como se estivesse em transe.
Ele me lançou um olhar de pena, e por incrível que pareça ele estava quase se encolhendo, talvez fosse remorso ou apenas frustração.
Afinal, a Mulher que ele amava não pensava em outra coisa além de vingança e morte.

Um homem tão forte e grande estava como um animal indefeso, anceiando por salvamento.
Ele me pegou pelo braço e me arrastou para fora, antes que eu pudesse me debater ou questiona-lo por manchar o nome de nossa família ele me fez um gesto para ficar calada. Eu de imediato fiquei completamente confusa mas resolvi obedece-lo.
Aurora veio logo atrás com um olhar indecifrável e com um vestido vermelho sangue, batom escuro e sensual e um coque exuberante em sua cabeça, deixando suas madeixas louras completamente presas e extraordinárias por ter uma beleza estonteante.

- Leve-a para a sala de tortura Nero, quero destrui-la em um lugar mais apropriado.

Nero apenas assentiu e começou a me arrastar pelo corredor.
Pude perceber que o lugar que estávamos era diferente, não tinha odores fortes ou sinais de abandono e sujeira.
Supus que estaríamos em outro lugar, um lugar sutil porém limpo.

Nero por sua vez estava calado e pensativo, quando chegamos em frente à uma porta escrito algo em espanhol ele parou, olhou para os lados e por fim disse:

Aos 18Onde histórias criam vida. Descubra agora