Escolha

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A alma é algo que não podemos ver mas sentimos que ela está lá, a dor também é invisível mas sentimos seu impacto monstruoso sobre nossas cabeças cansadas e fora de si. Não desejar ver o mundo como ele realmente é, te deixa parado no tempo como se fosse proibido evoluir, mas quando se procura a verdadeira forma da existência e os motivos da verdadeira natureza humana, se descobre infinitas possibilidades de aceitar os fatos e ter autocontrole.

- Quantas ligações você recebeu desde que saímos do presídio Edgar?

- Umas cinquenta, e tudo do seu querido namorado maluco.

- Não atenda!
Implorei preocupada que eles pudessem nos alcançar.

Eu não fazia o tipo egoísta e fria mas aquilo era necessário pois eu estava cansada de tantas mentiras, de tantos conflitos e derramamento de sangue. Estava disposta a saber de tudo, ir ao fundo do poço para descobrir todos os segredos que atormentavam minha família maluca. Minha mãe estar viva me deixava imensuravelmente feliz e com esperanças de viver uma vida normal com meus pais ao meu lado em um almoço de domingo, meu amado com nosso pequeno filho no colo brincando de algo divertido, minha mãe e eu sentadas sorrindo e meu pai cozinhando algo e contando alguma história de sua juventude. Esses pensamentos de dias felizes me inundaram de uma forma intensa, eu queria muito viver algo parecido com aquilo em algum momento de minha vida, mesmo que fosse passageiro. Não pensar em morrer estava começando a surtir efeito e eu apenas queria ver minha mãe e beija-la como nunca, abraça-la como jamais havia feito, sentir seu perfume dócil e angelical e nunca mais sair de seu lado.

O outro lado de meu corpo e cérebro sentia dor e repudia, angústia e rancor, ódio e decepção. Essa mentira que eles haviam alimentado por quase dezoito anos me deixaram com o psicológico abalado e ruim, eu cresci sem mãe e pai, somente com a figura de meus tios como exemplo para viver e ser alguém, eu não tinha a quem presentear nos dias dos pais, em datas comemorativas da escola todos me olhavam com o olhar de pena e desdém. Não havia um dia sequer que eu não chorasse por ser sozinha, por ser diferente das outras crianças e por não conseguir me conectar com o mundo da forma que eu realmente desejava. Nenhuma justificativa seria suficiente para que eu perdoasse de imediato todos que esconderam a verdade sobre minha mãe, incluindo Dominik que era a pessoa que eu queria ao meu lado. O beijo que nos proporcionamos naquele dia foi uma passagem memorável de um conto de fadas americano, seu calor e sua pele ao me tocar me proporcionou uma vontade insaciável de mais calor, sua mão tocando meu corpo me deixou com borboletas no estômago, sua língua quente e macia veio de encontro a minha de uma forma tão sensual e ao mesmo tempo carinhosa. O gosto da sua boca era inesquecível e eu sabia disso, jamais eu poderia esquecer o dia em que desejei ser sua por completo, desejei sentir sua boca pelo meu corpo machucado e decadente ao menos uma vez, o desejo de tê-lo foi muito forte e impulsivo, precisei me segurar para não joga-lo na cama e fazer de seu corpo minha própria pele.

Não sabia quando o veria de novo e nem como ele reagiria depois de tê-lo ignorado ainda no presídio, mas o mais importante era encontrar minha mãe e questiona-la sobre tudo que me incomodava.

- Posso saber no que você está pensando?

Disse Edgar me tirando de meus pensamentos turbulentos.

- Ah, eu estou pensando na minha mãe Edgar. Respondi tristonha.

- Se vale de consolo, eu sempre disse a eles que você merecia saber de toda a verdade, e que não era justo depois de tudo que você passou eles continuarem escondendo isso de você.

- Ah, eu não esperava por essa Edgar, de qualquer forma eu te agradeço.

Edgar sendo compreensivo e amigável era muito inesperado, mas de uma coisa eu tinha certeza ele era uma boa pessoa, pois sem pensar duas vezes me ajudou e está indo contra as regras do meu pai só para me levar até a minha mãe. Uma atitude dessa é de se admirar e de agradecer de olhos fechados, e por mais que ele fosse tolo as vezes eu queria muito ser sua amiga.

Aos 18Onde histórias criam vida. Descubra agora