Procurada

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Chorar não aliviava praticamente nada, eu não conseguia mais sentir meus pés. Me levantei e olhei pela enorme janela, o sol brilhava intensamente. Já fazia um dia que eu estava fora de casa, a saudade dos meus tios e do meu quarto bateu.
Me lembrei que precisava de um banho bem demorado, estava fedendo a mofo. Me levantei e fui em direção ao banheiro, sem me preocupar se havia roupas ou não. Nossa que maravilha, o banheiro era perfeito, revestido em uma cerâmica branca parecida com porcelana, uma pia que mais parecia uma banheira de tão grande. Um lustre azulado com decorações elegantes.A parede bege com detalhes de pequenas flores amarelas. Poxa! Uma banheira enorme ao lado, com vários aromas ao seu redor, com torneirinhas prata, reluzentes.
Eu virei os olhos, isso era ótimo, mas ao mesmo tempo assustador, sequestradores não levam reféns á hotéis luxuosos.
Após tomar um banho incrível, procurei pelo banheiro toalhas para me enxugar. Encontrei quatro roupões super confortáveis e várias toalhas em uma cômoda perto da pia. Arrumei a bagunça que eu havia feito, e me enxuguei devagar e suavemente.
Ouvi um barulho na porta e logo sai do banheiro. Lá estava ela, com o mesmo semblante. Carregava duas sacolas grandes, seu rosto parecia cansado, fios de cabelos caindo sobre os olhos, mesma roupa de quando a vi pela primeira vez.
- Tomou banho pelo visto.
Disse ela sentando-se na cama e largando as sacolas.
- Sim, o banheiro é  incrível. Eu disse tentando ser gentil.
Mas no mesmo instante eu mudei minha reação. Oras, ela era minha sequestradora e não minha amiga.
- Há comida e roupas nessas sacolas, coma e vista-se.
Abri a sacola. Estranhamente parecia o meu número de roupa. Como ela poderia saber?! Suspirei e voltei ao banheiro para me vestir. Era uma calça preta bem justa, roupas íntimas do meu tamanho, bizarro. Uma blusinha branca com detalhes vermelhos e por fim um tênis preto. Me vesti e sai do banheiro entediada. Em seguida ela entrou e bateu a porta, parecendo ir tomar banho.
Sentei sobre a cama e pensei onde estariam os cartazes de desaparecida que meus tios com certeza haviam feito. Sorri rapidamente e me lembrei da comida. Nossa! Eu estava com tanta fome que poderia comer um boi.
Abri as sacolas e me assustei novamente. Havia tortas e sanduíches de frango. Dois refrigerantes de limão e um bolo de chocolate com amêndoas. Como ela poderia saber minha refeição predileta?! Toda via eu estava com fome e não iria rejeitar comida.

Comecei a comer, enquanto ela tomava o banho.
Após terminar a refeição me levantei e fui para a sacada do quarto. Observei aquela cidade desconhecida por mim, não sabia que horas era, aonde eu estava, ou se iria voltar para casa.
Suspirei lentamente e ouvi uma voz me chamar.
- Jully?
- Oi, estou aqui na sacada. Respondi tediosa.
- Vi que comeu. Está satisfeita?
- Sim. Como sabia?
- Sabia o que?
- Minha comida predileta!
- Eu apenas sei. Ela respondeu com um ar superior.
Ela me irritava com esses enigmas estranhos. Vi que tinha tirado o casaco do blade caçador de vampiros, acabei sorrindo sem perceber. Ela usava uma calça preta parecida com a minha. Uma camiseta preta com uma jaqueta jeans. Seu cabelo estava molhado e caía sobre seus olhos azuis.
Me lembrei que não a vi comer.
- Não está com fome?
- Não. Ela foi direta.
- Você é um robô? Perguntei perplexa.
- Não.
- Qual o seu nome?
- Não há necessidade de você saber.
É o que? Que mulherzinha fria em. Pensei.
- Uau, você  tem um humor bem esquisito.
Ela nao respondeu apenas virou as costas para mim e saiu pela porta, batendo-a bem forte.
Deitei-me na cama e sem perceber adormeci.
Acordei com uma saudade enorme de São Paulo e de meus tios. O sol batia em meu rosto pelo fato da cama em que eu dormia ser ao lado da janela.
Olhei para o quarto e não vi ninguém, ainda estava sozinha. Vi várias revistas em uma mesinha meio escondida perto da cama. Resolvi folhear. Quando fui pega-lás eu vi, em cima da cômoda, um celular. Só poderia ser o da mulher. Peguei-o com a esperança de poder ligar para a polícia. Mas a porta abriu-se e ela entrou com um olhar curioso, me viu com o celular e veio rapidamente em minha direção, tirando-o de minha mão e guardando-o no bolso.
Pensei, "ferrou!"
Ela me encarou por uns segundos e disse:
- Vamos.
- Para onde?
- Sei que você está confusa, mas em breve tudo irá se esclarecer. Ela disse com um olhar piedoso.
Eu baixei a cabeça e não respondi.
- Ares.
- Como? Respondi confusa.
- Meu nome é Ares.
Eu sorri.
- Nome bonito.
Ela suspirou e começou a andar em direção a porta. Eu a segui rapidamente.
- Ei espera! Tenho mais uma pergunta.
Eu disse com receio de ser ignorada.
- Diga
- Em que cidade estamos?
- Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Eu abri a boca e fiquei parada olhando para ela, sem nenhuma reação. Eu estava muito longe de casa, e não sabia o porque.
Sair de São Paulo de uma hora para outra não era normal para mim.
Estava tudo embaraçado em minha mente. Sequestradores, rosas, Odete e Porto Alegre.
Eu não sabia mais em que pensar.
Quando notei, Ares já estava próxima ao elevador, eu corri para alcança-la. Vi tudo sendo deixado para trás,  o luxo e o conforto, foi tudo para o ralo quando senti o elevador fechar as portas.

O elevador foi descendo enquanto o silêncio reinava entre nós.
Tudo foi interrompido quando as portas se abriram e um homem entrou no elevador bruscamente, empurrando Ares contra a parede.
Ele era forte, pele escura completamente sedosa, alto e parecia ser um lutador de MMA. Eu me afastei assustada enquanto ele a apertava e sorria.
- Ora Ora, eu sabia que não demoraria para nos encontrar! Ele disse alto e claro.
- Digo o mesmo Nero Stark. Ares  disse ofegante.
Ele me olhou curioso e soltou ela no mesmo instante, vindo em minha direção. Ela se colocou em minha frente em uma velocidade impressionante.
- Deixe-me adivinhar, você está aqui a serviço?!
Ares disse sorrindo torto.
- Sim, ela é o meu trabalho.
Ele disse apontando o dedo em minha direção.
Eu o encarei com medo do que ele poderia fazer com nós duas. Nesse momento me lembrei dos dois caras que se separaram da gente. Eles deveriam estar lá para nos proteger.

Como um cachorro ele foi para cima de Ares jogando-a no chão, e subindo encima dela, começou a enforca-la mas ela contornou a situação envolvendo suas pernas no pescoço dele e o puxando para trás. Eu apenas assisti, não conseguia mover um braço, estava em estado de pânico. Ares subiu encima dele e começou soca-lo fortemente. Eu fiquei admirada com a força daquela mulher, com certeza eu não ia querer lutar com ela.
Ela o batia tão rapidamente que podia ver sangue jorrar de seu nariz. Ele tentou tira-lá de cima dele, mas ela o bloqueou lindamente.
Vaaaaaai Ares! Pensei aflita.
Eu não sabia quem era do bem entre os dois, mas meus instintos diziam que Ares estava tentando me proteger.
O tal Nero derrepente conseguiu enfiar a mão no bolso e retirar uma arma.
Ares parou de soca-lo e se levantou, pois Nero apontava a arma em sua direção.
Ele limpou a boca ensanguentada com a outra mão e disse:
- Mãos para o alto sua Vadia.
Ares levantou as mãos lentamente.

Ele olhou para mim e começou a dizer:
- E você, você vem...
Ares subitamente levantou sua perna e deu um chute forte na mão que estava a arma, fazendo-a cair sobre o chão. Rápidamente o homem se abaixou para pega-lá, mas Ares puxou-a para perto de sí com o pé.
Nero novamente tentou pegar a arma, mas Ares foi mais rápida. Pegou a arma e apontou para ele. Ela sorriu alto, com expressão de Vitória.
- Você não está tão ótimo como antes Nero!
Ela afirmou sorrindo.
- E você  não é tão perigosa, abaixe essa arma e vamos conversar.
Ele disse parecendo temer que ela atirasse.
- Eu não sou uma mulher de acordos Nero.
Ares disse batendo o pé  no chão.
Eu estava intrigada como o elevador ainda não havia aberto as portas. Até que percebi quem Nero havia travado a porta com algo que não me permiti ver claramente.
Ares sem mais delongas perguntou:
- Quem te mandou? Para quem está trabalhando??!
Nero não respondeu. E Ares repetiu a pergunta furiosamente.
- Por que eu diria isso a você? 
Nero disse sorrindo
- Porque eu estou apontando uma arma para a sua cabeça imbecil!
- Minha missão é leva-lá! Nero disse.
- A minha é protegê-lá Ares gritou furiosa.
Eu não estava entendendo nada.
-Ares oque está acontecendo? Perguntei aflita
- Jully se afaste dele!!!
Ela respondeu batendo os pés no chão.
Eu me afastei, mas continuei encarando ele. Aquele olhar maléfico que ele tinha me dava náuseas.
Ares aproximou-se dele, chutando fortemente suas partes genitais. Ele gritou de dor e caiu de joelhos. Ainda assim ele disse em um tom calmo.
- Não sei como ele conseguiu te esconder por tanto tempo Jully.
Eu não havia compreendido, ia perguntar a ele quem?! Quem é  esse tal "ele". Mas Ares lhe deu uma pancada forte na cabeça fazendo-o desmaiar e cair bruscamente no chão.
Eu suspirei, escorando-me na parede do elevador. Quando pisquei Ares havia efetuado dois disparos. Achei que ela havia baleado o homem, mas ela havia atirado nas câmeras de segurança do elevador. Eu pisquei várias vezes enquanto pensava no que diria a ela.
- Ares você está bem?
Perguntei preocupada.
- Sim.
Ela respondeu ofegante.
- Ares quem é esse homem? O que ele quer comigo?
- Logo você saberá.
- Mas Ares eu quero saber agora! Exclamei trêmula.
Ela me olhou e não respondeu.
Eu já estava acostumada a ser ignorada por ela.

Minha sequestradora não tão ameaçadora naquele momento abaixou-se verificando os bolsos do tal Nero que estava no chão.
Após alguns segundos ela se levantou, com uma foto em mãos. Me aproximei dela para poder ver quem estava na foto.
Cabelos longos e castanhos, vestido colorido e um bolo meio desajeitado, era no meu aniversário de 17 anos.
Quando Ares olhou o verso da foto havia uma mensagem confusa.
Aos 18 acabaremos com ele.

Aos 18Onde histórias criam vida. Descubra agora