Quebra-cabeças

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Ler era tranquilizador, mas no estado em que eu estava parecia tão impossível me concentrar nas letras e palavras, nenhum parágrafo do livro roubava minha atenção como antes. Eu estava cansada, dolorida e sem nenhum ânimo, nunca havia me cansado de ler aquele livro, mas eu realmente estava sem vontade. Aquela cela, suja e úmida me dava náuseas constantes e isso me fez desisti de ler. Eu via que seria em vão tentar me concentrar na história.

Me virei na cama tentando arranjar uma posição menos dolorosa. Talvez já fosse noite, pois a hora passa tão lentamente quando se está preso.
A agonia de não poder respirar um ar puro e sentir o vento em meus olhos me deixava irritada. Eu só queria poder celebrar mais um aniversário estranhamente solitário.

Durante todos esses anos eu sempre me senti mal por não ter meus pais do meu lado em um dia tão importante, que se não fosse por eles nem existiria.
Eu estava rodeadas de pessoas, meus tios também tentavam fazer um papel similar ao de meus progenitores  mas eu sentia que faltava algo para completar o meu dia.
Bem que tia Carla dizia que os dezoito era um dos anos mais complicados para os adolescentes e eu agora entendi mais ou menos o termo "complicado".
Talvez eu não tivesse aproveitado  corretamente minha adolescência ou do jeito que eu desejava, eu nem mesmo sentia a vontade de viver que emanava de todos.
Eu sempre estava apta a fazer o que as pessoas queriam e isso me deixava sem escolha de um determinado objetivo de vida.

Pensar as vezes me deixava mais atordoada e ao mesmo tempo calma, eu não sabia ao certo.
Mas pensar em tudo que houve comigo desde o primeiro dia que vi Ares e Edgar, me fazia questionar os mistérios ao redor de todos nós.
Meu pai era um bandido! Certo isso eu e você já sabemos, Ares escondia algo em seu olhar mas eu não conseguia pensar o que seria. A história dela e do meu pai estava muito mal contada, como uma policial se apaixonou por um bandido?!. Ela e Dominik eram irmãos  e isso também não fazia sentido algum. Edgar parecia saber algo relacionado a Sara e Dominik, seria uma rivalidade? Ou um romance?
Pensar em Romance vindo deles me dava nos nervos, então preferi não  pensar mais naquilo.
Não  me esquecendo do mistério entre Ares e Nero, ele sabia algo dela! Mas o que? Eu teria que questionar o próprio Nero? Pensei confusa.
Aquele bilhete não saia da minha mente, como assim Aos 18 acabaremos ele? Qual o sentido disso juntamente com uma foto do meu aniversário?! O mais estranho era aquele quadro, o que uma pintura de uma mulher tão má e odiada pelo meu pai estava fazendo na casa dele? Isso era realmente sem lógica.
Droga! Tantas peças embaraçosas para um só quebra-cabeça.
Sinceramente eu estava perdida em meio a tanto segredo, sentia que quando eu esclarecesse minhas dúvidas o mundo estaria mais adequado para se habitar.

Mesmo sendo agonizante eu queria olhar nos olhos daquela tal Aurora e perguntar quem ela era e por que estava me mantendo presa. Talvez ela respondesse, mas acho bem provável que não.

O sono foi chegando de leve me fazendo bocejar, estava com medo de dormir, medo de ser queimada viva ou levar um tiro silencioso. Esfreguei os olhos e tentei não  adormecer mas antes mesmo que eu pudesse pegar no sono a porta da cela se abriu. Devagar, eu me levantei para ficar cara a cara com Nero, que estava com uma toalha e roupas em suas mãos.
Eu não era muito de falar com inimigos então peguei tudo de sua mão e o segui.
O corredor era o mesmo de sempre, silencioso e assustador, acho que minha tia sentiria caláfrios só de olhar para ele.

Nero me conduzia sem dizer uma palavra sequer, eu queria pergunta-lo tantas coisas, mas tinha medo de quaisquer reações.
"Alguém  me salve"
Eu queria gritar bem alto, mas tinha certeza de que ninguém que se importasse poderia me ouvir e vir me salvar.

Chegando no fim do corredor Nero se virou para a direita rapidamente.
Estava um pouco difícil acompanha-lo porque eu estava mancando e sentindo dores.
Após alguns minutos chegamos a uma porta de madeira amarela bem reluzente no fim do corredor, Nero fez um sinal com a cabeça para que eu entrasse no local.
Abri a porta devagar fazendo o mal cheiro invadir o corredor que me fez
fazer uma careta de reprovação, no mesmo instante olhei para Nero com um semblante negativo.

Aos 18Onde histórias criam vida. Descubra agora