Aos 18

Mancha Negra

"Andaria no caminho certo se lhe fosse dito a qual seguir, seria fácil conseguir identificar a melhor decisão a ser tomada se fosse lhe dada decisões fáceis e não caminhos conturbados."

" Querida não se vá, não arranque de nós os sentimentos que ainda há.
Querida não se vá.
Ainda dói pensar que as flores que lhe foram concedida estão em um canto qualquer, esquecidas. Sem cores ou brilho.
As flores do meu equilíbrio.
Onde eu jamais poderei prosperar.
Querida não se vá."

*Narrador.

- Livros de romance me deixam com sono.

- Tudo te deixa com sono Senhora.

- Verdade Nicolai! Estou com fome agora. 

Disse a linda mulher que lia tranquilamente, sentada em uma poltrona aconchegante que era revestida de desenhos medievais.

O homem careca e de meia idade, segurava uma bandeja com uma xícara de chá que saía fumaça sem parar, estatura reta e sem expressão facial ele olhava para sua patroa enquanto endireitava seus óculos antiquados  e de formato elíptico.
Seu nome era Nicolai Rodriguez e ele era uma espécie de mordomo confidente de sua linda e admirável patroa, ele sabia de seus desejos, sonhos, suas paranoias e até mesmo seus mais obscuros pesadelos. Ela confiava completamente nele, o via como um irmão mais velho e um amigo, que de certa forma estava sendo pago para estar ali ouvindo seus desabafos.

- Não acha que as vezes os livros de romance são tediosos Nicolai?

- Não sei se tenho a resposta para sua pergunta Senhora, eu não costumo ler.

- Entendo. - Eu acho bastante tedioso quando o amor sempre vence no final.

- A Senhora discorda desse fato?

- Sim!
A mulher respondeu sendo bem direta.

Nicolai não teve interesse de perguntar o motivo pelo qual ela pensava daquela maneira, apenas assentiu com os olhos.

- Deseja mais alguma coisa Senhora?

- Sim, escute esse trecho, isso prova o que eu te disse anteriormente.

" Na lareira alheia queima minha lenha.
Minha lenha estava verde, a fumaça provoca tantos pesadelos, não seria prudente uma fumaça tão verde.
Mostre aos pardos a dor dos escuros.
Mostre ao fogo a textura do amor enganado.
É épico, estonteante, frustrante e motivador. Ela preferiu o espinho, que lhe assombrava em noites longas, que lhe contava contos de terror.
Em suas mãos não mais estavam contos sobre a camélia que chorava sangue, e sim sobre como é  bom não sentir o amor.
Mas se lhes agrada o amor mútuo e o extremo romance, leia a página 15 desse livro em diante, onde mostra que o tédio é amigo da paixão."

Após ler em voz alta e suave o trecho do livro, a mulher sorriu para o mordomo que ainda continuava sem expressões.

- Não coincide com o que eu lhe disse a poucos instantes Nicolai?

- Sim, Senhora!

- Eu mesma já não sinto mais o amor e você sabe o porque não é mesmo?

- Sim, sei Senhora.

- Está bem! Chega de rodopios, mande preparar o jantar, quero algas com peixe sueco esta noite. - E, mande também preparar rabanetes ao molho branco, estou com o apetite ardendo hoje.

- Como quiser Senhora! - Qual bebida sugere Senhora?

- Um vinho branco do Leste de San Petersburg!

- A sim! - Ótima escolha Senhora!