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O diabo dirigia seu Corvette preto, como a escuridão dos seus olhos quando os queria deixar a mostra. As avenidas de Los Angeles lhe pareciam como as ruas vazias em seus momentos de diversão ao apostar corridas ilegais. Entretanto, só pareciam... pois ela desviava dos carros como se jogasse em um vídeo game. Em alta velocidade, e pouca empatia pelos humanos.

Seu olhar modesto caiu sobre a garota, assim que desceu do carro e adentrou o terceiro andar do restaurante. Naquele momento o diabo pode esquecer qualquer provocação vinda dos celestiais. Recebida com um beijo simples no rosto, posicionou-se sentando-se de frente para a garota. Reparou o estilo magnificamente colossal da loira, ela possuía mais que bom gosto.

Ainda em silêncio, permaneceram. Ao decorrer do tempo em que o garçom passou, servindo ambas as taças com um vinho tinto italiano, a loira podia sentir seu corpo estremecer a cada milímetro percorrido com o olhar da infernal, que evidentemente não sentia nenhuma vergonha em acompanhar todas as curvas visíveis, enquanto sua boca salivava por elas.

-Ohana: Sempre com esse olhar obsceno... - mencionou antes de erguer a taça e levá-la até os lábios.

-Anitta: Com todo respeito... você é uma tremenda gostosa. - disse sem pudor algum, envergonhando a loira.

Maldita Lúcifer sem escrúpulos.

Lúcifer sorriu lateralmente, desviando o olhar para a taça, qual deslisava o dedo pela borda, entretendo-se.

-Ohana: Isso me soaria bem... se eu não soubesse que comeu "metade" da população de Los Angeles. - a advogada proferiu, chamando a atenção da infernal.

-Anitta: Vejo que estudou sobre minha vida pessoal... interessante. - comentou, ao encara-la. - Mas você não é tão fácil assim, não é?

-Ohana: Nenhum pouco... - soou convicta, e no mesmo segundo Larissa sentiu a sinceridade.

-Anitta: Veremos... - argumentou despreocupada, entretanto desafiada. - Custe o tempo que custar... eu tenho a eternidade.

-Ohana: Garanto-lhe que sua espera será inútil. - respondeu em pura provocação.

A morena apenas sorriu, sem pudor algum. Aquilo era desafiador, e o diabo adorava desafios.

-Anitta: Eu farei você gemer no meu ouvido... - "ou não me chamo Lúcifer" completou mentalmente. - Guarde na sua memória.

A rainha do inferno não tinha pressa... viveu milhares de anos, já nem relembrava a própria idade. Tinha a eternidade a seu dispor... e ainda destroçaria aquele coraçãozinho lindo. Mas não tão rápido... desfrutaria dos desejos mais puros vindos dele, até que o julgasse inútil e por fim o quebrasse em inúmeros pedacinhos.

-Ohana: Eu quero vê-la tentar... - soou provocadora e a infernal riu internamente, de toda sua genuinidade que lhe aparentava tão idiota.

Não poderia estar desafiando o próprio diabo, não é? Ohana havia se negado de todas as formas, por todos esses anos, deixar que alguém adentrasse sua vida e seus sentimentos além de Alex. E desde que ele havia quebrado-a, prometeu a si mesmo que ninguém mais a machucaria.

Lúcifer não tinha persuasão ou interferência nas decisões da jovem loira. A pureza de Ohana pedia pelo seu corrompimento, atraindo severamente o diabo. Larissa não conseguia se afastar, tinha ânsia de destruição. Em toda a eternidade, Lúcifer nunca havia se sentido em tamanha tentação, como se sentia agora, ao evidenciar e poder estar tão perto de um desejo oculto e tão curioso.

Ohana era tão insegura com seu corpo, incapaz de mostrá-lo nu a qualquer outro alguém... mas Lúcifer já mentalizava uma solução para aquilo. Mesmo que a loira não desconfiasse do seu conhecimento sobre a pauta.

A advogada observou a dona da boate respirar fundo e inibir um sorriso fraco. Encostar-se de forma sútil ao estofado da cadeira e encara-la com devoção. Aguardaram entre conversas formais e banais, e por fim jantaram com civilidade e sem mais flertes. Ao fim, beberam entre olhares uma última taça de vinho tinto, e então caminharam para a área externa lado a lado.

-Anitta: Posso levar você em casa? - questionou paciente. - Já é noite, seria perigoso andar por aí sozinha. - mencionou sincera, sem outras intenções.

-Ohana: Eu adoraria, claro! Mas, não... - respondeu rapidamente, baixo. - Digamos que eu tenha um pai conservador e retrógrado. Seria demais pra ele me ver chegando em casa com a companhia de uma mulher. Tomás é um tanto quanto... preconceituoso.

A garota permanecia de frente para a morena, que encarava-a paciente e compreensível.

-Anitta: Posso deixar você uma esquina antes, e esperar que entre em casa. Ele não irá me notar, prometo. - sugeriu, deixando a loira reflexiva. - Não causarei problemas.

"Sempre leve a garota em casa, pode custar 30 minutos da sua vida. Mas pode salvar a dela. - sussurrou Lúcifer ao ouvido de Dafne."

-Ohana: Mesmo? - questionou baixo, e Larissa assentiu.

A infernal guiou a loira até o carro, e após adentrarem rapidamente ligou o veículo. Apertou um botão e rapidamente o teto do Corvette foi fechado, Ohana permaneceu silenciosa assim como Larissa. Que evidentemente mantinha atenção na estrada, qual desta vez dirigia com calmaria. Já que a garota ao seu lado não era imortal, como ela.

(...)

Assim como prometido, a morena estacionou uma esquina antes. Com os vidros ainda fechados, permaneceram juntas por alguns minutos, em tremendo silêncio.

-Anitta: Sente medo dele? - questionou enquanto de longe podiam observar o ex marido da loira entrar em seu carro e sequencialmente sair. Aparentemente chateado.

-Ohana: Não... - balburdiou e Lúcifer soube que era mentira.

-Anitta: Eu sei quando está mentindo. - a interrompeu.

-Ohana: Tá... - respirou fundo, deixando seu corpo relaxar sobre o assento, repousando a mão sobre o estofado. - Eu sinto, as vezes. Quando ele está muito próximo.

Lúcifer engoliu em seco e baixou a cabeça, evitando olhar a garota que evidentemente se sentia desconfortável. Mas, que dizia aquilo em desabafo.

-Ohana: Eu conheci você a dois dias e não sei o porque de me sentir confortável pra contar isso... - ela disse baixo. - Mas as vezes me acho patética por ser advogada e não saber interferir quando estou em meu direito.

A morena ergueu o olhar, sem vaidade ou desejo. Apenas empatia... o que não entendia ainda. Era confuso...

-Anitta: Ele... já tocou em você? - questionou baixo, Ohana intimidava a demoníaca com toda sua genuinidade, e ela se sentia na obrigação de ser gentil.

-Ohana: Não... nunca! - respondeu rapidamente. - Não que não tenha tentado, óbvio. Me sinto desconfortável com a presença dele, e a normalidade que meu pai em específico o trata. É como se quisesse impô-lo de todas as formas em minha vida.

-Anitta: E você não o quer... - sussurrou em compreensão, recebendo um aceno positivo da garota.

Lúcifer foi piedosa aquela noite, entre tantos anos oportunos qual negou-se a caridade. Foi impossível inibir seu desejo em segurar a mão delicada da loira, e dizer que tudo ficaria bem.

-Ohana: Preciso ir... - a garota disse desconcertada após Lúcifer separar sua mão da dela.

-Anitta: Ok, tudo bem. - consentiu
em tremenda paciência.

Ohana sorriu fraco, com os olhinhos brilhando como nunca.

-Anitta: Não tenha medo... - informou paciente, antes que a loira deixasse um beijo fraco em sua bochecha e descesse do carro em seguida.

Aquela última ação, surpreendeu a rainha do inferno. Os humanos eram tão sentimentais e "melosos".

Desejo Pecaminoso - OhanittaOnde histórias criam vida. Descubra agora