PRÓLOGO.

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NEW YORK,
SEQUESTRO DE CARINA.

Abracei Alessa por um longo momento, tentando acalma-la. O consigliere da Bratva havia dado duas escolhas à nossa irmã mais velha, e nenhuma das duas era minimamente boa. Estupro ou morte. Obviamente, Carina escolheu a segunda opção, e Thomaz tomou uma decisão improvável, pediu para que trocassem minha irmã por ele. Mamãe havia dito que ele tinha feito isso porque a culpa de ter perdido minha irmã era grande demais, mas ela deveria saber melhor. Homens como Thomaz não sentiam culpa, homens como Thomaz não se trocavam por suas esposas. Ele a amava, só não sabia disso ainda. Talvez nem Carina soubesse.

Por fim, quando descobri que a Cosa Nostra ia se aliar a Camorra, a máfia com sede em Las Vegas, onde minha irmã estava sendo mantida, pensei por um momento que estivesse errada sobre o amor do Capo por minha irmã, mas quando vi seus olhos, o desespero inconfundível em suas íris, soube que estava certa. Ele a amava, e talvez nem soubesse.

- Preciso de sua ajuda. - O Capo Dei Capi disse olhando em minha direção. Olhei sobre o ombro para ver se tinha alguém atrás de mim, afinal, porque diabos Thomaz Rizzi precisaria de minha ajuda?

- Thomaz... Por favor. - Meu pediu. Era a primeira vez que o via usar essa palavra com tamanha seriedade. Meu pai não pedia por favor.

- O que está acontecendo? - Alessa perguntou ao meu lado e apertou minha mão com força. - Carina está morta?

Thomaz tentou esconder, mas as palavras de minha irmã o fizeram estremecer visivelmente.

- Não. O Capo da Camorra irá me ajudar a atacar a Bratva durante a troca. - Era um mal sinal que Thomaz estivesse falando sobre os negócios comigo e minha irmã presentes. - Para que isso fosse possível, entramos numa trégua. Uma aliança entre nossas famílias. As mulheres solteiras mais importantes na família são vocês duas e Cinzia. Mas pela idade, sua irmã mais nova está fora de questão.

Alessa não parecia compreender o que ele estava dizendo, mas meu cérebro foi rápido em entender suas palavras. Mulheres solteiras e importantes; mulheres que poderiam ser dadas a um Capo em casamento. Alessia olhou em minha direção, olhos arregalados. Por anos de convivência, por conhecê-la, eu sabia que minha gêmea tinha entendido, só não queria acreditar. Ela ou eu. Não. Ela não. Alessa não tinha filtros em suas palavras, falava o que tinha em mente, nunca pensava antes de dizer algo. Não. Um Capo quebraria o pescoço dela.

- Eu irei me casar com ele. - Disse por fim. O alívio de Thomaz foi visível.

- Não. - Alessa exclamou ao meu lado. - Papai prometeu que nós não precisaríamos casar por política após Carina se casar com Thomaz, afinal, não havia nenhuma maneira de nossa família subir mais de posição quando a filha do Consigliere se casasse com o Capo.

Papai curvou os ombros, tristeza no olhar. Com seus cabelos vermelhos e olhos verdes, ele me lembrava Carina. Carina que poderia estar sendo torturada nesse momento.

- Nossa irmã está sendo mantida em cativeiro, Alessa. Pode estar sendo torturada, estuprada, quebrada. - Utilizei um tom duro que odiava usar com minha irmã gêmea. Seus olhos azuis como os meus estavam fixos em meu rosto, arregalados e cheios de medo. - Se me casar com o Capo da Camorra é a salvação dela, eu não hesitarei.

- Eu juro pela Cosa Nostra que se você for machucada por eles, entrarei em Las Vegas e lhe tirarei de lá, Alessia. - Thomaz disse com intensidade e eu assenti. Iria mesmo que ele não prometesse me salvar, iria mesmo sabendo que as chances dele fazer isso eram poucas. Por minha irmã, eu faria qualquer coisa.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Alessa e eu a abracei apertado. Casar com o Capo da Camorra não significava somente me tornar esposa, significava morar em outra cidade, longe de minha alma gêmea. E nós duas sabíamos disso.

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NEW YORK,
DOIS ANOS DEPOIS:

O medo me despertou naquela manhã e persistiu em meu peito durante todo o dia. Diferentemente de Alessa, eu nunca gostara de comemorar aniversários, era um lembrete anual de que não existiam mais trigêmeas na família, de que não precisávamos mais de três bolos, porque uma de nós estava morta. O começo do dia foi igual ao do ano passado, acordei antes de todos e fui ao cemitério com um de meus guardas, coloquei flores no túmulo de Alestra e lhe desejei feliz aniversário. No entanto, o restante do dia fora caótico. Hoje não era somente nosso aniversário, era o dia em que eu conheceria o Capo da Camorra, meu futuro marido.

Nico Parisi, o homem cruel que comandava Las Vegas e mais com mãos de ferro. Nos últimos dois anos, ele se tornou tão perigoso quanto Thomaz, e está conquistando tantos territórios quanto a Cosa Nostra; mesmo que até então os Rizzi fossem mais poderosos, Nico estava chegando perto. Se eu parasse para analisar a situação logicamente, deveria estar feliz. Eu poderia ter me casado com um soldado que não me traria nenhum status, mas me casaria com um Capo. Sempre fui a princesa da máfia e pensei que minha irmã seria a única a se transformar em rainha, mas agora, eu também teria um rei. Eu deveria estar feliz.

Mas não estava.

- Você está linda. - Alessa comentou ao entrar no quarto. Sempre nos vestimos iguais, em cores ou em modelos de roupas, mas naquela noite, minha mãe tinha advertido que precisávamos parecer diferentes. Enquanto eu vestia um longo vestido vermelho de mangas longas, feito de seda e renda, minha irmã trajava um belo vestido sereia, rosa claro. Ela estava linda, claro, mas parecia inocente e gentil, coisa que nunca gostou de parecer. Já eu, parecia uma esposa.

- Você está maravilhosa. - Eu elogiei dando um beijo em seu rosto. Alessa sorriu, mas não havia brilho em seus olhos.

- Como você acha que Nico Parisi é? - Alessa perguntou com cuidado.

Não sabia dizer. Não havia nenhuma foto dele na internet, nada. Tudo que eu sabia sobre ele era o que os soldados murmuravam, mas não era nada sobre sua aparência, apenas sobre o quão brutal e sanguinário ele podia ser.

- Vamos descobrir. - Falei quando vi o relógio bater oito horas em ponto. Minha irmã me abraçou apertado antes de sairmos do quarto.

Enquanto caminhava ao lado de Alessa, fiquei feliz por pelo menos ter tido a sorte de fazer dezoito anos antes de me casar com Nico. Nesses últimos dois anos, amadureci mais do que minha irmã ou amigas de escola. Sabia do meu dever, do que era esperado de mim, e passei todo meu tempo aperfeiçoando minhas habilidades de música, canto, idiomas e história de Las Vegas, tudo que era público, tudo que se encontrava num livro, eu sabia de cor. Não ousava acreditar que pudesse ter um casamento feliz, mas também não me permitia sentir medo. Não era mais uma criança, eu era uma adulta, e faria de tudo para provar isso. Ao descer as escadas com minha irmã ao meu lado, com Thomaz e papai esperando por nós, ajeitei minha postura e assumi uma expressão séria, diferente de Alessa que sorria.

Eu era uma mulher adulta, uma princesa da Cosa Nostra, e eu faria Nico Parisi me respeitar, mesmo que meu coração errasse uma batida ao colocar meus olhos sobre ela pela primeira vez. Todas as mulheres da máfia sentiam medo ao se casar, mas o medo não veio para mim. Eu estava destruída há muitos anos, Nico não teria mais nada para quebrar.

Eu não tinha mais nada a perder.

INCÊNDIO - SAGA INEVITÁVEL: LIVRO 2. | CONCLUÍDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora